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BACAXÁ X CABO FRIO

Professora sofre assédio em ônibus e denuncia descaso no registro da ocorrência

Vítima disse que policiais civis fizeram "pouco caso" nas delegacias de Cabo Frio e Araruama

22 junho 2022 - 13h12Por Cristiane Zotich

Era pra ser só mais uma viagem de volta pra casa depois de um dia de trabalho. Mas para a professora Laryssa Costa, de 25 anos, viagem das 17h20 da linha Bacaxá X Cabo Frio, na última segunda-feira (20) foi um verdadeiro filme de terror: além de ter sido assediada dentro do veículo, ela foi ignorada pelos passageiros, pelo motorista, e no dia seguinte também pelos policiais (homens) que estavam de plantão na delegacia da mulher de Cabo Frio e de Araruama.

À Folha, Laryssa contou que mora em Cabo Frio, mas segunda e terça dá aulas em Bacaxá. Na segunda, ao sair do trabalho, pegou o ônibus da linha B460 da Auto Viação Montes Brancos (que pertence ao grupo Salineira).

Uns dois pontos depois um senhor de idade subiu no ônibus. O veículo estava vazio, mas ele sentou do meu lado. Estava segurando um pneu. Cansada, eu dormi, e acordei no susto com ele passando a mão por dentro da minha coxa, na virilha. Assustada eu dei um pulo e ele também se assustou. Até cheguei a pensar que estava imaginando coisas. Então virei a cabeça pra janela, fechei os olhos e fingi que estava dormindo de novo. Foi quando ele, novamente, passou a mão em mim e eu comecei a gritar pedindo que tirassem ele do meu lado porque ele estava passando a mão em mim  contou Laryssa.

Na hora, a professora disse que os poucos passageiros que estavam no ônibus ficaram apenas olhando.

Até que um rapaz saiu do banco onde estava e veio me perguntar o que o idoso havia feito. Eu estava tremendo, mal conseguia falar, mas contei que ele tinha passado a mão em mim. E o idoso continuava do meu lado e negando. O rapaz, então, tirou o idoso do meu lado e mandou o motorista parar o ônibus. A essa altura já estávamos em Araruama, e o idoso foi expulso do ônibus. Depois disso, o rapaz ainda tentou me acalmar e depois foi pro banco dele, e o restante dos passageiros e o motorista pareciam fazer de conta que nada tinha acontecido.

Laryssa lembra que quando o idoso sentou do lado dela, chegou a mandar mensagem pra família. 

Havia vários bancos vazios, mas ele sentou no mesmo que eu, quase que em cima de mim. Ainda comentei na mensagem: "gente, será que ele vai pra Cabo Frio também", mas sem maldade, achando apenas ele meio sem noção pela forma como se jogou em cima de mim quando sentou.

No dia seguinte, ela foi direto à delegacia da mulher de Cabo Frio, mas só havia homens de plantão.

Eles fizeram pouco caso da situação. Perguntaram "mas ele tocou na sua bunda?", "você sabe o nome dele?", "sem nome a gente não pode fazer nada". Eu respondi "o homem me assediando e você queria que eu perguntasse o nome dele?". Depois disso disseram que não podiam fazer nada porque o caso foi em Araruama e eu tinha que ir pra delegacia de lá. 

Em Araruama, mais problemas: no núcleo de atendimento à mulher da delegacia também só havia policiais homens, e segundo Laryssa, eles não queriam tratar o caso como assédio. 

Na cabeça deles, se não fui estuprada e se não estava sem roupa, então não significava nada. Mostrei as imagens no celular, e eles me disseram que imagem não serve pra nada, mas que se eu quisesse anexá-las como prova, tinha que comprar um pen drive do meu bolso e entregar na delegacia. Eu fui assediada e ainda tive que pagar R$ 45 pra anexar as imagens como prova na ocorrência. Levei duas horas pra ser atendida, tive que contar minha história na frente de todo mundo na delegacia, tive que me expor na lan house pra passar as imagens do meu celular pro pen drive, e eu tenho certeza de que não vai dar em nada. É por isso que muitas mulheres não denunciam. Fui humilhada e exposta três vezes: pelo homem que me assediou, pelos passageiros e pelo motorista que me ignoraram, e pelos policiais que fizeram pouco caso da situação. Estou me sentindo um lixo - desabafou Laryssa, completando: "O que me deixa mais inconformada é que ele estava no telefone falando com a esposa, então eu imagino que ele seja pai, avô. E se fez isso comigo, quem garante que não faz com outras pessoas também?" questionou.

A reportagem entrou em contato com a Polícia Civil e a Auto Viação Salineira e aguarda um posicionamento. 

(*) Leia reportagem completa sobre o assunto na edição impressa da Folha, nas bancas nesta sexta-feira (24).