Em menos de cinco meses do ano, foram apreendidos em toda a região quase 200 Kg de drogas pela polícia. Essa e outras informações referentes à produção policial no primeiro semestre de 2017 foram divulgadas ontem pelo comando do 25º Batalhão da PM durante um encontro promovido para os profissionais de imprensa no quartel da corporação, no Jardim Caiçara. Para o comandante, tenente-coronel André Henrique de Oliveira, a grande quantidade apreendida de entorpecentes reforça o fato de que a atividade do tráfico impulsiona os demais crimes, sobretudo, os homicídios.
– O tráfico acaba sendo o grande pano de fundo para todos os outros delitos. No tráfico, você tem a arma de fogo que vai acabar ocasionando um homicídio. Tem o viciado que não tem dinheiro e que acaba cometendo o roubo ou o furto pra poder sustentar o vício. Então é uma meta nossa combater o tráfico e a prova disso é a quantidade de droga que nós apreendemos – comentou o comandante.
Essa não é uma tarefa das mais fáceis. Segundo os indicadores estratégicos de criminalidade, o número de casos de letalidade violenta, que incluem homicídios dolosos, roubos seguidos de morte e lesões corporais seguidas de morte, entre janeiro e abril de 2017, ultrapassaram a meta estabelecida. Foram 112, enquanto a quantidade considerada ideal pela polícia seria de 98. O mês de março foi considerado decisivo para a disparada desses tipos de crime. Segundo a polícia, foi justamente a disputa interna entre facções que elevou a quantidade para 36, enquanto o esperado era 23.
O item ‘roubos de rua’ também periga ficar no vermelho. Até o momento, foram registradas 442 ocorrências. Para os seis primeiros do ano, a estimativa é que sejam 569. Seguindo uma tendência observada em todas as regiões, as anotações de roubos de veículo também não param de subir. Foram 155 até maio. O número já ultrapassa a meta estipulada para o primeiro semestre, que é de 141. Mais do que nunca, com o agravamento da crise financeira no Estado do Rio e a escassez de material humano (são 854 policiais divididos em várias escalas), a PM aposta na análise dos dados, no planejamento das ações e na parceria com as guardas municipais.
– Os recursos são escassos. A gente não tem efetivo para colocar um policial em cada esquina. O efetivo é aplicado onde a nossa análise criminal aponta onde há maior incidência (de delitos) – explica o comandante.
Confira abaixo os números da análise criminal feita pela polícia e uma entrevista com o comandante do 25º BPM:
ENTREVISTA – COMANDANTE DO 25º BPM, TENENTE-CORONEL ANDRÉ HENRIQUE DE OLIVEIRA
“Interior virou mercado consumidor atrativo”
O comandante do 25º Batalhão da PM, tenente-coronel André Henrique de Oliveira, concedeu uma entrevista exclusiva para a reportagem após receber profissionais de imprensa na sede da corporação. Ele aprovou a oportunidade de mostrar o trabalho da tropa e as dificuldades para realizá-lo.
Folha dos Lagos – Quando a população vai poder ficar mais tranquila com a queda nos números de homicídios?
André Henrique – A gente tem um estudo feito pela análise criminal e acompanha isso de forma constante. A gente percebe que a maior parte desse homicídios acontece por conta do tráfico de drogas. Ou por estar devendo à boca de fumo, ou por participação direta, ou por briga de facções ou por disputas internas. Em março, tivemos um problema sério em Saquarema, Araruama, São Pedro e Unamar, onde houve uma movimentação entre eles, que culminou em algumas mortes. Por parte da PM, a gente trabalha focado na retirada de armas de circulação, tanto que em cinco meses, retiramos 110 armas. Quantos homicídios essas armas não poderiam causar? E Polícia Civil também vem fazendo um trabalho expressivo na elucidação desses casos.
Folha – O senhor diz constantemente que o problema do tráfico está ligado ao consumo.
André Henrique – A gente tem que trabalhar na prevenção porque quem financia tudo isso é o usuário. A população tem que se dar conta disso e cada um tomando conta da sua família, orientando, vai melhorar.
Folha – Algumas das ocorrências das últimas semanas, envolvem suspeitos de comunidades do Rio, como os Complexos da Maré e do Alemão. São fatos isolados ou dá pra dizer que se trata de migração da criminalidade para a Região dos Lagos?
André Henrique – Não falo em migração. Mas é fato que, com as UPPs, o tráfico entendeu que o interior é um grande mercado consumidor. Hoje, em parceria com o doutor (Luiz) Henrique (Marques, da 118ª DP), foi identificado claramente que marginais da Favela Nova Holanda estão tentando ter o domínio da venda de drogas em Araruama. Isso culminou em uma série de mortes e nessa investigação com mais de 20 mandados de prisão cumpridos. Então a gente percebe essa vinda de marginais para a Região dos Lagos em busca de mercador consumidor.
Folha – A integração com as guardas municipais vai ajudar realmente a diminuir o problema da falta de efetivo suficiente da PM?
André Henrique – Temos uma parceria boa com todos os delegados, dos sete municípios. Isso faz a diferença, como no caso da carga roubada em Unamar (no último sábado, confira no site da Folha). A troca de informações com a Polícia Civil é fundamental. E a Guarda Municipal tem nos ajudado nos centros comerciais. Temos trocado informações sobre a mancha criminal e eles têm nos ajudado em termos de ostensividade para poder fazer frente a esses delitos.
Folha – Como a crise no Estado tem afetado o trabalho do 25º BPM?
André Henrique – Com relação a viaturas, temos parceria com a iniciativa privada e com as prefeituras, que têm nos auxiliado. Não temos hoje problema de viatura não estar rodando. Armas e coletes temos de forma tranquila, sem nenhuma dificuldade. O que pesa mesmo é a questão salarial, que vem atrasando. Isso implica diretamente na motivação do policial, mas a gente vem buscando outras estratégias como dispensas meritórias e elogios para que a motivação do nosso policial militar não seja perdida.