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FOLIA LIBERTÁRIA

Sophia Editora lança livro sobre desfiles das escolas de samba no período pós-ditadura militar

'Unidos da Democracia', de Guilherme Guaral, será lançado nesta segunda (30), no novo espaço da editora, em Cabo Frio

26 maio 2022 - 16h40Por Rodrigo Branco

Ouvidos hoje em dia, versos como “Quero que meu amanhã seja um hoje bem melhor, uma juventude sã, com ar puro ao redor”, do samba-enredo ‘que o Império Serrano levou para a Marquês de Sapucaí em 1986, parecem ter sido escritos nos dias de hoje, dada a atualidade da obra dos compositores Aluizio Machado; Luiz Carlos do Cavaco e Jorge Nóbrega. Praticamente um ‘samba-manifesto’ por direitos, justiça, liberdade e democracia, algo impensável anos antes, mas que representava um grito reprimido por mais de duas décadas de ditadura militar naquele que foi o ‘Carnaval da Nova República’. 

Período fértil da cultura e do Carnaval carioca, os anos seguintes à abertura política no país são retratados no livro ‘Unidos da Democracia – As Escolas de Samba do Rio de Janeiro e os enredos políticos da Década de 1980’ (Sophia Editora, 539 págs.), do ator, professor e historiador Guilherme Guaral, que será lançado na próxima segunda-feira, dia 30, a partir das 19h, no novo espaço da Sophia Editora (Rua Major Belegard, 502, Centro, Cabo Frio).

A obra traça um amplo e minucioso painel da época, ano a ano, de todos os acontecimentos políticos que, de alguma forma, desaguaram nos 700 metros de pista do Sambódromo, como a anistia; a campanha das Diretas Já; a Assembleia Nacional Constituinte, que resultou na elaboração da Carta Magna de 1988; e as eleições presidenciais de 1989, as primeiras realizadas em 29 anos. 

Apesar do recorte histórico, o livro que resulta da tese de pós-doutorado do autor, amplia o campo de investigação, passando por suas próprias memórias afetivas; por aspectos teóricos da comunicação; e pela produção de sentido por meio da linguagem ritualizada e audiovisual das escolas de samba. São retratados os chamados ‘anos de chumbo’ da ditadura (1964-1979) e também como os enredos políticos da década de 1980 reverberam no atual  momento da festa. A apresentação é do jornalista e enredista João Gustavo Melo e o prefácio, do professor doutor Francisco Carlos Palomanes Martinho.
 
– A ideia do livro é mostrar que as escolas de samba não são apenas organizações para alienar a massa. Cada escolha que elas fazem de enredo têm uma intenção e é uma intencionalidade política. Acho que é o espaço para discutir e debater as condições atuais da vida e, sobretudo, no momento que a gente está vivendo, a perseguição ao que é cultural, a perseguição a ter opinião, a ter participação, a ter engajamento nas questões ligadas à cultura, às minorias – avalia Guaral.

O autor destrincha desfiles históricos, fortemente carregados de uma temática social, seja com irreverência e irreverência e nacionalismo, caso da Caprichosos de Pilares, do carnavalesco Luiz Fernando Reis, (‘e Por Falar em Saudade’, de 1985, e ‘Brasil com Z, Não Seremos Jamais ou Seremos?’, de 1986, entre outros) seja colocando o ‘dedo na ferida’, como fazia a São Clemente, que se notabilizou pelos enredos de crítica engajada ao longo daquela década (‘Quem Casa quer Casa’, de 1985, e ‘Capitães de Asfalto’, de 1987, entre outros).

Artistas visionários e transgressores, como o carnavalesco Fernando Pinto (1945-1987) também são retratados pelas suas criações, repletas de críticas com apelo social, caso de ‘Tupinicópolis’, apresentado pela Mocidade Independente de Padre Miguel no Carnaval de 1987. Associada a enredos de exaltação ao regime militar até 1975, a Beija-Flor de Nilópolis tem destaque no livro pelos devaneios críticos de Joãosinho Trinta ( 1933-2011), que resultaram na sua ousadia maior: ‘Ratos e Urubus, Larguem a Minha Fantasia (1989), considerado por muitos como o maior desfile da história e que aparece em destaque na capa do livro, ilustrada por Ronnie Foster.

Questionado sobre o binômio ‘política-samba’, o autor afirmou que vê semelhanças entre o momento retratado pela obra e os dias atuais.

– Foi um período interessante das escolas de samba, que saíram um pouco daquela lógica dos enredos mais tradicionalistas, de uma história oficial, e puderam cantar as nossas agruras e mazelas, mas também os nossos sonhos, desejos e utopias. Então acredito que é importante lembrar esse momento. Acho que estamos vivendo um momento parecido, que as escolas estão se voltando a refletir o cotidiano e levar isso para Avenida – conclui Guaral.