Durante todo o dia de ontem ecoou pelo país o escândalo causado pelas revelações do empresário Joesley Batista, do frigorífico JBS, de que o presidente Michel Temer teria autorizado pagamento de propina para silenciar possíveis denúncias do ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, preso desde outubro do ano passado. Assim como em Brasília, os políticos da Região dos Lagos demonstraram preocupação com os desdobramentos para o país de uma crise política da qual poucos se atrevem a prever o desfecho. No entanto, entre as lideranças ouvidas pela reportagem, uma coisa é certa: após as gravações feitas por Joesley em conversa com Temer, o presidente não tem mais condições de permanecer no cargo.
Um dos que defendem a saída imediata do presidente é o deputado estadual Janio Mendes (PDT). Manifestando a mesma posição de deputados federais e senadores do seu partido, Janio quer que a escolha de um eventual sucessor de Michel Temer seja por eleição direta.
– É essencial o fortalecimento das instituições, aprofundamento das investigações e punição dos culpados. Somente a convocação de uma eleição direta, sem rompimento da ordem constitucional, pode devolver a tranquilidade e ordem política e social ao país neste momento – afirma.
Seu colega na Assembleia Legislativa (Alerj), o deputado Silas Bento (PSDB) é ainda mais incisivo e não poupou sequer o até ontem presidente nacional do seu partido, Aécio Neves. Aécio é acusado de receber R$ 2 milhões de Joesley para pagar um advogado para se defender das acusações da Operação Lava Jato. Afastado do cargo de senador pelo ministro Édson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, Aécio licenciou-se da presidência do PSDB no fim da tarde de ontem.
– Ele tinha que renunciar, pois não nos representa. Ele (Aécio) não pode fazer isso e ficar à frente do partido em nível nacional. Eu me envergonho de tê-lo como presidente do partido – dizia Silas, antes mesmo da notícia da saída de Aécio, e também defendendo eleições para ‘todo o alto clero da política’.
– Está tudo contaminado – acredita.
Por sua vez, o prefeito de Arraial do Cabo, Renatinho Vianna (PRB), pede punição exemplar aos culpados, independentemente da legenda.
– Quem sofre com isso é o Brasil, sem estabilidade, essa roubalheira desenfreada. A sorte é que o Brasil é uma potência, um país muito forte, rico e que se não fosse a roubalheira seria um país do primeiro mundo. Então essa é a questão: como cidadão, independente de política, de partido, a gente sofre como qualquer brasileiro. Cada um que arque com as consequências dos seus atos.
Jovens lideranças também querem saída de Temer
Em campos políticos opostos, em se tratando da política municipal, os vereadores cabofrienses Miguel Alencar (PPS) e Rafael Peçanha (PDT) mostraram a mesma posição no que diz respeito à situação de Temer: ambos querem a queda do presidente e a sua sucessão pelo voto popular.
Do mesmo partido que o ex-ministro Roberto Freire, que se demitiu após o escândalo, Miguel teme que a crise política aprofunde as dificuldades financeiras do Estado e dos municípios.
– É muito ruim porque podem falar o que quiserem, mas a economia estava dando sinais de que iria se acalmar. Todo esse burburinho é muito ruim para o Estado e para os municípios.
Assim como Miguel, Peçanha defende a tese da alteração constitucional que permite a eleição direta para presidente mesmo na segunda metade do mandato, caso Temer realmente saia do cargo. O vereador pedetista é outro que se manifesta preocupado com a instabilidade política.
– O destino político do país fica comprometido. É muito difícil saber quais os próximos desdobramentos de tudo o que está acontecendo. Desde que soube da notícia, eu defendo as eleições diretas e gerais.