“Para um homem festeiro, não comemorar o aniversario da cidade deve estar dando dor de cabeça”. Com esta frase o radialista Amaury Valério (Rádio Ondas FM) abriu a entrevista que fez com o prefeito Alair Corrêa na manhã de ontem, por telefone. Do outro lado da linha, uma voz, que apresentava tristeza, concordava: “A minha vida toda foi de prefeito festeiro mesmo, da alegria, de muitas festas. Mas os últimos anos têm sido de muita tristeza”, disse Alair, que manteve o tom de lamentação até o momento em que fala de uma possível saída da prefeitura antes de 31 de dezembro: “Vão ter que me aguentar até o último minuto do ano de 2016. Só saio às 23h59 do dia 31. Ninguém me tira antes. Só Deus”.
Um dos políticos mais experientes da história contemporânea de Cabo Frio, Alair, aos 74 anos, acumula oito mandatos na carreira política – dentre estes, quatro como prefeito da cidade. Mas certamente o mandato de 2012-2016 é o que lhe impõe mais desafios: “Deus me deu essa tarefa de administrar esse caos, mas também me deu saúde para aguentar até o final”, disse em certo momento da entrevista. Temas como protestos – inclusive os Guardas Municipais fecharam a avenida da rádio na hora da entrevista – pagamento de servidores, empréstimo e outros deram a tona da conversa que durou cerca de 35 minutos. “Eles devem achar que estou aí (risos)”, se referindo aos guardas que ocuparam a avenida.
Festas – “O problema vem há dois anos, quando suspendi todos os shows da cidade. Nunca mais fizemos festas, apenas as tradicionais. A minha vida toda foi de prefeito festeiro mesmo, de alegria, de muitas festas. Mas os últimos anos têm sido de muita tristeza por eu não conseguir aquilo que sempre fiz. Sempre fiz festa, mas não só não consigo fazer, como não consigo pagar em dia os servidores. É uma tristeza muito grande no aniversário da cidade não poder fazer desfile porque não tem como comprar o uniforme dos alunos, não tem como comprar um lanche para distribuir pra eles”.
Empréstimo – “Eles pensaram: vamos matar Alair e a cidade junto. Faz oito anos que meu filho Marcelo Corrêa não toma cerveja. Entrou num bar semana passada para pode jogar dominó e na quinta-feira, na Câmara, eles gritaram: cachaceiro, cachaceiro, cachaceiro. Uma cambada que parece não estudou porque foi pra uma casa Legislativa para ofender o filho do prefeito dessa maneira. Intimidaram os vereadores para não aprovar o empréstimo. Essa situação que a gente está vivendo hoje, os únicos culpados são aqueles que trabalharam contra o empréstimo de Cabo Frio”.
Obras – “Essa cidade, por onde você passar, vai encontrar o dedo de Alair. Pode se esgoelar. Passo por impopularidade, mas minha história está registrada, ninguém vai apagar. Mesmo com a crise, pavimentamos mais de 100 ruas, fizemos o Boulevard Canal, a nova Orla, a pista de Skate. O novo prefeito que entrar não vai fazer o que eu fiz. Aí eu lembro do ‘pede pra sair, Alair’ e respondo: É ruim, hein! Vão me aguentar ate o último minuto. Só saio às 23h59 do dia 31. Ninguém me tira antes. Seis promotores se reuniram e pediram meu afastamento. A Justiça negou”.
Buracos – “A cidade está cheia de buracos nas avenidas, nas ruas e a gente não consegue recursos para tapar estes buracos. Começamos a tapar e veio a chuva e acabou com tudo. Hoje são tantos que não temos dinheiro para comprar tanto asfalto. Estamos no final da linha do governo”.
Popularidade – “Eu já fui aclamado como o melhor prefeito do Brasil e hoje estou em um outro plano. Hoje estou como o prefeito da impopularidade. O povo não tem noção do que é você arrecadar 60 milhões e de repente cair para 30 milhões”.