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As histórias por trás das notícias

​Jornalistas que trabalharam na Folha contam momentos marcantes e falam sobre os bastidores da rotina de trabalho

30 abril 2019 - 10h15

TOMÁS BAGGIO

Pilar da imprensa na região, negócio bem sucedido, escola de jornalismo... o aniversário de 29 anos do jornal Folha dos Lagos torna inevitável a lembrança de qualidades sempre destacadas por leitores e entrevistados. Mas o que contam os profissionais que passaram por esta redação? Afinal, trabalhar em um jornal diário pode ser qualquer coisa, menos monótono. Para comemorar o aniversário do jornal mais longevo da história da região, jornalistas que escreveram para a Folha revelam momentos marcantes de suas passagens e falam sobre os bastidores da rotina de trabalho. 

Histórias que remetem aos primeiros anos do jornal, como as da experiente jornalista Cristiane Zotich. Atualmente analista de Marketing da Unimed Cabo Frio, Zotich trabalhou na Folha de 1996 até 2005. Ela lembra de casos emocionantes que precisou cobrir no período.

-  Na Folha dos Lagos eu vivi momentos de extrema emoção cobrindo assuntos que causaram grande comoção, como a trágica história do comerciante Eloy Salino da Costa, que matou o próprio filho (viciado) para se defender (1996), a chacina (no Jardim Esperança) que vitimou o pescador Antônio Roberto de Souza, sua mulher Osvaldelina Maria da Penha Silva Gomes, e os cinco filhos do casal (2000) e o naufrágio do Tona Galea (2003). Na época da chacina eu havia acabado de dar à luz minha filha, e quando vi o filho mais novo do casal, com apenas 2 anos, morto com uma machadada na cabeça, o meu lado mãe falou mais alto e entrei em desespero, sendo amparada por curiosos que estavam no local acompanhando o trabalho da polícia. Foi minha última reportagem policial. E a emoção deste caso foi tão grande que me lembro de ter chegado em casa e, ainda na varanda, ter tirado toda minha roupa e queimado tudo, como forma de tentar me livrar daquele sentimento tão pesado e tão intenso - conta Zotich.

Outra jornalista que atuou na Folha nos começo dos anos 2000 foi Renata Cristiane, atualmente proprietária do portal de notícias RC24h. Ela lembra com certo saudosismo o tempo das fotografias reveladas em papel e da dificuldade de apuração em uma épóca em que os aparelhos de telefone celular ainda eram mais raros.

- Trabalhei na Folha em 2003 e 2004 e foi uma experiencia muito interessante. Eram outros tempos do jornalismo. A gente fazia fotografia com filme, tinha que levar para o laboratório para revelar. Não tinha celular, a gente apurava por telefone fixo ou orelhão. Me lembro que teve um concurso da Prefeitura de Cabo Frio e a fila para inscrições dobrava a esquina do Clube Tamoyo. Só dava para fotografar a fila inteira se subisse no muro. Eu não pensei duas vezes, arrumei uma escada e subi. Não sabia direito se a foto tinha ficado boa, mas, quando revelamos, vi que deu certo e acabei ganhando a capa. Era uma sensação muito boa descobrir que a foto tinha ficado boa. Hoje está muito fácil, você vê na hora no celular, coloca o filtro que quiser... talvez por isso tenha tanta gente fazendo mau jornalismo atualmente, está muito fácil - diz Renata, lembrando ainda que, no período em que esteve no jornal, a redação era inteiramente composta por mulheres.

Poucas pessoas podem falar da rotina da Folha como a jornalista Roberta Costa. Afinal, foram seis anos chefiando a redação do jornal. Atualmente ela faz parte da equipe de Comunicação da Prolagos.

- Ainda lembro do frio na barriga quando assumi a chefia (em 2006), por tamanha responsabilidade aos 23 anos. Segui nesta função até fevereiro de 2011 e retornei em março de 2013. Em julho de 2014, mudei-me para o Rio após o casamento e tive que deixar a redação novamente. Aliás, conheci meu marido trabalhando na Folha, pois como porta-voz do 18º GBM ele era minha fonte. Fiz grandes amizades e carrego esta empresa no meu coração, pois foi uma verdadeira escola de jornalismo. Sempre digo, saí da Folha, mas a Folha jamais sairá de mim - lembra Roberta.

Na Folha entre 2013 e 2016, a jornalista Nícia Carvalho lembra de momentos de bom humor e descontração.

- A lembrança mais marcante dos meus tempos de Folha, sem dúvida, é da "participação" de Cabral, o pai. Muito doido e louco, no sentido brincalhão, cheio de ideias, piadas, histórias de chás (pra tudo na vida tinha uma chá) e as comidas que dividíamos (eu sempre embarcava nas loucuras gastronômicas dele). Enfim, um período de aprendizados, perrengues e diversão. Do mesmo jeito que a vida é - declara Nícia.

O jornalista Filipe Rangel, agora blogueiro de viagem, entrou na Folha em 2011 e ficou no jornal até 2017, passando por várias funções. Para ele, o jornal resiste às mudanças na comunicação por ter credibilidade e não abrir mão do profissionalismo.

- Pra mim a Folha continua relevante porque, apesar de vários aspectos do fazer jornalístico estarem mudando, tem uns que são fundamentais e que não podem mudar, entre eles o cuidado ao manusear a informação. E na Folha existe quem colhe, quem apura, quem cuida, quem lapida e quem entrega a informação da maneira mais responsável por isso. É um clichê falar isso, porque as pessoas sempre repetem, mas se as pessoas vivem repetindo é porque tem um fundo de verdade, mas trabalhar na Folha foi uma escola. Você sai da faculdade com muita teoria na cabeça, e quando você tem que ir pra rua, percebe que você estudou pra contar a história das pessoas. A Folha deu um senso de profundidade humana à minha carreira e ao meu olhar sobre o jornalismo. Eu aprendi que um jornal de pequeno porte não pode nunca perder de vista que a sua meta é contar e construir a história da sua cidade, e que a única forma de contar a história da sua cidade é construir um mosaico de vozes das pessoas que nela habitam - opina Rangel.