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Coluna

Valeu, Roberto!

20 janeiro 2023 - 11h49

No dia 8 de janeiro de 2023, deixou-nos Roberto Dinamite. Lutando há tempos contra o câncer, o ídolo do Vasco não resistiu e fez a sua passagem não só para os braços do Pai, mas também para o panteão do futebol mundial. Com tristeza e comoção, despedimo-nos de um grande homem dentro e fora dos gramados, um jogador de rara estirpe.

O garoto de Duque de Caxias destacou-se no futebol precocemente. Iniciando sua carreira no Esporte Clube São Bento, foi descoberto pelo Vasco ainda adolescente. Desenvolveu-se significativamente no clube da Cruz de Malta, onde demonstrou todo o valor de seu estilo de jogo explosivo, extremamente bem calculado, artístico e funcional. Aos 17 anos, foi rebatizado: deixava de ser Calu para tornar-se o Garoto-Dinamite, alcunha dada pelo Jornal dos Sports. A torcida aderiu ao apelido, que praticamente tornou-se sobrenome, e Carlos Roberto de Oliveira passava agora a ser definitivamente conhecido como Roberto Dinamite.

E o sujeito honrou o prosônimo explosivo: com 190 gols, o camisa 10 marcou a história como o maior artilheiro do Campeonato Brasileiro. Diante dos rivais cariocas, Dinamite não deixou barato: contra o Fluminense, 36 gols versus 12 de Waldo; contra o Flamengo, 27 gols versus 19 de Zico; contra o Botafogo, 25 gols versus 17 de Quarentinha. Em 1110 jogos, balançou a rede mais de 700 vezes. Vestindo a amarelinha, nos mundiais de 1978 e 1982, em 38 disputas fez os goleiros vacilarem 20 vezes. A entrada de Roberto em campo era também a certeza da explosão da torcida, que reverenciava o jogador com os louros que este merecia.

Dinamite é fruto de uma época em que o futebol gerava verdadeiros ídolos por conta de seus méritos em campo. Naquele momento, a principal preocupação dos atletas era a performance, uma vez que o próprio marketing desportivo não era tão maduro e feroz como hoje. Para os jogadores, o que mais viesse além das boas partidas era lucro. Na atualidade, com algumas exceções, o caminho seguido é diferente: busca-se muito mais o estrelismo e o dinheiro do que a solidez da performance, de modo que nossos jogadores são frágeis, emotivos e, no bom linguajar futebolístico, pipoqueiros (situação esta que tratei no meu texto “As crianças vestem a amarelinha”).

Por conta dos seus resultados e do seu carisma, Dinamite não só foi ídolo, mas também foi líder: com suas ações, inspirou jogadores (como foi o caso de Edmundo, que afirmou torcer pelo Vasco por conta do saudoso camisa 10) e fez a torcida delirar e se encher de orgulho. Roberto honrou o Vasco com entrega total, fato que só o engrandeceu na história do futebol.

Em seu velório, jogadores e torcedores de times rivais marcaram presença e deram o último adeus a um homem que indiscutivelmente combateu o bom combate. Botafoguenses, flamenguistas e tricolores, naquele dia, pensaram o mesmo: “Aqui se vai um grande homem que nos causa mais tristeza em sua partida do que em quaisquer jogos nos quais marcou gols rivalizando conosco”. É nítido que apenas os grandes possuem condições de receber a íntegra e legítima reverência dos rivais, pois fizeram por merecer e deram o exemplo de forma madura, sem infantilidades e comportamentos desnecessários (elementos esses que faltaram aos atletas da seleção em 2022).

Não vi Dinamite jogar, pois nasci em 1996. Minha avó, também vascaína, teve o privilégio de acompanhar toda a sua carreira e nunca se cansou de falar para mim sobre os seus feitos. Os videotapes provam facilmente a veracidade de tudo que ela me contou. E, mesmo nunca tendo encontrado pessoalmente o meu ídolo, senti a perda de Roberto como equivalente a de um grande amigo. Toda vez que olho para as suas fotos e vejo aquele sorriso (sua marca registrada) sereno e verdadeiro, evidenciando o grande sujeito que era, sintetizo todos os meus pensamentos e reações na frase que estampou a camisa do seu jogo de despedida em 1993: “Valeu, Roberto!”.