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ELEIÇÕES 2020

Dirlei Pereira: "Cabo Frio tem jeito; basta não roubar nem deixar roubar"

Candidato a prefeito pelo PTC encerra a série de entrevistas feita pela Folha dos Lagos

27 outubro 2020 - 14h00Por Rodrigo Cabral e Rodrigo Branco

A Folha dos Lagos encerra nesta terça-feira (27) a série de entrevistas com os 11 candidatos a prefeito de Cabo Frio, ouvindo as propostas de Dirlei Pereira, do PTC. Aos 64 anos, Dirlei Pereira da Silva é jornalista e redator, mas já atuou na vida pública como vereador e secretário municipal. O comerciante Fábio Ferreira Góes, de 31 anos, divide a chapa com Dirlei.

Folha dos Lagos – Por que deseja ser prefeito? Qual legado quer deixar para a cidade?

Dirlei Pereira – Chega de doutor, Cabo Frio e Tamoios precisam de trabalhador. As oligarquias que dominam a nossa cidade por mais de um século jamais se preocuparam com os reais interesses da população. Só cuidaram dos interesses deles próprios, dos interesses de meia dúzia de privilegiados oriundos de famílias tradicionais. É hora de dar uma basta a tudo isso. É chegada a hora dos pobres, dos oprimidos, dos marginalizados reagirem. É chegada a hora daqueles e daquelas que têm fome de comida e sede de justiça. Cabo Frio não dormiu rica e amanheceu pobre. A cidade tem jeito. Basta não roubar, não deixar roubar, se cercar de gente competente e honesta e ter amor pelas pessoas e pela terra. Com muito trabalho e seridede vamos retomar o caminho do desenvolvimento. Legado: quero ser conhecido no futuro como um construtor de pontes que unem as pessoas e demolidor das barreiras as separam. Muito mais que um prefeito, quero ser um mediador, um pacificador para sepultarmos essa cultura do ódio divide nossas famílias, nossa terra, nosso povo.

Folha – Como retomar o desenvolvimento, gerando emprego e renda, após um cenário de pandemia?

Dirlei – É preciso apoiar a pequena e a média empresa. Nos últimos anos, vimos São Pedro da Aldeia, com muito menos estrutura, abraçar dezenas de empresas gerando milhares de empregos, e aumentando sua arrecadação através de impostos. O mesmo deve ser feito em Cabo Frio: facilitar a entrada dessas empresas no nosso município e, principalmente, cuidar do pequeno e médio empreendedor para gerar empregos e renda para a cidade. A Prefeitura não pode ser a maior empregador. Está na hora de dividir essa responsabilidade entre as empresas privadas, mas, para isso, é necessário cuidar desse empreendedor que olha para a Prefeitura e só vê ela como obstáculo para o seu crescimento. Chegamos ao ponto de ver as empresas gritando por socorro e o poder público municipal tomando medidas contrárias à necessidade desses empreendedores. O meu vice-prefeito, Fábio Góes, é um jovem empreendedor que viveu toda essa angústia em seu negócio. Ele conhece todo o desespero vivido pelos empresários locais e traz essa bagagem às nossas decisões. No nosso governo, o empresariado local terá representatividade, terá voz e será tratado com carinho.

Folha – Os municípios da região tiveram índice baixo no Ideb. Como mudar esse cenário e quais seus planos para a Educação?

Dirlei – Nos últimos anos, a Educação tem sido gerida no interesse de meia dúzia de políticos. Em primeiro lugar, precisamos cuidar das professoras e professores e de todos os profissionais da Educação; ter um olhar diferenciado em relação a eles. Eles precisam, como em qualquer profissão, ser atualizados e reciclados, mas, para além disso, precisam de dignidade. Só vamos conseguir melhorar os resultados do nosso Ideb com professores bem qualificados e escolas bem equipadas. Mas não se trata só do Ideb. É necessário expandir o acesso ao Ensino Fundamental Municipal às crianças de seis a 14 anos, evitando a exclusão dessas crianças e jovens que precisam estar dentro da escola. Garantir a inclusão dos alunos com necessidades especiais, oferecendo-lhes oportunidades para o exercício da cidadania e participação efetiva na sociedade. Fomentar o EJA no período noturno, minimizando o analfabetismo e reintegrando jovens e adultos à sociedade e à melhores condições para que esses possam se posicionar melhor no mercado de trabalho. Trocar a politização pela humanização da Secretaria Municipal de Educação. Arrancar lá de dentro os interesses políticos e colocar no lugar destes o interesse humano, o interesse social. Vamos investir de forma gradativa no ensino em tempo integral e na construção de creches, com os programas cada bairro uma escola em tempo integral e cada bairro uma creche.

Folha – Quais suas principais propostas para a Saúde?

Dirlei – Fui secretário de saúde. Isso me dá autoridade para dizer que dentre todos os candidatos, sou o que mais conhece os problemas e também as soluções para acabar com a roubalheira na compra de remédios e determinar transparência total na relação com os fornecedores. Vamos acabar com a farra dos contratos emergenciais, dos aluguéis de ambulâncias e outros equipamentos. Com o que é pago em um ano de aluguel, compra-se uma ambulância nova, totalmente equipada. Isso tem nome: corrupção. Investir na rede pública, com profissionais qualificados, equipamentos de ponta, e acabar com a promiscuidade entre a saúde pública e a privada, estancando a sangria do dinheiro do SUS, que é criminosamente desviado para o bolso de donos de hospitais e de clínicas de exames particulares. Vamos intervir, encampar esses hospitais e torná-los públicos. Isso não é utopia, a saúde de Cabo Frio tem um orçamento maior que o orçamento total de muitas prefeituras da região. A Saúde tem jeito: é só não roubar, não deixar roubar e ter amor pelas vidas. A partir de 1° de janeiro, lugar de vereador pode ser em qualquer lugar, menos na Saúde. O foco será a atenção básica, dotando os postos das comunidades de especialistas, de remédios e motivar com condições de trabalho e salários dignos os agentes comunitários e de endemias. Vamos construir dois grandes hospitais gerais, um em Tamoios e outro no Primeiro Distrito e dotá-los de equipamentos de ponta e das principais especialidades. Em 30 dias, reabriremos o Hospital da Criança.

Folha – Quais as principais políticas que serão adotadas para o Turismo?

Dirlei – É um terrível equívoco se sustentar somente do petróleo, como nas últimas décadas. O turismo é a mola mestra da geração de renda e emprego. É nossa vocação. A Prefeitura precisa deixar de ser o principal empregador. Investir nas empresas pequenas e médias ligadas ao Turismo, com incentivos e desonerações fiscais é o caminho para o resgate da nossa economia e do emprego, e estancar a quebradeira geral do comércio. Trabalhar não no discurso, mas na prática, com o trade turístico, os empresários, os profissionais, os guias de Turismo, fortalecer o Conselho. Eles darão o norte para as políticas públicas de Turismo. Quando fui secretário, o número de transatlânticos passou de quatro pra quase 40. Na minha primeira semana à frente da Secretaria, sentei com o trade turístico pra ouvir suas reivindicações e conseguimos resolver boa parte delas. É necessário também interagir com as políticas estaduais e federais de Turismo. Investir no turismo de negócios, com a construção do tão sonhado Centro de Convenções. Cuidar do nosso rico Patrimônio Cultural e investir nele como forma de atrair outro perfil de turismo: o cultural, o histórico, tanto no Primeiro como no Segundo Distrito. Ali, vamos restaurar a sede da Fazenda Campos Novos, hoje quase em escombros. Integrar Tamoios com suas exuberantes belezas naturais e seus atrativos culturais,  nas políticas públicas de Turismo, é corrigir uma das maiores injustiças cometidas nas últimas décadas contra o nosso Segundo Distrito.

Folha – O que o candidato pensa em relação a políticas afirmativas para mulheres, negros e LGBTs?

Dirlei – A palavra de ordem será inclusão. Adoção de políticas públicas que contemplem prioritariamente os excluídos, os segregados, os marginalizados quer pelo preconceito, quer pela exclusão social, pela falta de oportunidades em relação ao emprego, ao salário digno, à Saúde e Educação de qualidade. Vamos resgatar o respeito ao ser humano, independentemente da cor da pele ou da opção sexual. Basta seguir o ensinamento de Jesus. Amar as pessoas, amar ao próximo como a si mesmo. Nossa sociedade tem uma dívida histórica com os negros, que precisa e será resgatada, oportunizando acesso ao mercado de trabalho, às universidades e aos espaços e cargos públicos de poder. Quantos negros ou negras ocuparam até hoje cargos no primeiro  escalão? Vamos corrigir essa injustiça histórica. A mesma pergunta em relação à mulher. E a resposta não será diferente. Quando fui secretário de saúde tirei os homens dos principais cargos e substituí por mulheres. Vejam a Lava Jato. Quantas mulheres presas ou investigadas? Nenhuma. O nosso governo será o governo da mulher, das minorias, dos pobres, dos oprimidos, dos injustiçados. Ainda sobre a mulher, implantaremos uma política de Saúde que garanta acesso ao atendimento diferenciado, especial, com especialistas e exames disponíveis e em tempo para todas.

Folha – Quais suas principais propostas para o Esporte?

Dirlei – Investir na estrutura e na capacitação. Devolver equipamentos como o Ginásio Poliesportivo, o Complexo Araci Machado e todos os outros que foram sucateados e abandonados nas gestões passadas. Fomentar as ligas amadoras; criar eventos integrando Esporte e Turismo para trazer esse mercado para dentro da cidade. Temos um mar e uma Lagoa perfeitos para competições de vela, dentre tantas outras. Somos considerados a capital da canoa havaiana. E eventos de fora, como o Aloha, utilizam nossa praia, enquanto nós fomos até agora incapazes de fomentar nossos próprios eventos. O esporte também é importante fator de inclusão social, tanto de jovens, quanto de deficientes físicos. Temos os espaços pra isso, só não tivemos até hoje trabalho com esse foco. O Museu do Surf é um dos nossos equipamentos turísticos mais visitados atualmente. Mas até hoje não fomos capazes de criar a ‘Semana do Surf’. Podemos criar o ambiente havaiano para unir Turismo e Esporte e fomentar a economia.

Folha – Quais suas principais propostas para a Cultura?

Dirlei – Dar protagonismo, interagir com os quem faz Cultura, com um Conselho de Cultura fortalecido;  devolver os equipamentos que estão sucateados. O maior exemplo é o Teatro Municipal. As duas últimas gestões começaram o governo dizendo que encontraram o Teatro Municipal sucateado, reformaram o teatro, mas ele continua fechado. É preciso devolver esse equipamento à Cultura. O Teatro pode se tornar um grande atrativo para o munícipe e para o turista. Também precisamos devolver a dignidade ao artesão local. A Praça da Cidadania foi construída para ser a praça do artesão, com boxes para que o artesão pudesse expor e vender seus produtos. Em todas as cidades turísticas do mundo, essas duas atividades – Turismo e artesanato – caminham juntas. Vamos dar legitimidade ao Conselho Municipal de Cultura. Ninguém é melhor para tomar as decisões do que quem vive dela. Os artesãos de Cabo Frio e Tamoios terão espaço físico digno, além de espaço e participação no governo.

Folha – Quais os projetos do candidato para qualificar e ampliar a atuação da Guarda Municipal na Segurança Pública?

Dirlei – Em primeiro lugar, dar dignidade à Guarda Municipal que, assim como outros setores da administração pública local, virou lugar de politicagem. Antes de falar em qualificar a Guarda é necessário atender às demandas desse setor que nem sequer equipamento correto recebe para o seu trabalho. Não possui seus direitos, que são constitucionais, respeitados. Parar com a contratação política e convocar os aprovados em concursos. Investir em treinamento e qualificação dos profissionais. Os ocupantes de todos os cargos, desde à secretaria, todos, eu disse todos, serão oriundos da categoria. Chega de coronéis de fardas e coronéis da política mandando na Guarda.

Folha – Quais as prioridades em relação à infraestrutura da cidade?

Dirlei – Quando a cidade parar de ter gastos absurdos com tantos dos problemas acima citados vai ser possível fechar os buracos nas nossas vias, investir na infraestrutura para acabar com os alagamentos, tanto em Cabo Frio quanto em Tamoios. Toda vez que chove são milhares de famílias desabrigadas e desesperadas com toda a perda. E centenas de buracos abertos nas ruas. Ao invés de investir dinheiro de forma correta e solucionar o problema, o que se faz é jogar terra e asfalto para esconder o problema que está na estrutura. Na próxima chuva, o problema está ali de novo, um novo gasto. Mas isso só pode interessar a quem tem empresa e presta esse serviço à Prefeitura. Basta cuidar e ter carinho pela nossa terra, pelo nosso munícipe que fica fácil resolver estes problemas. Se tiver responsabilidade com o dinheiro público, ele rende e é suficiente para resolver esses problemas da infraestrutura. Ouvir e dar protagonismo aos empresários e profissionais do setor e, com eles, captar recursos estaduais e federais para resolução das principais demandas.

Folha – Quais as principais políticas que serão adotadas no Meio Ambiente? Especificamente sobre a Lagoa de Araruama, quais as ações viáveis do município para sua revitalização?

Dirlei – Quem tem que tomar as decisões sobre o Meio Ambiente é o Conselho Municipal do Meio Ambiente. É uma pasta extremamente técnica e precisa ser discutida entre técnicos para a preservação e manutenção dos nossos parques, das nossas praias, da nossa vegetação. Vamos proteger nosso Meio Ambiente. Vou romper o contrato de concessão com a Prolagos, criar a Companhia Municipal de Águas e Esgoto e acabar com a extorsão que atende pelo nome de cobrança por estimativa praticada pela Prolagos. Só assim vamos poder reduzir os custos exorbitantes que chegam aos nossos munícipes e ainda garantir que a atividade observe e respeite a nossa Lagoa de Araruama. Nossa equipe técnica já está trabalhando nessas ações.

Folha – De que maneira o município pode ser mais independente dos repasses dos royalties? Como enxerga um cenário caso o regime de partilha dos royalties seja alterado no STF?

Dirlei – Acabamos falando sobre isso ao falarmos da mola propulsora da nossa economia que deve ser o Turismo. Nós não podemos mais ser dependentes dos repasses, pois estes tendem a acabar ao longo dos anos. Investir na nossa vocação, Turismo, apoiar as empresas já existentes e estimular a vinda de muitas outras relacionadas ao setor. Fomentar o Aeroporto e o Parque Tecnológico no seu entorno. É preciso fomentar a economia. Além de tudo, que já falamos sobre a indústria e o comércio, o Turismo e a necessidade da geração de empregos. Vamos falar sobre arrecadação. Você sabia que 90% do distrito de Tamoios não consegue pagar devidamente seus impostos e chamar a casa onde mora de sua por não conseguir regularizá-la? Vamos mudar isso através de um dos nossos programas, o ‘Essa Casa é Minha’. Vamos regularizar e dar dignidade ao cidadão para que ele possa ter o documento da sua casa, pagar devidamente seus impostos. Só trabalhando que vai ser possível aumentar a arrecadação e acabar com a dependência dos royalties.

Folha – Como resolver o problema dos atrasos de servidores e aposentados?

Dirlei – Sepultar em definitivo a era dos portariados, dos fantasmas, das boquinhas, dos come-e-dorme. Abolir a figura nojenta do cabo eleitoral, que incha a folha de pagamento e suga boa parte da arrecadação. Faremos um governo técnico, sem nenhuma ingerência de vereadores. É só fazer uma administração íntegra, fechar as torneiras da corrupção,  não deixar o dinheiro escorrer pelos ralos e para o bolso dos ladrões de carteirinha. Repito, é não roubar e não deixar roubar e sobrará dinheiro para pagar em dia nossos servidores e aposentados.

Folha – Quais os principais projetos e políticas públicas direcionadas para a população de Tamoios?

Dirlei – A primeira providência é devolver a dignidade e respeito. Tamoio contribui com mais de 80% dos royalties e recebe de volta migalhas. Chega dessa discriminação, dessa humilhação. Vamos construir uma Prefeitura do mesmo porte da do Centro em Tamoios; criar uma Secretaria Geral; instalar subsecretarias, subordinadas à Secretaria Geral e não às secretarias do Primeiro Distrito. Vamos estabelecer em orçamento o percentual que Tamoios terá direito; 30%, 40% da arrecadação serem geridos pela Secretaria Geral; e adotar a política de orçamento participativo, ou seja, discutir com a população local e com ela definir onde todo o montante será aplicado. Vamos entregar a todos os moradores a escritura de suas casas.
Vamos criar o programa ‘Terra Fértil’, com patrulha mecanizada, banco de sementes, financiamento público para a agricultura familiar. A Prefeitura vai comprar toda a produção. Parte irá para a merenda escolar e outra parte para o programa Cabo Frio e Tamoios sem fome. Não teremos uma pessoa sequer passando fome em nossa cidade. O prefeito vai atender ao menos dois dias por semana em Tamoios.