O rumo da eleição presidencial deste ano só deve ser conhecido por volta das 20h deste domingo, dia 2 de outubro. Contudo, de antemão, é possível dizer que o atual presidente Jair Bolsonaro (PL) não deve ter na Região dos Lagos, nem de longe, o consagrador desempenho de quatro anos atrás, quando teve um percentual médio de 76,7% dos votos válidos em segundo turno contra o então candidato do PT, Fernando Haddad. A vitória mais ampla nos sete municípios foi obtida em São Pedro da Aldeia, onde o militar da reserva recebeu 80,60% dos votos válidos contra 19,40% do petista.
Naquele ano, já no primeiro turno, a supremacia do atual candidato à reeleição se fez perceber após a totalização das urnas. Em Cabo Frio, por exemplo, Bolsonaro obteve 67,40% dos votos válidos, o que significa ter recebido dois a cada três votos dos eleitores cabo-frienses, excetuando-se os brancos e nulos. Isso significa que, se Cabo Frio fosse um país, a fatura teria sido liquidada já no primeiro turno, naquela ocasião. Contudo, a expectativa para este ano é que o cenário seja bem diferente na votação do próximo domingo, pelo menos na opinião de analistas ouvidos pela Folha dos Lagos.
Ainda que a previsão seja de nova vitória bolsonarista nos municípios da região, a perspectiva é que ela seja mais modesta frente ao candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, que tenta voltar ao Palácio do Planalto, que ocupou por oito anos (2003-2010).
O professor de história e analista político Luiz Francisco de Moura, o Chicão, lembra que, em Cabo Frio, há quatro anos, Haddad chegou a ficar atrás do candidato do PDT, Ciro Gomes, que está novamente na disputa eleitoral deste ano. No entanto, ele diz que sondagens feitas este ano mostram que a disputa será mais apertada, embora com vantagem para o atual presidente.
– Pelo que estou vendo de algumas pesquisas, o Lula está com uma votação maior do que a soma de Ciro e Haddad tiveram no primeiro turno em 2018, mas inferior à de Bolsonaro. Creio que seja uma diferença boa para o Bolsonaro, mas muito menor do que foi em 2018 – avalia.
Chicão afirma que a queda de popularidade do atual presidente se deve à gestão do país na pandemia, aos ataques contra mulheres e as denúncias de corrupção, principalmente na Educação. De outro lado, o professor lembra que o perfil do eleitorado regional dos Lagos é considerado mais conservador, o que influencia no resultado.
– A região apoiou a ditadura militar, e aquela “passeata da família”, que resultou no golpe de 1964, foi imensa aqui. Quando Collor estava prestes a ser cassado, ele tinha popularidade alta em Cabo Frio. Uma coisa impressionante. E mesmo quando Lula ganhou a eleição pela primeira vez, ele não foi o mais votado aqui, foi o Garotinho – explica Chicão, lembrando ainda da força do “voto evangélico” na região, comparado a outros lugares do Brasil.
Estudioso de estatísticas e pesquisas, o professor Paulo Roberto Araújo também acredita em uma disputa mais parelha este ano, entre Lula e Bolsonaro, chegando a projetar um cenário de empate técnico na região. Entretanto, ele faz ressalvas quanto à interpretação dada aos últimos resultados das pesquisas, que dão possibilidade de vitória de Lula no primeiro turno.
Segundo Paulo Roberto, apenas a pesquisa de boca de urna, realizada no dia da eleição, é capaz de captar com maior exatidão a tendência de resultado.
– A pesquisa que realmente vai dizer (a tendência) é a de boca de urna. Então, a pesquisa de intenção de voto não tem a capacidade de dar certeza de que tal candidato vai ganhar ou não. É um retrato da intenção de voto naquele momento. Então, tem que levar em consideração essa questão, e eu estou vendo que muitas pessoas não estão pensando nisso – analisa.