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‘Superdesconto’ em passeio de barco causa polêmica em Arraial

Dono de agência reduz preço em 75% para protestar contra ‘ação de atravessadores’

03 julho 2019 - 11h09
‘Superdesconto’ em passeio de barco causa polêmica em Arraial

Um protesto inusitado chamou a atenção de quem trabalha com passeio de barcos e do público em geral, ontem, em Arraial do Cabo. O dono de uma agência que fica em frente à Praça Daniel Barreto, conhecida como Praça do Cova, reduziu em cerca de 75% o valor do passeio, passando dos habituais R$ 80 para R$ 19,90. Uma placa na porta do estabelecimento informava que a brusca queda no preço foi uma forma de criticar a atuação de pessoas que vendem passeios marítimos no meio da rua. O aviso chega a fazer referência a um artigo do Código de Trânsito que impede a permanência de pessoas no meio da rua. Os dizeres mencionam ainda os termos ‘concorrência desleal’, ‘desordem’ e ‘abordagem imprópria aos turistas’.

O letreiro ficou apenas até a hora do almoço, mas causou grande alvoroço, inclusive nas redes sociais, inclusive em uma postagem no perfil da Folha no Instagram (@folhadoslagos). A medida irritou um grupo que trabalha com vendas de passeio de barcos e ameaçou retirar a placa na marra, mas não foi necessário. De acordo com o dono da agência, Eloy Arruda, não houve aumento de clientes com a redução do preço, que ele classificou como uma medida apenas ‘simbólica’. Eloy alegou que a gota d’água para tomar a iniciativa foi o fato de atravessadores terem oferecido o passeio a menos da metade do preço a um grupo de 12 turistas que já haviam fechado com ele.

Eloy disse que ‘uma minoria’ ligada à associação da Praia dos Anjos faz a abordagem aos clientes em frente da sua loja, enquanto o combinado seria entre o Restaurante Saint Tropez e toda a extensão do calçadão. Sem criticar a atual gestão municipal, o empresário afirma que o problema vem de longa data e cobrou a implantação do Bilhete único, aprovado pela Câmara em novembro de 2017.

– Eu não quero prejudicar ninguém. Só quero o ordenamento do espaço público. Quem está estabelecido, paga impostos e gera emprego tem que ser protegido, mas o que eu vejo é o contrário. Quem faz barulho fica na frente. A prefeitura tem se empenhado para resolver isso, mas está muito devagar. Quem se dedicou ao seu negócio não vai aguentar e vai quebrar – desabafou.

Nem todo mundo concorda com o ponto de vista do empresário. Segundo o professor Marcelo Amaral, que também trabalha com passeios, não há ação predatória dos que atuam nas proximidades da Praça do Cova. 

–Uma coisa que posso te afirmar: as pessoas que vendem na imediação da loja dele não são atravessadores e sim marinheiros, mestres e donos de embarcações. Isso é fato, eu conheço.  Agora, que ao longo da cidade está cheio de atravessadores, isso é verdade. E geralmente são fomentados pelas grandes embarcações, que tem bastante vagas disponíveis, diferentemente dos que trabalham com turismo de base comunitária que só podem levar 24 – observa Marcelo.

Na mesma linha que Marcelo, o presidente da Associação dos Barqueiros Tradicionais Extrativistas das Praias de Arraial do Cabo (Abetepac), Cristiano Pimentel, disse que a abordagem aos clientes nas ruas é feita tradicionalmente há muitos anos por se tratar de barqueiros comunitários que não dispõem da estrutura de grandes agências que se associam com hotéis e outros estabelecimentos até de fora da cidade. 

Por outro lado, Pimentel admite que alguns vendedores abordam clientes em frente à agência de Eloy, mas que esses são ‘casos isolados’ e os responsáveis são punidos pelas regras da associação. Ele afirma que pretende dialogar com o empresário para resolver a situação.

– A gente quer organizar, só não quer ser ´prejudicado. A única forma de trabalhar os barcos na nossa associação é vendendo na rua. É um trabalho diferente, de base comunitária, mais tradicional, é uma venda mais antiga, diferente dessas empresas maiores que tem trabalho de internet e vendas em vários pontos. É importante falar da reserva para o menor, para o extrativista. É importante falar porque senão fica um pouco atrás. A gente quer fazer a situação melhorar, não temos nada contra o Eloy. Vamos marcar reunião para chegar num acordo – finaliza Pimentel.

A reportagem tentou contato com o secretário de Turismo, Olavo Carvalho, mas ele não atendeu nem retornou as chamadas até o fechamento 
desta edição.