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EDITORIAL | A política inócua de Adriano

A realidade é – e sempre é! – mais complexa. Seis meses e meio de governo descortinam a verdadeira identidade política de Adriano. Que é, na verdade, a absoluta falta de identidade

08 fevereiro 2019 - 09h54
EDITORIAL | A política inócua de Adriano

Por Rodrigo Cabral

Eles estão na política, mas dizem que não são políticos. A retórica tornou-se praxe entre quem faz da desesperança alheia o alimento de estratégias eleitorais. Adriano Moreno (Rede) se valeu deste expediente durante a campanha. Foi discurso eficaz. Captou bem o momento de Cabo Frio, que vivia duas crises.

De um lado, havia a crise financeira. Greves, atrasos salariais, protestos. De outro, a moral: pela primeira vez na história, um prefeito da cidade – Marquinho Mendes – fora afastado do cargo, tendo de ser convocadas eleições suplementares. Soma-se a isso a rejeição gritante com a qual Alair Corrêa, antecessor de Marquinho, deixara o cargo pouco antes.

As pessoas estavam fartas de políticos tradicionais. E Adriano estava ali para dizer o que muitos queriam escutar. E disse aqui, disse acolá, repetiu aqui, repetiu ali. Era o mantra oficial do candidato onde quer que estivesse: encontros, debates, entrevistas e caminhadas. Estaria falando a verdade?

Em partes. A realidade é – e sempre é! – mais complexa. Seis meses e meio de governo descortinam a verdadeira identidade política de Adriano. Que é, na verdade, a absoluta falta de identidade.

Em certos momentos, ao contrário do que apregoava, Adriano veste o traje mofado de um mandatário ultrapassado e caricato. Foi assim quando, em entrevista no programa Amaury Valério, na Rádio Ondas, creditou as denúncias sobre o Hospital da Mulher a ações orquestradas por pessoas que desejam desestabilizar a sua gestão. Quantas e quantas vezes já não ouvimos esse mesmíssimo clichê?

Aliás, Adriano, que em Cabo Frio caminhou na campanha para o governo do estado lado a lado com Eduardo Paes (DEM) – associado, veja só, por parte do eleitorado à velha política praticada pelos antigos correligionários do MDB –, poderia tirar, ao menos, uma lição do ex-prefeito do Rio: o timing para responder a questões vitais ao governo. Logo ele, um médico, demorou demais para se pronunciar sobre a situação da Saúde. Quando respondeu, respondeu mal.

E, quando permanece o silêncio, fica pior ainda. Afinal, o que o médico Adriano diz sobre o posicionamento da direção do Hospital da Mulher, que soltou nota bizarra atribuindo as mortes de bebês na unidade a “ausência de pré-natal, doenças sexualmente transmissíveis contraídas pelas genitoras e consumo de substâncias entorpecentes”?

Além do mais, é justo jogar o erro no colo da Coordenadoria de Comunicação?  A Folha não tem procuração para defender o coordenador Jorge Queiroz, mas é claro que, se soubessem do teor da nota, os jornalistas da Prefeitura teriam agido para impedir a divulgação naqueles termos esdrúxulos. A corda, porém, tende sempre a arrebentar do lado mais fraco.

A imagem que se tem é a de um prefeito de gabinete, que enxerga com os olhos de terceiros e escuta com ouvidos de outros. Por essas e outras que a fatídica foto com um bueiro nas mãos pegou tão mal. 

Cheirou a hipocrisia.

Ao mesmo tempo, Adriano padece por conta da falta de pulso e assertividade. É como se desse de ombros para o poder. A busca da serenidade e do diálogo como formas democráticas de se governar não podem ser desculpa para o esfalecimento do seu comando. A inabilidade para as articulações causa a descoordenação motora entre o primeiro escalão. Causa, o que é pior, vácuos de liderança, de onde nascem secretários superlativos, que passam a exercer o poder que dispensa. 

Adriano precisa se lembrar que, ao agir desta forma, não apenas enfraquece o mandato que lhe foi confiado pelos eleitores, mas entrega o município a ilustres desconhecidos, que se tornam barões em terra sem rei.

Já vimos um trailer desse filme nas eleições. Após ter anunciado Cristiane Fernandes como vice-prefeita, Adriano voltou atrás poucos dias depois. Ela não deixou barato: desabafou na internet (“não aceito ser tratada como um sapato velho”) e lançou candidatura. Teve, também, o descompasso com o PDT. Como demorou demais para trocar alianças com os pedetistas, Adriano acabou perdendo o apoio do partido do então deputado estadual Janio Mendes. Numa tentativa desesperada de reatar o namoro, ele chegou a ir à Alerj pedir desculpas a Janio. Mas aí foi “beijinho no ombro”: Rafael Peçanha foi o candidato da sigla – e deu trabalho.

Se deseja que o governo saia da inocuidade para o protagonismo, Adriano precisa aprender que não há outro caminho senão a política. A política de verdade; não aquela adormecida no discurso pronto e na negação de fatos, muito menos a da gestão insossa, tímida, perdida. Nas palavras de Marina Silva, expoente de seu partido (Rede): “Esta política de negar a politica, para mim, é a pior política”. O tempo urge. E 2020 está logo ali.

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