Além de lidarem com o atraso dos salários por causa da crise financeira do Estado, os policiais militares têm sido obrigados a se desdobrar para dar conta de combater a criminalidade e arriscar a vida por isso. Tudo porque, em todos os batalhões fluminenses, a evasão nos últimos dois anos foi de 2 mil policiais. E não houve reposição para essa perda. Para se ter uma ideia do déficit, até hoje, quatro mil aprovados no concurso de 2014 não foram convocados.
No 25º BPM, que cuida das sete cidades da Região dos Lagos e tem cerca de 820 homens, são 46 policiais a menos entre 2016 (31) e 2017 (15, até o momento). O comandante da unidade, tenente-coronel André Henrique de Oliveira afirma que os desfalques são normais por conta das aposentadorias, mas pede a reposição na tropa.
– Quanto à reposição, a corporação tem que falar porque é uma questão estratégica. Essa perda é normal porque o policial cumpriu 30 anos e tem garantido o seu direito a se aposentar. A cada ano a gente vem perdendo cada vez mais policiais por causa disso. E esse contingente precisa ser recomposto porque o número de policiais diminui enquanto a população da região aumenta– afirma o comandante.
A matemática desfavorável dificulta o trabalho e expõe as mazelas do Estado na área de segurança pública. Por outro lado, a violência que assusta a sociedade como um todo, também assusta quem luta para combatê-la. Não só assusta, como mata. Somente esse ano, foram 91 policiais militares mortos em serviço ou fora dele. Há uma semana, durante o enterro do soldado Thiago Marzula, o comandante-geral da PM, coronel Wolney Dias Ferreira chegou a pedir prisão perpétua para assassinos de policiais. Um colega de farda que pediu para não ser identificado falou com indignação da situação e cobrou o endurecimento da legislação.
– O que o nosso país precisa é de penas duras e severas, para que os bandidos tenham medo e pensem mil vezes antes de puxar o gatilho e matar um trabalhador ou uma criança inocente. A vida do policial é sagrada como a vida de qualquer pessoa de bem. Mas para isso a cúpula da segurança precisa pressionar os parlamentares, pois só eles podem mudar essa situação – desabafou o militar.
O comandante do 25º BPM atribuiu à crise no governo estadual a situação de vulnerabilidade dos profissionais. Ele disse ainda que o tráfico de drogas é o principal problema a ser combatido, sobretudo prevenindo o consumo.
– A gente vê a crise econômica vem afetando toda a cadeia criminosa. Hoje vemos gente roubando celular com pistola 9 mm, o que não acontecia antes. Estamos prendendo muito, mas tem que pensar muito bem na questão da prevenção que é o que fomenta toda essa máquina. Se tem consumidor, tem droga, tem arma e acabam acontecendo as mortes – explica.