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Turismo

Respeito ao turista

Termos pejorativos contra visitantes de Cabo Frio espalham-se como pólvora na alta temporada

06 janeiro 2017 - 14h38Por Rodrigo Cabral | foto: Reprodução TV
Respeito ao turista

Manhã de terça-feira ensolarada, num mercadinho da Passagem. Enquanto dirigia-se ao caixa, uma senhora dizia em alto e bom som, para quem quisesse ouvir: “É só chegar o verão para a cidade ser invadida por essa pretalhada”.

Comentários como esses, que revelam as profundezas mais abjetas do caráter humano, alastram-se como pólvora pelos quatro cantos de Cabo Frio em períodos de alta temporada. Não são, óbvio, a regra, descartando-se desde já qualquer tipo de generalização – afinal, se assim fosse, quem em sã consciência viria nos visitar? Mas nem de longe são a exceção. E por isso mesmo é necessário falar sobre o tema. Pois quem é que nunca ouviu por aí piadinhas infames sobre “duristas”, “farofeiros”, “povo da Baixada” e dezenas de outros termos pejorativos?

E isso, registre-se, sem nem entrar no mérito do mesmo tipo de comportamento dirigido a moradores que vêm de outros lugares – por exemplo, se o leitor vive na cidade há tempo razoável, certamente já ouviu a clássica “campista, nem fiado, nem à vista”. É de chorar.

Nunca foi cômico, mas, sim, trágico, sobretudo em uma cidade cuja vocação é o... turismo. Ao que parece, perdemos os royalties, mas não a soberba, a arrogância e o preconceito. Aqueles que se acham muito superiores por morar onde o turista passa as férias devem se imaginar pertencentes a uma casta de nobres iluminados, que jamais elegeria políticos cujo legado é o absoluto atraso. Devem se julgar guardiões de uma Saint-Tropez que nunca foi realidade; pelo contrário, no Centro, as expressões francesas que dão nome a edifícios residenciais são tão cafonas quanto a arquitetura que predominou na expansão imobiliária das últimas décadas.

Fala-se muito, até publicamente, em um tal “turista de qualidade” – um atestado de falta de qualidade intelectual. Pessoas não são melhores ou piores à luz de suas classes sociais. “Ah, mas o turista vem para vandalizar”, dizem. Aí, sim, uma generalização. Preconceito. Na situação que a cidade se encontra, deveríamos erguer os braços pelo fato de haver gente disposta a passar as férias por aqui. Apontam o dedo para os visitantes, ao passo em que o município não oferece o básico: qualidade na experiência turística. Nota-se a diferença? Enquanto isso não acontece, que ofereçamos o mínimo: respeito.

*Rodrigo Cabral - Diretor da Folha dos Lagos