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Coluna

A Pergunta Certa

25 fevereiro 2023 - 13h10

O brasileiro é um povo tão intenso quanto efêmero nas suas atitudes. Basta acessar qualquer site de notícia, mídias convencionais e redes sociais para notar a enxurrada de denúncias, matérias, provocações, revelações, posicionamentos e comentários acerca das mais variadas modalidades de malfeitos. Entretanto, basta um piscar de olhos para que a indignação e o espanto coletivos se percam nas brumas dos memes, das notícias sobre a chegada de um evento, de um artista famoso ou da vitória do time favorito no campeonato tão importante.

Os maus políticos são como aquele personagem dos quadrinhos (agora também do cinema) que manipula o tempo e se utiliza da barganha como instrumento. Eles sabem que a impunidade é questão de tempo, preço e articulação. Pode ser realmente que o país esteja mudando de verdade. Pode ser que vejamos os maus políticos falharem em suas apostas na efemeridade da memória coletiva. Talvez consigamos viver tempos em que o dinheiro e o poder não serão mais capazes de produzir dinastias e organizações criminosas eleitorais.

Mas essa mudança que tanto incomoda os maus políticos tem partido de uma pergunta fundamental: Se você tivesse a oportunidade de garantir poder e muito dinheiro para você, sua família e um grupo próximo de amigos e com a capacidade de fazer isso durar bastante tempo, você o faria? Antes de responder, cabe acrescentar: Muito dinheiro significa comprar todo o luxo e o conforto de uma vida milionária, comprar a impunidade que fará com que tudo isso se mantenha, comprar pessoas, comprar sexo, comprar o que você quiser. E isso com o poder de montar um séquito de dependentes com os quais você poderá manobrar à vontade, pois a sobrevivência fará deles um corpo dócil de soldados mercenários. Você, com tudo isso nas mãos, o faria?

Durante muito tempo as pessoas têm respondido sim a essa pergunta. Tanto os eleitos quanto os eleitores. Os eleitos pela certeza até então da impunidade, e os eleitores pelo sonho de uma oportunidade de viver, pelo menos, um pouco como seus eleitos. Entretanto, algumas pessoas têm respondido não. E não estou me referindo às oposições políticas, pois o que as diferem muitas vezes da situação é a mera falta de oportunidade de fazer o mesmo. É surrado o discurso de que o erro do meu político é justificável, e o do meu adversário, não. Falo dos que têm produzido denúncias, apurações, resoluções e exemplos de combate a tudo o que vem sangrando nossa sociedade.

Não estamos passando dificuldades em nossa pátria apenas por questões macroeconômicas. Passamos porque nossas opções estão incorretas. Mas enquanto a diferença entre nós e um político corrupto for o poder ou o mandato, pouco poderá ser produzido. De nada adiantará tanta indignação se nas eleições do próximo ano dermos o nosso sim para os que farão de tudo para que nada mude.

Mas a política não é um vale de lágrimas absoluto. Existe muita gente boa, honesta e preparada. Com vontade genuína de realizar em prol do coletivo. Só não se dá oportunidade e nem espaço para elas. São as pessoas que também respondem não, e nós precisamos ter a inteligência de perceber que elas são o presente e o futuro. Elas não podem comprar votos ou posições, não são “bem cotadas” pelo olhar do jogo viciado da politicagem, só que é delas que mais precisamos no momento.