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Política

"Não fui eu que criei esse caos", diz Adriano sobre saúde de Cabo Frio 

Prefeito comenta mortes no Hospital da Mulher e responde se está decepcionado com a própria gestão

15 março 2019 - 23h41
"Não fui eu que criei esse caos", diz Adriano sobre saúde de Cabo Frio 

TOMÁS BAGGIO

Não tem sido fácil. A rotina de ter que lidar com problemas na área de saúde coloca o prefeito de Cabo Frio, Adriano Moreno (Rede), na defensiva. Entre justificativas e planos de melhorias, Adriano fala com exclusividade nesta entrevista e, entre outras perguntas, responde se está decepcionado com a própria gestão, além de comentar as mortes no Hospital da Mulher. 

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Folha dos Lagos – Qual é a sua avaliação sobre os serviços prestados na rede pública de Saúde de Cabo Frio?

Adriano Moreno – Com relação ao Hospital da Mulher e às unidades de saúde em geral, eu já as encontrei em péssimas condições. Vou dar um exemplo: encontrei uma ordem de despejo no almoxarifado de medicamentos. Estava todo mofado, com infiltração. um lugar péssimo para armazenar qualquer coisa, pior ainda para medicamentos. O Hospital da Criança estava abandonado, fechado, porta arrombada, com um monte de mendigo, andarilho morando lá dentro, que me fez tomar uma atitude drástica de colocar um muro na porta para preservar o patrimônio e não causar um desgaste mais grave ainda, porque lá tem equipamentos e tudo mais. As Unidades Básicas de Sáude (UBS) todas deterioradas, sucateadas. déficit de material, infiltração, condições muito ruins. Estamos trabalhando pra corrigir rapidamente com poucos recursos, porque encontramos a Prefeitura com muitas dividas

Folha – São oito meses de governo. Não deu tempo para solucionar problemas encontrados?

Adriano – Como médico, tenho feito de tudo para tentar melhorar a saúde. Agora, o que acontece é que algumas pessoas, que não têm bom senso, pra não falar um nome pior, estão usando a saúde... eu não criei esse caos em seis, sete meses de governo, não. Esse caos na saúde de Cabo Frio... a saúde não se destruiu em seis meses, não. Ela vem sendo destruída ao longo dos anos nesse município.

Folha – Os últimos acontecimentos indicam que a situação está se agravando...

Adriano – Dentro da estatística, o Hospital da Mulher tem funcionado relativamente... tivemos esses óbitos, mas segundo a Organização Mundial de Saúde, ele esta em um patamar não alarmante. Dos 10 óbitos no mês de janeiro no Hospital da Mulher, seis foram óbitos domiciliares. A pessoa chega no hospital e o bebe já está morto. A gente entregou a documentação toda no Ministério Público.

Folha – O senhor está dizendo, então, que o Hospital da Mulher está prestando um bom serviço para a população?

Adriano – Não. Eu não estou dizendo que está prestando um bom atendimento. Pode prestar um atendimento muito melhor. Eu acredito que está sobrecarregado porque ele presta atendimento a toda a região, O que eu estou dizendo é o seguinte: estão usando a situação dos hospitais de modo político. Politicagem.

Folha – Reconhece que o momento da saúde na cidade é ruim?

Adriano – O momento na saúde é complicado no pais inteiro. Se você for no Rio de Janeiro, vai ver pessoas dormindo em corredor. Eu tenho relato de pessoas agradecendo por terem sido atendidas em Cabo Frio.

Folha – O que tem a dizer sobre a nota divulgada em janeiro pelo Hospital da Mulher afirmando que as mortes seriam causadas por “ausência de pré-natal, doenças sexualmente transmissíveis contraídas pelas genitoras e o consumo de substâncias entorpecentes”?

Adriano – A gente descobriu que o problema que está tendo no Hospital da Mulher é na saúde básica, Muitos pacientes não fazem o pré-natal. É isso. A nota é porque muitos pacientes não fazem o pré-natal, e quando chegam pra ter neném, os médicos ficam numa situação vulnerável, porque não sabem as intercorrências que essa paciente teve durante a gestação.

Folha – Quer dizer que, na sua avaliação, a nota foi correta? Foi bem colocada?

Adriano – Não. Acho que ela foi mal colocada. Quando você dá uma nota daquela, dá a impressão de que as mães são culpadas. Elas são tão vítimas quanto os funcionários do hospital. São vitimas da estrutura que se instalou neste município. Aquela nota está errada, não foi dada com a minha autorização, nem da Secretaria de Comunicação. Foi dada em um momento de desespero pelos funcionários do hospital, que estão sendo acuados. O funcionalismo lá tem medo de trabalhar. Todo dia vai uma pessoa lá com celular, bota uma roupa de médico, se fantasia com um jaleco e começa a xingar todo mundo.

Folha – Além de ser médico, o senhor foi eleito com uma plataforma bastante voltada para a área de saúde. Se sente decepcionado com os rumos que a situação esta tomando?

Adriano – Decepcionado não. Eu me sinto, até certo ponto, agredido. Porque não fui eu que criei esse caos. Estou tentando solucionar de todo jeito, e estou vendo uma movimentação de “quanto pior, melhor”. O que vai acontecer é que não vai ter funcionário mais querendo trabalhar no hospital. O que está sendo passado é que o hospital está matando todo mundo, e não é isso. Um hospital que faz, no mês de janeiro, quase 1.300 atendimentos... em 2018 foram quase 17 mil atendimentos. Como é que esse hospital é esse inferno, meu Deus? É só fazer estatística, pegar os números.

Folha – Planeja mudanças na gestão da saúde? Como avalia a atuação do secretário?

Adriano – O secretário está querendo agir na saúde básica, fazendo a reforma dos postos de saúde. Vamos reformar as UPA’s, já temos recursos para isso.

Folha – Teme as CPI’s instaladas na Câmara Municipal e na Alerj para investigar as mortes no Hospital da Mulher?

Adriano – De maneira nenhuma. Tenho tudo catalogado, prontuário médico, tudo explicando. Essas mães não foram negligenciadas.