quinta, 28 de março de 2024
quinta, 28 de março de 2024
Cabo Frio
25°C
Alerj Superbanner
Park Lagos beer fest
HISTÓRIAS PRA CONTAR

Um ícone chamado Mestre Chonca

Aos 80 anos, carpinteiro naval e pescador é figura ilustre de Arraial do Cabo

12 janeiro 2021 - 13h00Por Julian Viana
Um ícone chamado Mestre Chonca

O nome dele é Wilson Luiz da Silva, mas, em Arraial do Cabo, todo mundo o conhece por Mestre Chonca. 

– Meu apelido existe desde quando eu era criança. Nem a minha mãe soube me explicar a origem dele. A minha irmã mais velha e os meus primos que arranjaram esse nome para mim – conta o carpinteiro naval e pescador, 80 anos, entre um e outro cumprimento de pessoas que o reconheciam na Praia Grande, durante entrevista à Folha, na Praia Grande, onde se localiza a Sala Expositiva Mestre Chonca. 

Trata-se de um ícone da cidade. A alcunha de Mestre veio há seis anos, quando o sociólogo Paulo Sérgio Barreto o batizou assim. O substantivo acoplado ao apelido surgiu logo depois do sociólogo inaugurar a Sala Expositiva. A casa tem uma sala que serve como um museu e um outro cômodo é utilizado para armazenar as ferramentas que Chonca utilizava como carpinteiro, além de suas miniaturas de canoas. O museu reúne partes da história do mestre. A construção do imóvel envolveu o ICMBio, Jardim Botânico, Iphan e outras autoridades. 



Mestre Chonca conta que, atualmente, a pesca em canoas acontece esporadicamente: a cada duas ou três vezes a ano. Hoje em dia, ele conta, as canoas são substituídas por barcos motorizados. Chonca relembrou algumas de suas histórias da época que trabalhava como pescador e enumera seus feitos. 

– Na Praia do Farol, tinha muito peixe. Na época que eu era pescador, peguei muita coisa. Teve um dia que eu consegui pegar cerca de 6 mil bonitos – aproximadamente 30 toneladas – com apenas três redes de pesca. Esse fato aconteceu em 1955. Na época, eu tinha uns 15 anos.

Ele conta que começou a pescar a partir dos 13 anos de idade. 

– Lembro que no meu primeiro dia como pescador, eu consegui pescar cerca de três mil xaréus em apenas dois lances na Praia Grande. A partir daí, comecei a pescar com aquele compromisso junto com o meu tio nas canoas – relembra o pescador. 

Antes de completar seus 18 anos de idade, Chonca começou a trabalhar na Companhia Nacional da Álcalis. Por conta do trabalho, passou a pescar esporadicamente, por hobby. Ele explica que, naquela época, as pessoas encaravam a pesca como um compromisso real de trabalho. Em uma dessas pescas por hobby, na época que trabalhava na Álcalis, ele conta que certo dia resolveu pescar depois das 21h – horário que saía do expediente. 

– Decidi pescar e saí de casa à noite atrás de lula. Sozinho, pesquei 400 kg de lula em apenas uma noite.

Até tubarão da espécie galha-preta Mestre Chonca já capturou. 

– Teve uma história curiosa que vivenciei em que consegui capturar cerca de 500 tubarões da espécie galha-preta na Praia Grande. Certo dia, fui pescar de tarrafa [uma rede de pesca circular com pequenos pesos distribuídos em torno de toda a circunferência da malha] e olhei para a areia da praia e avistei uma cabeça do tubarão galha-preta. Quando olhei para o mar, avistei uma mancha avermelhada. Quando jogamos a tarrafa, um dos tubarões pulou, e foi assim que conseguimos pegar os cações – conta. 

O pescador ainda recorda que naquele mesmo dia, além de ver o peixe, jogar a rede e puxar a rede, ele colocou todo o peixe capturado em um carro para transportar até a peixaria. Lá ele ainda limpou grande parte do cardume. 

– Comecei a limpar por volta das 20h30 de um dia e cheguei em casa por volta das 10h do dia seguinte – relembra.