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DIÁLOGO COM A FOLHA

Alessandro Molon: "Estamos jogando o futuro da democracia nessas eleições"

Pré-candidato pelo PSB ao Senado afirma que acredita em união da centro-esquerda contra Bolsonaro

05 fevereiro 2022 - 10h10Por Redação

Pré-candidato ao Senado Federal pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB), o deputado federal Alessando Molon aposta em uma coalização de centro-esquerda para derrotar os candidatos apoiados pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) no Rio de Janeiro. Nem mesmo a entrada do presidente da Alerj, deputado estadual André Ceciliano (PT) e o risco de perder uma vaga no Congresso Nacional no ano que vem abalam a confiança de Molon, que esteve em Cabo Frio no último fim de semana para um encontro partidário e uma agenda ao lado do prefeito José Bonifácio (PDT).

Pelo raciocínio do parlamentar, os candidatos de orientação progressista precisam se unir, uma vez que apenas uma vaga estará em disputa para o Senado este ano (em 2018, foram duas). De acordo com Molon, com apenas um terço de renovação na Casa a partir de 2023, a aliança é necessária para dar apoio a um eventual governo do ex-presidente Lula (PT) no ano que vem. Atualmente, os três senadores pelo Rio – Romário; Carlos Portinho e Flávio Bolsonaro – são do partido do presidente.

– Eu sinceramente acredito que vai acabar predominando a preocupação, inclusive entre os companheiros do Partido dos Trabalhadores, de retomar uma dessas três vagas, que hoje são todas de bolsonaristas para o campo democrático. O presidente Lula vai precisar de apoio no Senado para governar. Nessa eleição, apenas um terço do Senado será renovado. Na última eleição, foram dois terços. Portanto, nós não podemos nos dar ao luxo de perder vagas dentre essas 27 que estarão em disputa – disse Molon à Folha, antes de uma palestra para integrantes do PSB na Associação Atlética Cabofriense, no ultimo dia 28.

Confira abaixo a entrevista:

Folha dos Lagos – Como é fazer política nesse momento em que as pessoas a negam, chegando mesmo a posições radicais?

Alessandro Molon – Fazer política nesse momento é fazer política no momento mais decisivo das nossas vidas. Essa próxima eleição será a eleição das nossas vidas. Será a eleição da minha geração, por exemplo. Porque estamos jogando o futuro da democracia nessas eleições. A experiência de outros países mostra que líderes autoritários como Bolsonaro, se reeleitos, desempenham um segundo mandato muito pior e muito mais autoritário que o primeiro. Porque recebem a reeleição como uma confirmação, uma espécie de cheque em branco de que podem atentar contra a democracia e contra as instituições. Por isso, é fundamental evitar que ele seja reeleito. É preciso derrotá-lo para que a democracia vença e floresça no Brasil. Portanto, fazer política no país nesse momento é fazer política num momento em que o país precisa da gente, em que o nosso futuro nos exige coragem de disputar eleições, de disputar mandatos, inclusive de correr riscos. Eleições que não estão ganhas, mas que podem ser vencidas com trabalho sério, com debate qualificado. Então me sinto na minha missão de fazer política nesse momento em que eu posso defender como nunca a minha nação, o meu povo, e o futuro do meu povo, inclusive dos meus filhos e netos. 

Folha – O que espera do tom da campanha este ano?

Molon – Sem dúvida nenhuma, vai ser uma campanha tensa e até agressiva. Porque nós estaremos disputando contra aqueles que não têm limites em sua conduta. Não respeitam limites éticos, limites morais e nem sequer limites legais. Atropelam a lei, atropelam a ética e atropelam padrões mínimos de comportamento e de respeito, de civilidade, de verdade. Será uma campanha muito difícil, muito dura, mas por isso mesmo muito decisiva para a gente e para o futuro do país. Por isso mesmo, estamos preparados para essa campanha. Vamos responder as mentiras com verdade. Vamos derrotar as mentiras espalhando a verdade. Vamos derrotar o ódio espalhando o respeito, o amor ao país, o amor ao próximo. Nós vamos derrotar o discurso de discriminação com um discurso de respeito às pessoas, de respeito a quem pensa diferente da gente, inclusive os nossos adversários. Nós não vamos retrucar a violência com violência. Vamos retrucar os ataques violentos com a exigência do respeito à lei, como recurso às instituições, à legalidade, ao Ministério Público, ao Judiciário, à polícia, se for necessário. Mas impondo o limite desse debate dentro das linhas da legalidade, não fora dela, como Bolsonaro e seus aliados costumam praticar.

Folha – Dados os resultados das últimas pesquisas e o momento do governo, como avalia a situação do presidente Bolsonaro?

Molon – Eu considero que o presidente da República e seus aliados se encontram em um momento de decadência. Eu acredito que eles estão muito mais enfraquecidos do que estavam em 2018 porque agora o povo brasileiro já viu o que é o desgoverno Bolsonaro. Não há mais a possibilidade de fazer promessas vazias e falsas que foram feitas em 2018. Agora as pessoas sabem o que é viver num desgoverno como esse: desgoverno de incompetência, de incapacidade, de falta de projeto, de falta de visão de país, de falta de conteúdo. E apenas de ataque, de ódio, de discriminação, de desrespeito, que é o que a gente vê do governo e de seus aliados. Então eu acho que hoje eles conseguem enganar menos gente. Ainda tem gente que está sendo enganada por ele, mas que vai se dar conta disso ao longo da campanha, de forma que acho que o caminho deles é ladeira abaixo. Não acho que, por isso, a eleição esteja ganha. Vai ser uma eleição dura, difícil, mas que hoje temos melhores condições de vencê-las do que nossos adversários. 

Folha – O discurso de ser uma figura de fora da política, apesar dos sucessivos mandatos no Congresso, terá que ser deixado de lado por ele, na sua opinião?

Molon – As pessoas que acreditavam que ele representava o combate à corrupção, que ele representava uma nova forma de fazer política, que ele ia lutar contra tudo isso que ‘esta aí’, como ele sempre dizia, viram que ele, ao contrárío, sempre foi do Centrão. Infelizmente, durante a campanha passada, ele conseguiu enganar milhões de brasileiros e fingir quer não era isso, mas ele sempre foi isso. Só que agora as pessoas sabem. Sabem que ele entregou o governo nas mãos do Centrão, entregou a execução orçamentária, criou orçamento secreto de R$ 16 bilhões para entregar nas mãos do Centrão para ter votos na Câmara para aprovar projetos ruins para o país. Então essas pessoas hoje estão se dando conta de que esse é o desgoverno Bolsonaro. Então eu considero que tudo isso pesa contra o presidente da República e por isso serão elementos que vão pesar contra a sua reeleição e ao nosso favor.

Folha – Como avalia a entrada do presidente da Alerj, André Ceciliano, na corrida pelo Senado, uma vez que vocês dois, em tese, disputam votos no mesmo eleitorado de centro-esquerda?

Molon – Eu considero natural que o Partido dos Trabalhadores apresente um nome de um quadro seu, e se trata de um quadro importante do PT, um deputado estadual importante, que é o deputado André Ceciliano como um pré-candidato. É natural e o PT tem todo o direito de apresentar esse nome, mas eu sinceramente acredito que nós, dos partidos do campo progressista e democrático, vamos confluir ao longo dos próximos meses para uma unidade maior, uma unidade inclusive em torno da disputa da vaga do Senado. Porque só há uma vaga em disputa. Eu sinceramente acredito que vai acabar predominando a preocupação, inclusive entre os companheiros do Partido dos Trabalhadores, de retomar uma dessas três vagas, que hoje são todas de bolsonaristas, para o campo democrático. O presidente Lula vai precisar de apoio no Senado para governar. Nessa eleição, apenas um terço do Senado será renovado. Na última eleição, foram dois terços. Portanto, nós não podemos nos dar ao luxo de perder vagas dentre essas 27 que estarão em disputa. Serão apenas 27 vagas, numa eleição majoritária, de turno único. Então, os fatores 'grau de conhecimento' e 'intenção de votos nas pesquisas' são importantes para uma corrida tão curta, tão rápida e tão arriscada de uma única vaga, que tem ser conquistada em um único turno. Então, sinceramente eu acredito que entre os nossos partidos, essa visão vai predominar, mais do que a qual partido pertence esse ou aquele candidato. Acho que a preocupação central nossa vai acabar sendo qual dos nossos candidatos têm mais condições de vencer essa disputa e conquistar essa vaga para o campo democrático. Eu acredito no diálogo, vou trabalhar com isso, vou continuar conversando com todos os partidos do nosso campo e inclusive com os companheiros do Partido dos Trabalhadores defendendo essa visão.

Folha – Acredita que esse raciocinio vai vigorar em torno do nome do deputado Marcelo Freixo para o Governo do Estado?

Molon – Eu acredito que essa visão vai acabar presidindo. A decisão sobre a chapa que vai acabar se conformando, com todos os partidos. Acho que a tendência nossa será de um afunilamento para a construção de uma chapa progressista, democrática. Isso não se faz impondo nenhuma candidatura a ninguém. Por isso que eu digo que eu respeito que os companheiros do Partido dos Trabalhadores apresentem um nome. Os demais partidos naturalmente têm o direito de apresentar também, mas eu aposto num diálogo e nessa capacidade de convencimento de que é preciso chegarmos juntos à melhor escalação desse time, que vai disputar um campeonato em nome de todos nós e não um campeonato que a gente pode perder. Não dá para tirar segundo lugar, pois só vai ter uma vaga.

Folha – Como foi a conversa com o prefeito José Bonifácio? Em Cabo Frio, PDT e PSB caminham juntos, mas o ex-prefeito de Niterói, Rodrigo Neves, do PDT, também é pre-candidato ao Governo do Estado.

Molon – O prefeito José Bonifácio me recebeu com muito carinho. É um amigo querido, é alguém por quem eu tenho a maior admiração e respeito. Eu tive a honra de apoiá-lo para prefeito na última eleição e pra mim isso foi um privilégio. Eu já havia apoiado o José Bonifácio para senador, na eleição de 2018, e fiz isso com muito prazer, porque respeito muito ele, o quero muito bem. E considero que ele vai fazer uma gestão muito importante para a região como foi a gestão anterior dele. Ele foi uma pessoa que marcou a vida na cidade e tenho certeza que marcará de novo. Eu me coloquei à disposição dele para, se Deus quiser, como senador do Rio de Janeiro, trazer investimentos para a região, lutar pela região para trazer emprego e renda, trazer projetos para cá. E, ao mesmo tempo, de construirmos esse diálogo das nossas forças. Naturalmente, sobre quem ele vai apoiar ou não, não posso falar por ele, mas eu tenho certeza que o nosso diálogo vai fluir bem e vamos caminhar para estar juntos. E conversamos sobre a importância de, se não for possível, estarmos todos juntos no mesmo palanque, de se construir um ambiente de respeito, de cordialidade entre os progressistas e democratas, de forma que as pontes fiquem preservadas do que vamos ter pela frente. Então, eu tenho certeza que o prefeito José Bonifácio é  muito importante para isso. Ele é muito querido e respeitado por todos, independentemente de partido, é uma pessoa ímpar. Conversamos sobre os desafios da cidade, sobre desenvolvimento sustentável, sobre energias renováveis, reciclagem, coleta seletiva, geração de emprego renda com isso. E essa região, que tem uma natureza tão fantástica, esse meio ambiente tão fantástico e o potencial disso para a geração de emprego e renda pelo turismo, com hotéis, pousadas, bares, restaurantes, casas de entretenimento. Gerando também emprego e renda para o comércio local, a produção local. Então foi uma conversa muito propositiva também de pensar caminhos para a região e melhorar a vida de todos.

Folha – Qual a agenda que considera prioritária para a região?

Molon – Acho que a gente tem, de um lado, reforçar os investimentos em Turismo, porque o Turismo é uma indústria limpa, que não é poluente, que gera emprego e renda. Esse é um potencial natural dessa região. Ao mesmo tempo, acho que é possível gerar emprego e renda em outras áreas aqui. Então, por exemplo, nessa questão de construções sustentáveis, tanto de moradias, quanto de escolas, postos de saúde. Criar emprego e renda na construção civil, mas uma construção civil moderna, sustentável, com coleta de água da chuva, com energia solar, com materiais que demandem menos ar condicionado, refrigeração, e assim por diante. Pensar, como fazer, atender às necessidades da região, de uma forma nova, já que o mundo caminha para o futuro sustentável. Esse é o futuro do planeta, o que cimento global é o grande risco para o planeta. Aqui na região, por exemplo, o aquecimento global vai acabar com muitas espécies que existem hoje aqui e que atarem, por exemplo, mergulhadores, turistas para a praia. Os corais vão acabar se o aquecimento global continuar. Se nós virmos a Terra se aquecer 2 graus centígrados, não haverá mais corais na face da Terra, é a perspectiva apresentada pelos cientistas no último relatório do TCC. Ou seja, adotar medidas que evitem o aquecimento global e que preparem a região para as mudanças climáticas, isso pode gerar emprego e renda, reduzir as injustiças sociais, gerando por exemplo, moradias, e ao mesmo tempo fazendo isso de uma forma sustentável.