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Coluna

Não façam suas apostas

25 fevereiro 2023 - 13h10

“Você tá perdendo uma oportunidade única de ganhar grana”, me disse um amigo que agora vive enfiando dinheiro em sites de aposta sobre jogos de futebol. Ao ver um leve sorriso nascer em meu rosto, emendou ainda: “Tô falando sério. Logo você, que acompanha futebol com seriedade. Tá bobeando!”

Hoje, a aposta é uma das vias pelas quais esses sites invadiram nossas vidas futebolísticas. Outra está nas placas publicitárias pelas beiras dos campos. Até a Caninha 51 e o conhaque Dreher perderam espaço nos letreiros para as juras de lucro fácil a partir de qualquer trocado. A outro via, e também a mais recente e escandalosa, são as apurações feitas pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD).

O esquemão foi descoberto e denunciado pelo Ministério Público de Goiás. A acusação aponta que jogadores eram pagos pelos sites de apostas para que certas circunstâncias acontecessem durante a partida. Assim, essas empresas teriam o controle do jogo para manipular quem poderia ganhar quanto em uma simples aposta online.

Nesses sites, as opções são infinitas. Agradam a qualquer pessoa independente das cores da camisa. Pode-se apostar em quantidade de escanteios, de pênaltis, de gols em determinado tempo da partida e, talvez, até em quantas vezes um jogador assoa o nariz (nunca pesquisei sobre essa última opção, mas, no que diz respeito a aposta, pode rolar, afinal a lógica é perversa e “pagando bem, que mal tem?).

A tramoia das apostas está nas séries B, C e D. E a coisa fedeu após o depoimento de Romarinho, ex-Vila Nova-GO, que declarou ter recebido propostas. O “Bicho” para um jogo era maior que seu salário mensal. Para termos uma ideia, ano passado, o Vila Nova tinha uma das folhas salariais mais baixas entre as 20 equipes que disputavam a série B.

O pagamento ao jogador teria girado em torno de R$ 150 mil. Para ele era bom. Para o site de apostas, melhor ainda. O lucro da empresa nesse único jogo subiria à grandiosa cifra dos R$ 2 milhões, caso tudo desse certo. Ou seja, trocando em miúdos (ou graúdos), ambos ganhariam.

Estamos diante de um problema para o qual não vejo solução. A aposta nesses sites é tão sedutora, que até pessoas com pouco entendimento sobre futebol fazem “uma fezinha”. É uma prática capaz de transpassar classes sociais e qualquer outra barreira que possa separar as pessoas. E, tal como as redes sociais, é algo repleto de dispositivos obscuros e velhas regras de contravenção. Vão fazer o quê? Prender o Romarinho e fingir que a justiça foi feita? Se o jogador errou, deve pagar. Mas, é claro, ele é peixe pequeno nessa pilantragem toda.

São R$ 150 mil para um jogo da Série B. Agora imaginem o volume de apostas e grana circulando numa partida decisiva de Série A, Copa do Brasil e Libertadores. Campeonatos onde há salários à beira do milhão. Se ao Romarinho foi oferecido 15 vezes o valor do seu ganho mensal, imaginem quanto já não deve ter sido oferecido ao principal jogador daquele time finalista? 

Parece até que aqui dinheiro nasce igual capim, ou melhor, grama.