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São Pedro fecha portas para Paes

São Pedro fecha portas para Paes

Moradores mostram-se ofendidos com comentários do prefeito do Rio

18 março 2016 - 11h48

Distante do furacão que varre para o desconhecido a política do Brasil, o comerciante Darcio Lima, 60, arruma calmamente as garrafas do seu bar na Rua do Fogo, em São Pedro da Aldeia. Na televisão, notícias sobre as recentes gravações que envolvem o ex-presidente Lula. Numa delas, o petista conversa com Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro, que debocha da “alma de pobre” de Lula e faz chacota de cidades como Maricá, Araruama e... São Pedro, fazendo a tormenta do centro do poder chegar à pacata zona rural e a Seu Darcio. Em resposta, o prefeito aldeense, Cláudio Chumbinho, convidou Paes a conhecer o município. Mas, se depender do comerciante, o passeio será solitário.

– Eu não receberia o Paes aqui depois de ele ter humilhado a cidade – protesta Seu Darcio.
Perguntado sobre o que em São Pedro mostraria a Paes se tivesse a chance, o comerciante até ponderou, “a cidade realmente não tem muito para se ver”, mas, para ele, Paes foi deselegante ao se referir ao lugar daquela forma.

– Eu sou nascido e criado em São Pedro, então claro que fico ofendido – comentou.
Na mesma rua, poucos metros mais para perto da estrada, o casal Márcio Matos e Juliana Silva olham feio quando ouvem novamente as declarações do prefeito carioca. Márcio filosofa:

– Meu pai me ensinou isso: ‘sempre que estiver lá em cima, não humilhe quem está la embaixo’. Ele é um político importante, deveria ser exemplo, mas está menosprezando o lugar e as pessoas – lamentou.

Depois, foi mais incisivo para condenar a atitude de Paes:

– Por que ele tenta nos humilhar? A única diferença é que ele é rico e nós somos pobres...

Juliana, sentada ao lado dele, concorda com tudo.
– E o pior é que somos nós, os pobres, que botamos eles lá – diz ela, resignada.

No bairro vizinho, a Fleixeira, a costureira Cristiane Barbosa e seus três filhos também já estão sabendo das declarações.
– É claro que eu fiquei ofendida, acho que todo mundo ficou.

A reportagem pergunta o que mostraria para o prefeito carioca em São Pedro da Aldeia:
– O que eu mostraria? Eu nem receberia este homem aqui.

Miguel Jeovani, prefeito de Araruama – cidade que também foi alvo de chacota de Paes –, se pronunciou na manhã de ontem: “Acredito que ele não conheça Araruama. É linda e tem um povo muito acolhedor.”. Já o aldeense Cláudio Chumbinho foi generoso com o companheiro de partido: “Registro, desde já, o convite para que o mesmo venha conhecer as belezas e maravilhas da querida São Pedro.”.

Se aceitar o convite, no entanto, Paes encontrará para si um ambiente para lá de hostil 

– O que ele falou foi um absurdo. Eu moro entre o Rio e São Pedro e venho para cá em busca da tranquilidade que a cidade dele não tem. Aquela figura do rapazinho bonzinho é só fachada de político – reclamou o aposentado Geraldo Luz, que se diz satisfeito em passar gostosas tardes na Praça da Matriz e tomar sorvete nas redondezas.

Quando perguntado se aceitaria a companhia de Paes para um sorvete por ali, o aposentado sorri e balança a cabeça: ‘não’.

Na Praia do Sudoeste, a cabeleireira Claudenize Falcão não é tão paciente com o prefeito carioca como Seu Geraldo foi.
– Ele é um boçal. Deveria estar desassoreando os rios da cidade dele em vez de estar falando de uma cidade maravilhosa e calma como essa aqui – dispara ela, que é moradora de Cabo Frio mas abre mão da Praia do Forte para aproveitar a tarde no balneário de São Pedro.

– Sobre o convite que o prefeito daqui fez, eu não faria, porque quem muito se abaixa mostra a bunda. Deixa o Paes lá. Ele precisa sair do mundinho dele e cair na realidade – completou.

A ligação para o ex-presidente Lula saiu cara, afinal.