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Política

Saída de Mureb não alivia situação na CPI do Hospital da Mulher na Alerj, diz presidente

Prefeito Adriano Moreno anunciou substituição do secretário de Saúde esta semana 

20 julho 2019 - 09h05
Saída de Mureb não alivia situação na CPI do Hospital da Mulher na Alerj, diz presidente

RODRIGO BRANCO

A presidente da CPI do Hospital da Mulher na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), Renata Souza (PSOL), comentou a respeito da futura saída do secretário de Saúde de Cabo Frio, Márcio Mureb, já confirmada, em primeira mão, pelo prefeito Adriano Moreno durante entrevista à Folha. Mesmo fora da condição de secretário, trabalhando apenas internamente na pasta, Mureb terá que responder pelas mortes dos recém-nascidos na unidade caso venha a ser responsabilizado no relatório final da deputada Enfermeira Rejane (PC do B).

– De maneira alguma [será eximido da responsabilidade]. Tudo ocorreu na sua gestão, período em que se iniciou a CPI – afirmou Renata.

O possível substituto de Mureb será o também médico Carlos Ernesto, que já esteve no cargo durante o último governo do prefeito Alair Corrêa (2013-2016) e atuava na Defesa Civil Municipal, já na gestão de Adriano Moreno. Segundo o prefeito, a substituição no cargo ocorrerá para que haja uma mudança de perfil.

– Essa mudança na Saúde é o seguinte: o Márcio Mureb é um excelente administrador, mas um secretário tem que ter um viés administrativo e um viés de relacionamento político, de relacionamento com o funcionalismo, com os sindicatos, a classe política da cidade. Ele mesmo me pediu pra ficar na parte administrativa. E a gente bota [como secretário] uma pessoa que vá fazer essa ligação mais harmônica – declarou Adriano à Folha.

A atual secretário prestou depoimento aos deputados da CPI no dia 16 de abril. Na ocasião, foi duramente sabatinado pelos parlamentares, sobretudo, pela relatora Enfermeira Rejane. A deputada cobrou o secretário pela falta de informações prestadas naquela oportunidade. Argumentos do secretário sobre a necessidade de reajustar os salários dos profissionais também foram rechaçadas pelos deputados.

– É importante que o secretário conheça suas unidades de saúde, seus funcionários, seus diretores... que assuma, de fato, a sua responsabilidade enquanto secretário. Não podemos chegar numa CPI onde o secretário não traga informações. Não se preocupou nem em trazer informações, em saber o funcionamento da sua maternidade, de saber o que esta ocorrendo para, semana que vem, não ter mais uma morte. É óbvio que ninguém quer, e que o secretário de Saúde não tem interesse que morra mais ninguém, mas quando (a gente) pergunta qual (será o) procedimento daqui para frente, nem isso o secretário traz – criticou Enfermeira Rejane, na ocasião.

No mês passado, também provocou críticas dos deputados da CPI e de representantes da sociedade civil a ausência de Mureb, bem como do prefeito Adriano e de vereadores em uma audiência pública realizada pela Assembleia Legislativa, na sede da OAB de Cabo Frio, no Braga.  

“Estranho são 10 mortes de bebês em um mês”, diz Renata Souza

A presidente da comissão da Assembleia Legislativa (Alerj) que investiga a morte de bebês no Hospital da Mulher, Renata Souza (PSOL) rebateu as declarações do prefeito de Cabo Frio, Adriano Moreno (Rede), feitas à Folha sobre a iniciativa da abertura da CPI. Em entrevista na qual fez balanço de um ano de governo, Adriano contestou o fato de não ter havido investigação na unidade durante o governo de seus antecessores.

Em agenda oficial fora do país durante o recesso parlamentar da Alerj, Renata devolveu as críticas do prefeito cabofriense. A parlamentar disse que o governo municipal só tomou providências para melhorar o serviço na unidade justamente por causa da abertura da CPI.

– Estranho é ter dez bebês mortos em apenas um mês no hospital e nada ser feito pela prefeitura. Alguma medida só foi tomada após o início da CPI da Alerj. Ou seja, havia, no mínimo, negligência, agora há uma preocupação do prefeito sobre o que está ocorrendo no Hospital da Mulher – respondeu a deputada psolista.

Os trabalhos da CPI, que têm a relatora da também deputada Enfermeira Rejane (PC do B), vão entrar na reta final após o fim do recesso parlamentar, em agosto. Além de uma visita técnica e uma audiência pública, a comissão já ouviu mães que perderam bebês na unidade, além de antigos a atuais diretores, e o secretário de Saúde, Márcio Mureb, que, segundo Adriano, está de saída do cargo para uma função interna na pasta.

De acordo com Renata Souza, a possiblidade de verificar possíveis rasuras nos laudos emitidos pelo hospital ainda não saiu do papel, o que deve acontecer apenas na retomada dos trabalhos, com o envio dos documentos para exame grafotécnico no Instituto de Criminalística Carlos Éboli. Ainda em resposta ao prefeito, a presidente da CPI disse que o trabalho já resultou em mudanças no atendimento à população.

– A CPI já surtiu efeito, inclusive obrigou o prefeito a mudar a gestão do hospital e até o seu secretário de saúde. Continuarei trabalhando muito para que as grávidas que cheguem no Hospital da Mulher saiam com os seus bebês no colo e não com um atestado de óbito – finalizou Renata Souza.

Na entrevista publicada pela Folha anteontem, o prefeito chegou a dizer que houve ‘politicagem’ nas questões envolvendo os problemas do hospital, mas negou que estivesse se referindo ao trabalho das CPIs.

– Eu e os diretores do hospital nunca nos furtamos a dar qualquer explicação. O que vejo é o seguinte: tivemos problema se arrastando há muito tempo. Houve, também, fatos políticos. Pegaram o Hospital da Mulher e transformaram em bandeira política. Vou fazer até uma observação. Não me lembro de uma CPI em Cabo Frio nos últimos 22 anos. Foi eu entrar que fizeram uma CPI no Hospital da Mulher. Será que Hospital da Mulher só ficou ruim nos meses que eu estava como prefeito? Ou ele já era ruim há muito tempo e ninguém olhava para lá? E outra coisa que me chama atenção: uma CPI do estado num hospital municipal. Nunca vi isso. Não estou questionando se é certo ou errado. Mas nunca vi. A rede pública estadual passa por caos. Os pacientes, se você ligar a televisão, estão pelos corredores esperando para passar por cirurgia. Vejo incoerência. Temos, sim, que unir força, unir esforços para que melhoremos a saúde no município, estado e país. Agora, sem bandeiras partidárias para politicagem – declarou Adriano, na ocasião.

Vereadores de CPI local também reagem à fala de Adriano 

O presidente e o relator da CPI na Câmara Municipal também se posicionaram quanto ao comentário do prefeito sobre a sua instalação. Vaguinho Simão (PPS) lembra que a situação levou o hospital a ser fechado.

– Impressiona-me o prefeito achar estranho haver uma CPI apenas no governo dele, mas não achar estranho a morte de tantos bebês, pois como lembro bem, o prefeito sempre disse  que estava tudo certo com o Hospital da Mulher que, como sabemos, inclusive chegou a ser interditado pelo Cremerj – dispara.

O presidente Ricardo Martins (SD) também defendeu a realização da CPI e, mais uma vez, criticou os antigos gestores do hospital.

– Acho a CPI municipal legítima, pois tentamos inúmeras vezes levar o problema ao Executivo e à administração que lá estava e não fomos bem recebidos. Não deram muita importância ao que tentamos falar, tentando levar alguns problemas de implantação de protocolo, da forma de gerir. Talvez até sejam bons gestores, na rede particular. Na rede pública é diferente tem que ter um olhar diferenciado – observa.