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Professor agredido em Cabo Frio: 'escola perdeu para o banditismo'

Antônio César Trindade, 57, foi espancado por alunos na Escola Municipal Edith Castro

10 outubro 2017 - 11h45Por Rodrigo Branco | Foto: Reprodução Google Street View
Professor agredido em Cabo Frio: 'escola perdeu para o banditismo'

Em 17 anos dedicados ao magistério, o professor de Ciências e Biologia Augusto César Trindade Marques, 57 anos, jamais imaginou passar pelos momentos vividos na tarde da última sexta-feira, na Escola Municipal Edith Castro dos Santos, em Aquárius, segundo distrito de Cabo Frio. 

Augusto César foi agredido por um grupo de mais de dez alunos do 7º ano após discutir com um deles, um jovem de apenas 14 anos. Com escoriações na boca, no rosto e nas mãos, o docente fez ontem o exame de corpo de delito. Mas se as marcas físicas começam a desaparecer aos poucos, as psicológicas ele irá guardar ainda por muito tempo. A ponto de sentir-se sem rumo.

– Nesse momento, não consigo raciocinar direito. Estou confuso. Recebi uma solidariedade grande, mas não posso afirmar nada – diz.

Tudo começou depois que o professor liberou o adolescente que liderou as agressões para ir ao banheiro. Uma regra interna só permite que um aluno seja liberado para sair de sala de cada vez. Com a demora do rapaz, outros alunos que desejavam sair inquietaram-se, o que levou Augusto César a procurá-lo pelas dependências da escola. Segundo o professor, ao encontrá-lo conversando com outros jovens, o repreendeu. 

Depois de ser xingado pelo jovem, seguiu-se uma discussão, durante a qual Augusto César afirma ter sido ameaçado e agredido. Ao tentar se defender dos ataques, outros alunos passaram a bater nele. Ele acredita ter sido atacado por cerca de 15 jovens. 

Uma professora de Educação Física teria tentado intervir, mas também foi agredida. A Polícia Militar teve que ser chamada para acabar com a confusão. No mesmo dia, um boletim de ocorrência foi registrado na 126ª DP (Cabo Frio). 

O professor já adiantou que pretende entrar com uma representação no Ministério Público contra o menor e a família dele, mas antes disso, ele se preocupa com a própria integridade física, pois foi novamente ameaçado.

–  A secretaria de Educação já se manifestou dando o apoio necessário e a direção da escola disse que irá tomar as medidas cabíveis. No momento, quero resguardar a minha integridade. Ontem (anteontem), recebi várias ameaças pelas redes sociais. Mas nem respondo. Vou lá e bloqueio – disse.

O Conselho Tutelar de Tamoios também foi acionado e está buscando mais detalhes sobre o incidente. Segundo a conselheira responsável, Graziele Casemiro, o órgão irá acompanhar tudo de perto.

– Às vezes o problema não está com a escola, mas com os próprios pais – comentou a conselheira. 

Para o professor agredido, contudo, a questão é a degradação do sistema público de Educação. Depois de quatro anos fora, ele foi convidado a retornar à escola no começo deste ano e diz ter encontrado uma situação muito pior que antes.

– Encontrei um quadro totalmente desfavorável. A escola perdeu para o banditismo. O professor não é mais o exemplo, o bandido é que é. Mas não é um problema isolado, é do Brasil inteiro. Não vamos tapar o sol com a peneira. O grande problema é o sistema – desabafa o docente.

* Matéria completa na edição desta terça (10) da Folha dos Lagos.