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Nivaldo

O mapa das últimas horas de Nivaldo Marques

Amiga que encontrou corpo foi uma das últimas a estar com professor

18 junho 2016 - 19h00Por Fernanda Carriço
O mapa das últimas horas de Nivaldo Marques

“Quando entrei na casa, o vi com o pé amarrado no pé da cama, com os braços para trás, também amarrados e com um cabo de computador enforcado no pescoço. A minha reação foi correr e desamarrar o pescoço dele, achei que poderia estar vivo. Não tinha marca de violência pelo corpo. Mas aí, quando desamarrei, vi que ele estava gelado e morto. Foi a pior sensação que tive na minha vida”.

O depoimento narra as cenas vistas por uma das amigas do professor Nivaldo Marques, 43, que o encontrou morto em casa, na Vila do Ar, Cabo Frio, na segunda-feira de 25 de abril. Ela, que prefere não se identificar, era uma das melhores amigas do professor que foi brutalmente assassinado e esteve ao seu lado no último dia de vida dele.

Segundo a testemunha, eles iriam viajar naquele fim de semana, mas desistiram. Resolveram, então, fazer um churrasco no sábado (23). Lá ficaram até perto das 23h30. Eram cinco pessoas na casa. Ela e Nivaldo foram embora no mesmo carro e, ao passarem pelos bares da Nilo Peçanha, avistaram alguns alunos.

– Descemos e bebemos umas cervejas por ali. Ficamos pouco tempo e, por volta de 0h30, fomos embora. O celular dele começou a tocar insistentemente. Tentava atender e caía. Ele disse que era o namoradinho dele. Então, resolvemos ir embora e ele pediu para parar no HSBC da Avenida Assunção para sacar dinheiro. Deixei-o no banco e dei a volta de carro. Ficamos esperando em frente ao Banco do Brasil, mas ele veio e disse que não iria com a gente, que iria pegar um táxi no canal. Foi a última vez que o vi – relata.

Dali por diante, o que se sabe ainda são suposições. Amigos teriam visto Nivaldo em bares no Boulevard Canal – na casa dele, inclusive, a amiga encontrou um comprovante de cartão de crédito que prova que ele comprou uma cerveja num pub do Canal. A única coisa que se sabe com certeza é que a vida de Nivaldo foi tirada depois dessa sequência de eventos.

– No domingo, tínhamos combinado ir à praia. Liguei para ele duas vezes, mas chamava e não atendia. A última vez que tentei falar com ele foi por volta de 13h. Deixei para lá. À noite, a irmã dele, que mora em São Gonçalo, fez contato pelo Facebook para saber se alguém sabia do Nivaldo, porque ela não estava conseguindo falar com ele. Na segunda de manhã, ele não apareceu para trabalhar no Domingos Salles e aí estranhamos, porque ele não faltava nunca. Resolvi ir com uma outra amiga até a casa dele. Chegamos lá por volta das 9h e um vizinho abriu o portão do condomínio. Arrombamos o portão da casa dele. Chamamos muito e nada. Então, fomos ao chaveiro, que veio e abriu a porta – conta ela.

O cenário encontrado pela amiga era composto por camisinhas usadas, guimbas de cigarro de marca diferente da que o professor fumava, uma lata de cerveja e dois copos. Não havia sinais de luta corporal.

– A perícia não levou os copos, por exemplo, só tirou foto. Eu acho que deveriam ter levado para ajudar na identificação. A impressão que tenho é que ele chegou em casa, tomou banho e trocou de roupa, estava com uma roupa diferente da que estava. Ele chegou com alguém e foi morto depois. Foi uma covardia.

Comunidade cobra elucidação do caso

Nivaldo era um dos professores mais queridos da cidade. Conhecido pelo bom humor e por frases que costumava repetir, como “eu tô doido” ou “hoje eu estou virado no Samurai”, Nivaldo foi enterrado em São Gonçalo sob forte comoção. Dias depois, alunos e professores fizeram um ato na Praça Porto Rocha pedindo por justiça e paz. A diretora do Colégio Rui Barbosa, Márcia Marques, lamenta pelo caso não ter sido elucidado ainda.

– A sensação de todos no Rui é de indignação, esperamos uma resposta, que não vire apenas estatística. Estamos pensando em fazer outra manifestação, mas ainda estamos decidindo – afirmou Márcia.

O presidente do Grupo Iguais, Rodolpho Campbel, também questiona a solução do caso.

– Eu, infelizmente, no dia da reunião agendada com o Doutor Carlos Abreu, não pude esperar por uma fatalidade familiar. Mas, pelo que sei, já se tem um suspeito. A dúvida é se ele foi o único autor, ou se teve mais de um. Acho que prendê-lo preventivamente era um caminho pra sondar e chegar no X da questão. Tivemos um caso parecido. Cobramos muito e até auxiliar nas investigações fizemos. Aí, descobriu-se o autor e, quando pediram a apreensão dele, ele tinha fugido. Espero sinceramente que isso não se repita – afirmou Rodolpho, que informou que a Superintendência de Direitos Difusos, Coletivos e Individuais do Governo do Estado está agendando uma reunião com a 126ª Delegacia de Polícia para tratar desse caso.

Delegado: ‘“Não comento investigação em andamento”

Questionado sobre o fato de a perícia não ter recolhido copos e latas da casa, o delegado responsável pelo caso, Carlos Abreu, titular da 126ª DP (Cabo Frio), foi lacônico

– Não comento avaliações de investigação em andamento – disse, acrescentando que medidas estão sendo adotadas para a resolução do crime.
Carlos Abreu também foi questionado sobre o prazo para a elucidação do caso. Na próxima sexta-feira, o assassinato completa dois meses.

– Estamos aumentando a taxa de elucidação de homicídio da 126ª DP. As ocorrências também estão sendo reduzidas, apesar das limitações de recursos – informou, sem detalhar que recursos são estes, apenas que são pessoais e materiais. O delegado pediu a colaboração de moradores:
– Uma elucidação depende de um conjunto de fatores, sendo o mais importante a contribuição do cidadão – finalizou Carlos Abreu.