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SEM PROTEÇÃO, SEM TRILHA!

Trilha do Mirante da Cabocla é evitada por guias turísticos em Arraial por insegurança

Polícia Militar diz que ações pontuais são realizadas rotineiramente com o objetivo de reprimir os criminosos

20 fevereiro 2021 - 09h30Por Julian Viana
Trilha do Mirante da Cabocla é evitada por guias turísticos em Arraial por insegurança

Não bastassem as limitações impostas pela pandemia, a violência também tem desafinado o turismo em Arraial do Cabo. Considerada uma das mais bonitas da cidade, a trilha da Mirante da Cabocla passou a ser evitada por guias turísticos. De acordo com os profissionais, o local serve de rota de fuga de traficantes. A Trilha do Mirante da Cabocla dá acesso à Praia do Forno através de uma travessia que começa na Prainha. Foi nela que, em 2018, a turista catarinense Fabiane Fernandes foi encontrada morta – o caso que teve repercussão nacional e ainda é investigado. Em nota, a Polícia Militar afirma que ações pontuais são realizadas rotineiramente com o objetivo de reprimir os criminosos na área de atuação do batalhão.

 – A Polícia tem atuado bastante no Morro da Cabocla, e isso é muito bom. Mas acontece que toda a vez que tem alguma operação os traficantes fogem dos agentes entrando nas matas da trilha. Eles conhecem o local de cabo a rabo. Por motivos de precaução, achei mais pudente não fazer mais esta trilha com os meus clientes. Segurança em primeiro lugar – conta um trilheiro, sob anonimato. 

Ele ainda relembra que já se deparou com um criminoso armando. Foi quando decidiu não fazer mais a trilha. 

– Uma vez, enquanto estava guiando um grupo de pessoas, encontrei um traficante, que estava armado. Imediatamente pedi para que ele escondesse a arma, e assim ele fez. Graças a Deus os meus clientes não viram a cena. Um outro dia, estava tendo uma operação no morro ao lado da trilha. Fiquei bastante preocupado e apreensivo com o que poderia encontrar – relembra o guia.

O guia lembra que a frequência na trilha vem diminuindo desde a morte da turista Fabiane Fernandes.

 – É muito complicado de se fazer trilha no local. Também já encontrei pessoas armadas, e os meus clientes não perceberam nada porque também cheguei a pedir para que a arma fosse escondida. Se eles tivessem reparado a arma, o desespero iria tomar conta de todos. A gente não pode colocar a nossa vida como guia e a do turista em risco. A polícia tem feito um trabalho na cidade, mas sempre que tem uma operação, os traficantes se escondem no meio da mata – conta o guia. 

A situação também desperta medo aos amantes das práticas esportivas, que utilizavam o local para as atividades físicas.

 – Sou morador do município há 43 anos e amante das atividades de trilhas e corridas de aventura, mas, infelizmente, um dos pontos mais bonitos da cidade, que é a vista da Praia do Forno, teve o acesso limitado por causa do medo provocado pelo tráfico na área. É visível a insegurança no local. Precisamos ter o nosso Arraial como era há 20 anos, sem essa invasão das drogas e violência como consequência – desabafa um morador. 

Para um outro amante da prática esportiva, a invasão das drogas e a violência como consequência não combinam com a paz que a população tinha ao correr ou caminhar pela trilha da Cabocla. 

– É aterrorizante saber que, em uma c i d a d e tão pequena e de transbordante paz, pessoas são mortas e impedidas de fazer um passeio pelo quintal de casa. Lembro-me das vezes que passamos com os amigos dando força um pro outro para não desistir, e continuar a caminhada que a vista valeria a pena. Hoje, alertamos os que não conhecem ou que já ouviram sobre o caminho que evitem e que interrompam o destino – desabafa o atleta. 

Os trilheiros e guias enfatizam que é necessária a presença de um guia na hora de se fazer uma trilha. Eles ainda alegam que infelizmente algumas empresas turísticas continuam fazendo a trilha do Mirante da Cabocla mesmo sabendo de como está a situação no local.

– Muitos acabam visando o dinheiro, mas esse não é a fator mais importante. São vidas que estão em jogo – afirma um dos guias credenciados. 

Policiamento reforçado – Em nota, a PM sustenta que as operações têm surtido efeito. “O resultado dessa estratégia apresentou a redução de índices de criminalidade importantes. De acordo com dados reunidos pelo Instituto de Segurança Pública (ISP), na região do 25ºBPM, no período de janeiro a dezembro de 2020, em comparação ao mesmo período de 2019, houve queda em diversas modalidades criminosas como 53.1% no roubo a transeunte, 31.1% no roubo a estabelecimento comercial e 40.3% no total de roubo”, diz um trecho da nota da Polícia Militar enviada à Folha. A Polícia Militar ressalta que é de suma importância que a população colabore realizando denúncias através do Disque-Denúncia 2253- 1177 ou, para casos urgentes, através da Central 190. 

Já a Delegacia de Polícia de Arraial do Cabo (132ª DP) infirmou que o Núcleo de Homicídios e Combate ao Tráfico de Drogas da unidade vem atuando de forma constante e firme, conduzindo dezenas de investigações sobre o tráfico de drogas na cidade, inclusive na área do Morro da Cabocla. Várias dessas investigações já foram finalizadas e enviadas ao Ministério Público e à Justiça com representações por prisões preventivas e temporárias.