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Coluna

Oferta e procura

19 junho 2021 - 18h16

 O mundo é formado por contradições, esta é uma observação muito peculiar no nosso dia a dia. Permanentemente assistimos um confronto entre duas forças que se colocam em embate, ora oferecendo-se como escolha, ora como objetivo a ser conquistado, ou rejeitado. Assim, temos o bem e o mal, o preto e o branco, o débito e o crédito, o cheio e o vazio, o certo e o errado, o feio e o bonito, o gordo e o magro, o frio e o quente, macho e fêmea, Vasco e Flamengo, e por aí vai, contemplando todas as áreas onde o homem tenha qualquer tipo de interesse. A própria natureza nos oferece alguns exemplos dessas contradições ao confrontar o dia com a noite, o mar com os rochedos, o sólido com o gasoso, o inverno com o verão, e tantos outros. 

O bom senso sugere sempre que se procure alcançar o equilíbrio, um ponto comum que harmonize as partes envolvidas, com o objetivo de evitar sequelas ou prejuízos. Assim, entre o preto e o branco temos o cinza, entre o feio e o bonito temos o simpático, entre o gordo e o magro apresenta-se o sarado, entre o Vasco e o Flamengo... bem, aí fico com o Flamengo mesmo.

Na economia não é diferente. O pilar mestre que sustenta um sistema econômico é a chamada “Lei da Oferta e da Procura”, estando elas em campos opostos. A oferta representando os produtores e a procura representando os consumidores. A primeira procurando alcançar o maior valor possível na venda, enquanto a segunda procurando pagar o menor preço possível na compra. Esta lei é determinante para o comportamento dos preços em um mercado. Assim, se a oferta for maior do que a procura, os preços tendem a diminuir, ao contrário, se a procura for maior do que a oferta, os preços se elevam. 

Foi num confronto entre oferta e procura que o Plano Cruzado (1986) foi por “água abaixo”. Lembro que em circunstância do desabastecimento (falta de oferta) provocado pelo congelamento de preços (principal medida do Plano) e o aumento do poder de compra dos brasileiros, houve e recrudescimento da procura que se confrontou com o desinteresse das empresas em produzir para vender por preços que não atendiam suas expectativas de retorno. Com a drástica redução da oferta, surgiu a figura do “ágio” (valor por fora) que sepultou um Plano de estabilização da economia que parecia perfeito.

 Em um artigo que publiquei recentemente sob o título “Escassez”, mencionei a prática de algumas organizações que preferem jogar fora ou destruir sua produção quando excede as necessidades do mercado. Isto é feito com o objetivo de não alterar o equilíbrio entre a oferta e a procura. Abordei inclusive um caso clássico na história econômica brasileira, quando no governo Getúlio Vargas, foram queimadas milhões de sacas de café com o objetivo de reduzir a oferta e evitar aviltamento de preço.

Evidente que nessa relação de confronto há necessidade da existência de um árbitro a fim de evitar abusos, estabelecer regras e oferecer condições de igualdade para ambos os lados, objetivando um resultado justo.

Nos confrontos entre os eventos antagônicos naturais, como o dia e a noite, verão e inverno, calor e frio, etc., o Criador estabeleceu mecanismos que a própria natureza se encarrega de harmonizar. No meio social, entre o certo e o errado, o bem e o mal, o legal e o ilegal, o formal e o informal, a sociedade criou seus próprios manuais e códigos, aplicados por juízes e auditores que, supõem-se, sejam imparciais, sábios, justos e comedidos.

Na área econômica, atuam as chamadas “Autoridades Monetárias” (Banco Central, Copom, Conselho Monetário Nacional, Comissão Valores Mobiliário, entre outras), e “Autoridades Econômicas” que intervêm todas as vezes que o equilíbrio é ameaçado, utilizando-se das chamadas “políticas econômicas e fiscais”.  Temos exemplos como a taxa Selic (Sistema Especial de Liquidação e Custódia), hoje fixada em 3,5% ao ano, que é utilizada para fixação da taxa básica de juros e para equilibrar as ofertas de crédito e investimento; estoques de dólares pelo Banco Central, para controlar a taxa de câmbio; estoques de grãos, para estabilizar preços internos de café, arroz, feijão e outros, etc. 

Tudo é tecnicamente perfeito, se não fosse a participação de um terceiro elemento, o “especulador”, que manipula o mercado em busca de ganhos extraordinários, e qual erva daninha sufoca e mata tão belo casamento.