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Alair Correa

Uma receita para Alair

29 julho 2015 - 14h36

RODRIGO CABRAL

Era 14 de dezembro de 1968. Vinha assim a primeira capa do Jornal do Brasil: “Ontem foi o Dia dos Cegos. Tempo negro. Temperatura sufocante. O ar está irrespirável. O país está sendo varrido por fortes ventos...” Foi a forma encontrada por Alberto Dines, editor-chefe, para noticiar a promulgação do Ato Institucional nº 5, que fez enrijecer a censura. Naquele mês, agentes da repressão ocuparam redações com o objetivo de cortar textos, fotos e ilustrações. Alguns veículos, no entanto, usaram da criatividade ao recusar substituir o material proibido. Um deles, o paulistano Jornal da Tarde, substituía o conteúdo censurado por receitas de bolo – que logo se tornaram lendárias na história da imprensa brasileira.

Quase 50 anos depois, embora a democracia seja sempre um ideal a ser defendido e o cheiro de golpismo vez ou outra azede o ambiente, não há dúvidas de que o Dia dos Cegos a que se referia Dines são páginas nebulosas de um tempo que ficou para trás. Hoje, o tempo é outro: de uma rajada ensolarada de informações, muito por conta, evidentemente, do exponencial aumento do acesso de brasileiros à internet – mais de metade da população já está conectada, segundo levantamento do IBGE.

Não é que as redes sociais tenham substituído a mídia tradicional, como muitos propõem. Afinal, grande parte das notícias que alimentam as redes sociais vem da mídia tradicional. O que ocorre é que abriu-se um grande diálogo, um debate gigantesco e imediatista entre o veículo e o leitor, que não deixa nada passar em branco. Veja só que curioso: virou moda, nas páginas de Facebook de grandes jornais, leitores responderem com receitas quando se deparam com notícias que julgam inúteis, superficiais ou mesmo estúpidas. Esta semana, por exemplo, a Folha de S. Paulo postou a seguinte notícia: ‘Melhorei no papel de marido”, diz Roberto Justus, no quinto casamento”.

O leitor Felipe Fagundes comentou de bate-pronto com uma receita de Bolo de Chocolate, irreverência que lhe rendeu 116 curtidas. Mas, até às 20h de ontem, ninguém, ninguém mesmo, foi ao Facebook do Prefeito Alair Corrêa deixar uma singela receita em tom de protesto. Foi lá que, mesmo em plena crise pela qual passa o governo, mesmo sem visivelmente não conseguir dar fim à turbulência em três meses, como prometeu à Folha, mesmo com todo o desgaste de sua imagem (cavado pelos erros do próprio governo), Alair anunciou sua pré-candidatura às eleições de 2016.

Não dá para acreditar. Não que Alair não deva se candidatar, até porque não há nisso qualquer novidade. O que não dá para acreditar é na falta de timing – estrangeirismo para traduzir a ausência de tato para fazer este tipo de anúncio agora, um verdadeiro tiro no pé! É hora, sim, de anunciar o que o governo vem realizando, o que está entregando para a população, para, pelo menos, controlar parcialmente o vírus da falta de confiança que o desestabiliza – e se alastra por todos os cantos do município. Para vencer a crise, não há receita de bolo: basta não cometer atropelos como este.

Por isso, para esta notícia da pré-candidatura de Alair, deixo aqui meu humilde protesto com a receita de uma saborosa sardinha frita: Ingredientes: 1 kg de sardinha; 3 limões (suco); 4 dentes de alho amassado; 2 xícaras (chá) de fubá e / ou farinha de trigo; Sal a gosto; Óleo para fritar. Modo de preparo: Limpe as sardinhas passando a faca. Corte a cabeça e passe a faca cortando o peixe ao comprido. Retire a espinha do peixe e suas vísceras. Tempere as sardinhas com sal, alho amassado e o suco de limão. Após cinco minutos mergulhadas, passe no fubá. Depois, frite em óleo.