A intervenção no Hospital Geral de Arraial do Cabo completa um mês nesta quinta-feira. Mas, na opinião dos pacientes e até mesmo da Secretaria Municipal de Saúde, apesar de alguns avanços, ainda há um longo caminho a ser percorrido.
Ao mesmo tempo que os exames mais complexos como eletroencefalograma, tomografia e ultrassonografia voltaram a ser marcados, procedimentos mais simples como raio-X , cujo equipamento está com defeito, ainda não estão sendo feitos. A unidade também sofre com a carência de profissionais, especialmente, pediatras e obstetras. A qualidade do atendimento dos demais profissionais é questionada pela população.
– O otorrino não sabe atender. Em vez de fazer lavagem do ouvido com água morna, ele aplicou água gelada. Fiquei mais surdo. Fico revoltado com certas situações. Se não sabe trabalhar, dá espaço para quem quer – dispara o paciente Heraldo José Henrique, de 58 anos.
Com inúmeros papéis e pedidos de exame nas mãos, Rosane Bernardo, 50, era outra que lamentava a situação. Ela contou que mora na cidade há 14 anos e, desde então, nada mudou.
– Não tem médico. E os exames de urina e hemograma estão suspensos. É um exame preventivo, porque se fosse algo mais grave, por exemplo, eu teria morrido – acredita.
O secretário municipal de Saúde, Carlos Alberto Barrozo, admite os problemas (leia entrevista ao lado), mas acredita em uma solução a curto prazo. Para ele, as mudanças no hospital começaram pelo estado de ânimo dos servidores.
– As pessoas estão mais esperançosas e com isso já melhorou o atendimento à população.
Apesar dos problemas, também houve relatos favoráveis enquanto a reportagem da Folha dos Lagos esteve em visita ao hospital. A faxineira Suely Ferreira de Lima Souza, 53, caiu de uma escada enquanto trabalhava. Com o osso metatarso do pé quebrado e de cadeira de rodas, elogiava o atendimento do ortopedista de plantão.
–Não tenho do que me queixar – afirma ela.
Cinco minutos com Carlos Alberto Barrozo - Secretário de Saúde de Arraial do Cabo
Folha dos Lagos – Na opinião do senhor, o que já mudou na realidade do hospital durante esse primeiro mês de intervenção?
Carlos Alberto Barrozo – Em primeiro lugar, a principal mudança que percebi foi na atitude das pessoas. É motivacional. Minha presença fez as pessoas trabalharem com mais esperança. Havia aquele sentimento de que ‘nada vai melhorar’. As pessoas desanimadas perdem o olhar crítico, logo nossa ação tem sido muito mais motivacional. Em segundo lugar, pudemos entender processos que estavam errados, até mesmo por culpa nossa, como a questão dos suprimentos em algumas áreas. Não conseguimos ainda resolver cem por cento dos problemas, mas conseguimos avançar bastante.
Folha – Muitos pacientes reclamam da falta de exames e insumos básicos. Na prática, do ponto de vista material, o que está sendo feito?
Barrozo – Encontramos os equipamentos de laboratório com defeito. Precisamos importar ampola de raio-X. Já foi tudo licitado, empenhado. O hospital precisa de muita coisa, mas principalmente de uma ação de síndico. Uma ação não só com o prédio mas com as pessoas. Também estamos fazendo um planejamento, um novo pacto financeiro com anestesistas e cirurgiões gerais para voltarmos a fazer as cirurgias eletivas (que não são de urgência). Acredito que até a metade de julho, estaremos fazendo novamente.
Folha – A justificativa da maior parte das críticas se dá por conta da arrecadação com os royalties do petróleo e que, por conta disso, seria possível fazer muito mais. O que o senhor tem a dizer sobre isso?
Barrozo – O hospital de Arraial não tem como funcionar apenas com recursos próprios. É muito caro. Uma cidade com 30 mil habitantes não pode ter um hospital com cem leitos. É muito. Você sabe quanto a cidade arrecada por mês com royalties? Não é o suficiente, pois só o hospital tem um custo fixo de R$ 2 milhões, mesmo sem entrar um único paciente. Meu orçamento é de R$ 24 milhões por ano, mas só de folha de pagamento eu gasto R$ 14 milhões. Não dá para sustentar essa estrutura. O principal problema é que o Governo Federal repassa o mínimo do orçamento que a lei obriga, o estadual abaixo do mínimo. O governo municipal está sobrecarregado, pois a lei diz que tem que investir 15% e nós investimos 35% do orçamento.
Folha – Desta forma, qual a solução para esse problema na opinião do senhor?
Barrozo – O ideal é trabalhar no sistema de consórcio intermunicipal. O Governo Federal até tem estimulado esse tipo de sistema, mas ele não funciona porque se trata de uma ferramenta jurídica que depende dos prefeitos e não dos secretários de saúde. O entendimento técnico para que isso aconteça é o melhor possível, mas falta vontade política de alguns dos prefeitos, o que não é o caso do prefeito Andinho (prefeito de Arraial do Cabo), que é o presidente do consórcio.
Folha – Existe um prazo para que o hospital esteja funcionando a todo vapor?
Barrozo – Se falarmos que a situação no hospital será normalizada em até 30 dias, com sobras. É um prazo bem razoável.