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DIÁLOGOS

Carol Midori: "Quero fazer de Cabo Frio um exemplo de proteção animal"

Mais votada este ano, protetora assume vaga na Câmara após bater na trave em 2016

24 novembro 2020 - 09h00Por Rodrigo Branco

A persistência da protetora da causa animal Caroline Midori (Democracia Cristã) foi recompensada. Quatro anos após ‘bater na trave’, e perder a vaga na Câmara de Cabo Frio por pouco, Carol teve mais do que o dobro de votos e assegurou a primeira colocação entre os mais votados em 2020, com 2.450 votos.

O cacife eleitoral obtido já a faz ser cortejada por lideranças políticas, mas ela tem pretensões nada modestas. Em entrevista à Folha, ela confirma que apresentará o nome para disputar a presidência da Casa, mas que a sua prioridade é lutar pela causa que foi eleita.

No bate-papo, Carol fala dos projetos, da futura relação com o governo e de machismo na política. Ela será uma das duas únicas mulheres no Legislativo cabo-friense, juntamente com Alexandra Codeço (Republicanos).

– Eu me sinto muito honrada de fazer parte da força da mulher dentro da Câmara Municipal, sabendo que é um meio extremamente machista, que nós somos desrespeitadas por sermos mulheres, coisa que eu já sofri antes mesmo de entrar na Câmara, apenas por ser candidata. Mas não vou deixar nada disso me abater – dispara.

Folha dos Lagos – Você esperava um resultado tão expressivo como o que obteve no último domingo?

Carol Midori – Eu tinha muita esperança que o nosso trabalho fosse, de fato, reconhecido porque nós não paramos nenhum dia. Eu sempre falo ‘nós’ porque eu não faço nada sozinha. Eu sempre conto a boa vontade e sempre tem alguém me ajudando. A gente não parou nesses quatro anos, nem por um dia, mesmo com muita dificuldade, sem ter nenhum retorno financeiro, só gastando. Eu só não imaginava que tivesse uma votação tão expressiva. Imaginei, sim, que a gente teria uma boa votação. Estava com muita esperança de conseguir entrar, mas essa votação nunca passou pela minha cabeça.

Folha – A que você atribui esse desempenho nas urnas?

Carol – Acho que foi o nosso trabalho árduo, duro, incansável e diariamente. E eu tive um ponto positivo porque a primeira vez que eu vim candidata, eu não conhecia Tamoios, tinha medo de vir sozinha. E, quando eu passei a trabalhar na Superintendência, em que passei a vir quatro vezes por semana , vi que aqui precisa de muito apoio quanto à causa animal. A demanda de animais abandonados aqui é muito grande. E quando eu consegui o apoio de uma veterinária, que me ajuda muito, consegui consolidar o meu trabalho aqui. E eu tenho certeza que isso foi extremamente importante para a minha campanha, principalmente o nosso trabalho muito sério e feito com muito amor em todos esses anos. É uma missão de vida, todo mundo viu que meu trabalho nunca parou nem com a Superintendência. Isso foi o que fez a gente explodir de votos, porque hoje a população tem consciência de que a gente trabalhou em prol de um bem maior, o que, no nosso caso, são os animais.

Folha – De que forma você acha que a sua experiência na vida pública pode te ajudar na Câmara?

Carol – Fiquei um tempo muito breve lá na Superintendência, mas já deu para sentir que como tudo ali é muito burocrático e como a gente lutou para colocar nossos projetos em prática e, infelizmente, não deu tempo. Isso já me deu uma noção da forma prática da burocracia do poder público. Não basta ter boa vontade. Tem que tem conhecimento lá dentro e jogo de cintura para conseguir botar em prática os seus projetos. Tive muita dificuldade para conseguir qualquer insumo para o Canil, na época, por falta de verba, mas com muita persistência a gente conseguia. E essa experiência vai ser muito importante lá na Câmara. Mas com a consciência de que nada vai ser de mão beijada, e que nós vamos ter ralar muito para colocar em prática o que eu pretendo para Cabo Frio.

Folha – Você já marcou alguma visita à Câmara para conhecer o funcionamento e as instalações?

Carol – Por ora, não marquei nada com ninguém.

Folha – Quais os principais projetos de lei que você vai apresentar na Câmara?

Carol – O principal projeto de lei, que para mim é o básico já deveria existir em Cabo Frio, é o que a Prefeitura tem obrigação: oferecer castração gratuita de animais para a população de baixa renda e para os animais de rua, para que a gente possa ter um controle da natalidade dos animais de rua. Esse é o principal projeto. É claro que eu quero botar vários outros projetos. Ter uma lei municipal que aumente a proteção aos animais contra os maus-tratos, por exemplo. E outra para implantar a microchipagem, que é muito importante para a gente localizar o dono que abandonou o animal na rua. Daí conseguimos ver o animal e penalizar aquela pessoa que acha normal ir à rua e abandonar o cachorro dela. Então, não adianta a gente ter um Canil Municipal e lidar com a falta de responsabilidade das pessoas que abandonam. A microchipagem vai inibir muito isso.

Folha – Além da causa animal, a quais outras pautas que você pretende se dedicar na Câmara?

Carol – Como vereadora, serei uma fiscalizadora da Prefeitura, sempre em prol da população. Não só pela memória do meu pai, mas por toda a população de Cabo Frio, que confiou em mim. Isso em todas as áreas. Na Saúde, eu sofri na pele a falta de cuidado com a vida do ser humano, com meu pai na época, por não ter um atendimento público para que a gente pudesse encaminhá-lo. Sei o que a população de Cabo Frio sente com a falta de respeito com a vida do ser humano. Serei uma grande fiscalizadora da Prefeitura e do prefeito. Vou sempre votar em prol da população em todas as áreas: Saúde, Educação, Turismo. Lembrando que o principal foco em relação aos nossos projetos serão os animais, pois foi para isso que eu fui eleita. Eu jamais vou deixar de olhar para toda população.

Folha – Como candidata mais votada, você pensa em colocar o seu nome para concorrer à presidência da Câmara?

Carol – Com certeza. Como lá dentro é feita a questão da liderança, para ser presidente da Câmara, com certeza coloco o meu nome e farei o meu melhor, sempre em prol dos que precisam da gente, não apenas os animais, mas toda a população. Fui eleita para representar o povo que confiou em mim para me colocar lá dentro.

Folha – Como enxerga o simbolismo de você ser uma das poucas mulheres a conseguir ser eleita para a Câmara de Cabo Frio e dentro de um meio tão machista como a política?

Carol – Eu sempre comentei que o meio mais machista que existe no Brasil é a política. Isso está enraizado, é uma cultura do Brasil. Foram eleitas apenas duas mulheres. Eu achei muito pouco. Mas o próprio número de mulheres candidatas nos partidos era muito baixo. No meu partido, eu era minoria. Eram pouquíssimas, sempre com a predominância dos homens. Tenho muito orgulho de ser uma mulher, estar representando outras mulheres na Câmara Municipal. Todas as mulheres empoderadas, independentes, que desejam alcançar todos os seus objetivos. Acho que mais mulheres devem entrar na política ou para quaisquer outras áreas que elas prefiram. Lugar de mulher é onde ela quiser. Eu me sinto muito honrada de fazer parte da força da mulher dentro da Câmara Municipal, sabendo que é um meio extremamente machista, que nós somos desrespeitadas por sermos mulheres, coisa que eu já sofri antes mesmo de entrar na Câmara, apenas por ser candidata. Mas não vou deixar nada disso me abater. Estarei lá firme e forte.

Folha – Como será sua relação com o governo? Vai ser oposição?

Carol – Fiscalizar eu fiscalizaria mesmo se fosse o candidato a prefeito que eu apoiei, o doutor Serginho. Em relação ao governo, não é minha pretensão entrar para ser oposição. A minha intenção é propor projetos e políticas públicas em prol da minha bandeira, que são os animais, e também servir à população de Cabo Frio. É claro que dependendo da posição do prefeito. Eu posso, sim, ser oposição. Mas eu não entro com essa mentalidade. Acho que o nosso objetivo é o bem da população, se estendendo aos animai abandonados. Estou aberta a qualquer conversa, se for bom para o povo e para os animais. Acho que devemos nos unir para fazer um bom mandato e parceria Câmara-Prefeitura.

Folha – Num eventual convite para fazer parte do governo na sua área, você pensaria a respeito?

Carol – Voltar ao cargo de superintendente eu não aceitaria porque hoje estou como vereadora, e não há como acumular as duas funções. Mas, com certeza, eu estou disposta para ajudar da melhor forma possível, até porque já tivemos a experiência com esse governo que passou, que foi da incompetência com relação aos animais de rua de Cabo Frio, não só pelo Canil Municipal, mas pela superintendência, que nem existe mais. Quero que as coisas passem a funcionar de forma melhor. Vou sempre estar aberta a auxiliar a causa animal na cidade.

Folha – Qual recado você dá ao povo cabofriense sobre o seu mandato na Câmara?

Carol – Gostaria de agradecer a todos que confiaram em mim. Vou representar cada voto. Com certeza, cada pessoa que confiou no meu trabalho e acredita no meu propósito não vai se decepcionar. Quero fazer de Cabo Frio um exemplo de proteção animal no Brasil. Saiba que vocês colocaram uma mulher que está determinada a lutar pelos nossos animais de rua e por nossa população.