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A maldição do petróleo

01 abril 2015 - 19h10Por Rodrigo Cabral
Em abril de 2012, Eike Batista era o homem mais rico do Brasil. Ostentava fortuna de US$ 30 bilhões. Em um daqueles dias de glória, a presidente Dilma Rousseff (PT) comemorou com o empresário “o primeiro óleo” dos seus campos de petróleo na costa do Rio. Megalomaníaco, Eike vendia sonhos – e muito bem. Convenceu a todos, inclusive Dilma, de que sua petroleira atingiria nível de produtividade extraordinário, enquanto estudos da própria empresa apontavam a inviabilidade econômica das áreas. Neste jogo de tudo ou nada, Eike deu revés. Seu Império X desabou. Fora vítima da maldição do petróleo.
Naquele mesmo ano de 2012, mais precisamente nas eleições de outubro, o então candidato Alair Corrêa (PP) apresentava uma proposta, no mínimo, ambiciosa: a construção de um teleférico. Seu plano de governo, disponível no site do TSE, detalha: “Pórtico de entrada na Lagoa de Araruama próximo ao Forte São Mateus ligando, por passarela e teleférico, o Mirante ao Morro do Farol”. Uma proposta megalomaníaca de quem sempre usou a ideia de grandeza como argumento da venda de sonhos aos eleitores. Conseguiu. Mas, ontem, seu revés ficou muito claro. Foi vítima da maldição do petróleo.
Guardadas as devidas produções, Eike e Alair cavaram a ruína de seus projetos – o primeiro, do grupo X; o segundo, de seu projeto de poder. Eike sabia das dificuldades de exploração dos campos. Alair sempre soube que a bonança do petróleo um dia findaria e que a gestão municipal precisaria caminhar no rumo da sustentabilidade, diminuindo a dependência do repasse dos royalties. Mas, passada a eleição, o prefeito continuou megalomaníaco. Entre suas realizações, a construção de uma pista de skate, após a derrubada da que foi erguida na gestão anterior. Ao total, a reforma da orla da Praia do Forte fez escoar R$ 48 milhões. Para testar o bom humor do cidadão cabofriense, ainda foi revelada, no ano passado, a intenção de se construir a chamada ‘Esplanada das Secretarias’, um novo Centro Administrativo de mais de 100 mil metros quadrados, no Guarani. Na ocasião, pasme, o presidente da Câmara dos Vereadores, Marcello Corrêa (PP), previu que o complexo ficaria pronto até o fim deste ano!
Mas, se restava ainda alguma dúvida de que este modelo de “cidade espetáculo” estava com os dias contados, ontem foi dado o adeus derradeiro. Não houve foguetório no anúncio do prefeito sobre a demissão de todos os secretários – outrora carinhosamente nomeados ‘molóides’ por ele. Não houve foguetório no anúncio da demissão de milhares de servidores.  Não houve foguetório no anúncio da alteração do Cartão Dignidade, principal projeto social da prefeitura, nem do fim da Comsercaf. 
Esta é muito mais do que a crise do petróleo. É a crise da falta de planejamento, da permissividade com os gastos públicos, da mania de grandeza absoluta e do absoluto despreparo para se precaver contra futuras adversidades – e, somado a isso, a crise de um legislativo insosso e silencioso. Quem paga a conta? O cidadão. Neste caso, cerca de quatro mil cidadãos, muitos pais e mães de família que perdem o principal sustento e poder de consumo – os reflexos virão, certamente, para o pequeno lojista.
 Com 50 anos de vida pública, Alair, o prefeito, não é despreparado. Este governo é que se mostra, há muito tempo, inabilidoso – eufemismo para desastroso. O momento não é de se terceirizar culpas, num repasse político dos royalties da crise. E muito menos o momento de os adversários fincarem palanque. A cidade precisa, já, de esforços conjuntos de aliados e adversários. Pois em toda crise há oportunidades, afinal.  
Eike vislumbra a curiosa oportunidade de voltar à cena com um genérico do Viagra.  Se não houver esta união de forças, Cabo Frio pode acabar, por fim, oferecendo incentivos  a fabricantes de próteses capilares – o que, pensando bem, não seria mau negócio.