Depois de uma queda de braço entre PT e PV para definir quem seria o pré-candidato da Federação Brasil da Esperança na eleição municipal de outubro em Cabo Frio, o ex-vereador Rafael Peçanha resolveu deixar a sigla petista, e nesta sexta (05) formalizou oficialmente, sua filiação ao REDE. Durante o ato, Peçanha também foi como pré-candidato a prefeito na eleição municipal de outubro, conforme antecipado pela edição impressa da Folha.
Eleito vereador pelo PDT em 2016, Rafael Peçanha deixou o partido em 2019 após uma série de promessas não cumpridas pela sigla. Em fevereiro de 2022 assinou filiação ao PT e desde o ano passado vinha sendo apontado como pré-candidato da Federação Brasil da Esperança (PT, PV, PC do B) na eleição de outubro deste ano. Mas o caldo começou a entornar quando a prefeita cabo-friense Magdala Furtado, deixou o PL e, em março deste ano, mudou-se para o PV.
Não faltaram especulações de envolvimento da alta cúpula do PT na chegada de Magdala à Federação Brasil da Esperança. Entre os nomes citados em uma possível interferência a favor da prefeita estavam os deputados federais Washington Quaquá e Lindberg Farias, e mais recentemente até do presidente Lula, de quem Magdala andou se aproximando após nomeação do filho da Ministra da Saúde, Nísia Trindade, como secretário de Cultura de Cabo Frio.
Mas, se antes essas interferências eram comentadas por debaixo dos panos, esta semana, com a saída de Rafael da sigla petista, o fato acabou sendo confirmado à Folha pelo presidente do diretório municipal do PT, Ricardo Cardoso.
– Claro que teve (interferência de alguém lá de cima do PT em favor de Magdala). O Lula é o presidente até aí institucional, o problema é o depois - comentou Ricardo sem dar nomes.
Em conversa com o jornal, Rafael Peçanha disse que a decisão de deixar o PT era algo em que ele já vinha pensando. “E a partir do momento em que a gente verificou que não era interessante (do ponto de vista do respeito com as pessoas que caminham com a gente) seguir nessa insegurança, retomamos as conversas principalmente com a REDE”.
– Foi um processo de amadurecimento e reflexão. E o processo de decisão foi em questão de horas. Na semana passada conversei com vocês de manhã e afirmei que continuava filiado ao PT, e de tarde redigi minha carta de desfiliação. Então foi tudo muito rápido. E nessa carta deixei claro que a gente visualizou no PT nacional algumas vozes que não eram favoráveis ao nosso projeto, porque eu sei perceber quando sou querido e quando não sou. E apesar de me sentir querido por grande parte do PT de Cabo Frio e da região, isso não seria suficiente para garantir a continuidade do projeto. E eu não poderia montar uma nominata de vereadores dentro desse clima de insegurança - comentou Rafael, dizendo estar feliz com a recepção que teve no REDE.
Apesar da “traição” da nacional do PT, Peçanha disse estar ainda mais forte do que antes.
- A cada golpe recebido, a cada tentativa de me fazer desistir, de imposição, a gente se torna mais forte, e eu sou teimoso, sou insistente e sou corajoso. Então tudo isso só me deu mais forças para continuar. E não tenho dúvidas de que, a partir de agora, a gente caminha com mais força, segurança e liberdade para continuar oferecendo para a população uma opção de projeto e ideias de cidade para que Cabo Frio possa voltar a ser respeitada e voltar a ter o cenário que merece, e sempre pela base - afirmou.
Mesmo com a saída de Peçanha do PT, o presidente municipal da sigla disse que Magdala ainda não é o nome oficial da Federação Brasil da Esperança na eleição de outubro, mas, mesmo que venha a ser, “ela terá somente a sigla, porque a militância estará com Rafael”.
– O PT de Cabo Frio nunca esteve tão unido para defender uma candidatura. Penso que Rafael Peçanha é o único nesse cenário capaz de nos representar. Tanto é que aprovamos por unanimidade o apoio a ele na Federação PSOL e REDE - anunciou Ricardo à Folha.
O presidente municipal da sigla petista definiu como “sensação de impotência e decepção” as recentes interferências do partido em níveis superiores, e falou sobre a tristeza de ver Peçanha deixar o PT.
– A saída do Rafael Peçanha foi muito triste, frustrante, mas ele saiu pela porta da frente, exatamente como entrou. Não precisou entrar por cima, como fez a prefeita no PV. Infelizmente o PT de Cabo Frio foi traído. Por ter tempo de TV e fundo partidário, isso chama a atenção.
Em conversa com a Folha, esta semana, o presidente do REDE, Walter Costa, contou que partiu dele, e da presidente municipal do PSOL, Márcia Rodrigues, o convite para que Rafael Peçanha se mudasse para a nova sigla e se tornasse o pré-candidato da Federação PSOL REDE na eleição de outubro.
– Importante deixar claro que as conversas se iniciaram em Cabo Frio: não houve articulação por cima ou nenhuma tentativa de “puxada de tapete”. Rafael não tem esse perfil. E a partir da aceitação dele ao diretório de Cabo Frio, conduzimos o processo a nível estadual e nacional, que prontamente respeitaram e apoiaram nossa decisão - contou.
Walter também contou que a escolha do nome de Peçanha para ser pré-candidato da Federação foi motivada por dois fatores, “um deles a necessidade de se contrapor aos projetos defendidos por Dr. Serginho e Magdala Furtado, que são projetos que priorizam os apoiadores externos e somente depois os cabo-frienses “.
– A REDE defende que a governança municipal seja administrada pelos residentes da terra e não por figuras que desconhecem o município. Atualmente vemos pré-candidatos a vereadores, apadrinhados por políticos e prefeitos de outras cidades, algo grave e que pode trazer para o nosso município os vícios e a cultura política desses lugares. Por isso, o segundo fator que nos motivou a convidar o Rafael Peçanha foi o entendimento do seu preparo e do seu conhecimento do município. A REDE poderia lançar uma pré-candidatura que não fosse a do Rafael, mas não somos movidos pela vaidade e egocentrismo de algumas castas políticas - argumentou Walter.
