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A cada nove minutos ocorre uma morte violenta no Brasil

Dados estão no Anuário de Segurança Pública que será divulgado na próxima semana

29 outubro 2016 - 10h49Por Texto: Rodrigo Branco | Foto: Reprodução
A cada nove minutos ocorre uma morte violenta no Brasil

O homem caminhava ao lado da mãe que carregava um bebê de colo e do irmão de dez anos quando foi atingido por disparos feitos de um carro em alta velocidade. Os autores e o motivo do crime ocorrido no Alto da Rasa, em Búzios, anteontem, são desconhecidos, mas a descrição é semelhante a das milhares de ocorrências que transformaram o Brasil em um dos países mais violentos do mundo. Na seara doméstica, o homicídio foi um dos mais de 20 (leia abaixo) que aconteceram na região somente em outubro.

São tintas fortes que compõem um quadro aterrador, comprovado pelos dados divulgados ontem pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, responsável pelo Anuário Brasileiro de Segurança Pública. De acordo com o estudo, entre 2011 e 2015, foram registradas no Brasil 278.839 ocorrências de homicídio doloso, latrocínio (roubo seguido de morte), lesão corporal seguida de morte e mortes decorrentes de intervenção policial. Somente no ano passado, foram 58.383 mortes violentas. Isso representa uma morte a cada nove minutos no país. Em números absolutos, matou-se mais no Brasil do que na Síria, que vive uma guerra civil, no período.

O ex-chefe do Estado Maior da PM-RJ e pesquisador do Instituto Igarapé, Róbson Rodrigues, evita comparações com o país do Oriente Médio (“Tem que saber o número de homicídios por grupo de 100 mil habitantes nos dois países”, diz), mas o oficial da reserva confirma que o país é o que registra o maior número de mortes intencionais no mundo.

– Por que se mata e se morre tanto no Brasil? Em primeiro lugar, porque somos um país altamente violento. Depois porque tem armas circulando. Em média, 70% das mortes são por arma de fogo. Somos um país violento e que temos um fácil acesso a armas de fogo. É uma mistura explosiva: armas de fogo e predisposição à violência – comentou Rodrigues.

Responsável por elucidar os crimes violentos em Cabo Frio, o titular da 126ª DP, delegado Carlos Abreu, admite que a crise no Estado dificulta o trabalho da polícia, mas garante o empenho para solucionar os casos de homicídio.

– A delegacia tem empenhado todos os esforços e tratado como prioridade os casos de homicídio. A 126ª DP (Cabo Frio), este ano, teve êxito na elucidação de vários crimes. Mesmo com a crise afetando a investigação, estamos com menos homicídios na cidade este ano do que no ano passado.

O comandante do 25º Batalhão da PM, tenente-coronel André Henrique de Oliveira, fez coro com Róbson Rodrigues e diz que a corporação tem conseguido retirar um grande número de armas de circulação.

– A gente acaba atuando na consequência, quando o cidadão já está armado nas ruas. Mas temos cumprido o nosso papel. Somos o quinto batalhão do Estado em número de apreensão de pistolas e com isso evitamos vários crimes. Mas é preciso atuar nas causas do problema, melhorando a fiscalização nas fronteiras, melhorar a questão da Educação e da promoção social e rever a legislação e a forma de enfrentamento do problema – acredita.

Róbson Rodrigues complementa o raciocínio do comandante e destaca que frear a escala da violência significa combater efetivamente o tráfico de drogas.
– Não se trata do tráfico em si, mas da forma como o sistema criminal e a Justiça tratam esse problema. É um mercado poderoso que movimenta uma massa imensa de dinheiro, mas é tratado apenas como um crime. Há, a meu ver, uma política equivocada de proibicionismo que não logrou êxito. Pelo contrário, teve maus resultados, com aumento na corrupção policial, das mortes relacionados a esse combate e um aquecimento no mercado de armas – explica o estudioso.