Cabo Frio deu um importante passo na luta contra a demolição da Casa dos Gago, um imóvel histórico e centenário, construído em estilo chalé normando às margens do Canal do Itajuru, no Portinho, e que pertencia à família do salineiro português Luiz João Gago, que ainda tem herdeiros na cidade. Depois de duas reuniões consecutivas adiadas por falta de quórum, o Conselho Municipal do Patrimônio Histórico e Cultural (Cmupac) conseguiu reunir maioria dos membros e, com oito votos a favor, um contra e duas abstenções, aprovou com ressalvas um relatório interno da Comissão de Análise de Processos que defende a preservação do casarão.
Foram favoráveis ao documento o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac), Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), Câmara Municipal de Vereadores, Instituto Federal Fluminense (IFF), Secretaria de Cultura, Secretaria de Turismo e a ONG Cabo Frio Solidária. A Coordenadoria Geral de Promoção da Igualdade Racial foi o único voto contra o tombamento e preservação do imóvel. Abstiveram-se de votar a Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Urbano e a Procuradoria.
– A votação deste relatório foi uma vitória importante porque havia uma discussão interna de que o relator teria entregue o documento, a princípio, subscrito por três membros, onde pelo menos um discordava da autoria. Eu já vinha defendendo que a parte discordante deixasse isso claro no final do relatório, e que ele fosse apresentado a todos os membros para votação. Então conseguimos colocá-lo em pauta e aprová-lo com a ressalva de que é preciso melhorá-lo – contou Lucas Muller, vice-presidente do Conselho.
Embora a aprovação desse relatório não garanta ainda o tombamento do casarão, ele se torna uma peça-chave nessa direção quando a votação final for autorizada pelo Ministério Público. É que existe uma recomendação do órgão para que o conselho paralise qualquer votação referente à aprovação da demolição até que a Câmara de Vereadores de Cabo Frio vote o Projeto de Lei Nº 0326/2023, de autoria do vereador Davi Souza (PDT), que pede o tombamento histórico, cultural e arquitetônico da Casa dos Gago. O conselho acatou, por unanimidade, essa recomendação do MP, e por isso as próximas etapas de votação sobre o imóvel estão temporariamente suspensas. Já o projeto de lei, que foi apresentado no legislativo cabo-friense no último dia 7 de novembro, segue tramitando nas comissões internas da Câmara, mas ainda sem previsão de votação em plenário.
A polêmica em torno da demolição do imóvel centenário teve início no ano passado, quando uma construtora da cidade solicitou à Prefeitura autorização para demolir o casarão e construir um condomínio de luxo. O projeto, segundo o site de venda dos futuros imóveis, prevê cerca de 16 casas com 200m² cada uma, opções de três ou quatro suítes, piscina, espaço gourmet privativos e duas vagas de garagem, entre uma série de outros benefícios, bem de frente para o canal do Itajuru.
Em março deste ano o governo municipal confirmou à Folha a existência de dois processos em tramitação: um referente à demolição do casarão e outro para a aprovação da construção do condomínio, mas que até aquele momento não havia sido emitida nenhuma licença. No mesmo mês, com a reativação do Conselho Municipal do Patrimônio Histórico e Cultural (que estava inativo desde 2021, quando o governo José Bonifácio assumiu a Prefeitura de Cabo Frio), teve início a saga pela preservação da casa centenária. Na época, em conversa com a Folha, o presidente do Conselho, arquiteto Sérgio Nogueira, garantiu que qualquer imóvel com mais de 50 anos só pode ser demolido após amplo debate entre os conselheiros.

Imóvel centenário no Portinho está sob ameaça de demolição para dar lugar a condomínio de luxo - Crédito: Reprodução


