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Reunião do prefeito Adriano com empresários causou mal-estar com Gabinete de Crise

Encontro foi marcado à revelia dos integrantes do grupo e pode ter custado a saída do secretário de Turismo, Paulo Cotias, do grupo do Gabinete de Crise

27 março 2020 - 17h47Por Rodrigo Cabral e Tomás Baggio
Reunião do prefeito Adriano com empresários causou mal-estar com Gabinete de Crise

O agendamento de uma reunião entre  empresários e o prefeito de Adriano Moreno, que aconteceu na noite de quinta-feira (26), causou mal-estar no Gabinete de Crise montado para o enfrentamento da crise do coronavírus no município. Os empresários solicitaram a reabertura parcial do comércio ao prefeito, que pediu prazo de 24h para dar a resposta. No entanto, o encontro foi marcado sem a ciência dos integrantes do Gabinete. Esse pode ser o motivo da saída do secretário de Turismo, Paulo Cotias, do grupo de gestão de crise, anunciada na quinta.

Ao explicar sua decisão, Cotias falou em "interferências internas". A Folha dos Lagos apurou que a reunião foi agendada pelo secretário de Desenvolvimento da Cidade, o arquiteto Felipe Araújo. Ele não faz parte do Gabinete de Crise, cujos integrantes são, além do procurador-geral Bruno Araguti, outros secretários do governo: Everaldo Loback (Mobilidade), Jorge Marge (Segurança Pública), Leandro dos Santos (Ordem Pública), Matheus Araguti (Desenvolvimento Econômico) e Iranildo Campos (Saúde). 

Segundo fontes do jornal no primeiro escalão do governo, Felipe Araújo teria levado a questão ao prefeito Adriano na noite de quarta-feira, quando a maior parte dos servidores já tinham ido embora. Inclusive os integrantes do Gabinete de Crise. No dia seguinte, na sexta-feira, o prefeito Adriano Moreno, em entrevista à Litoral News, anunciou que faria a reunião com os empresários. Surpresa para todos. O Gabinete de Crise soube da notícia pela televisão.

Nas redes sociais, nesta sexta, Cotias fez um post enigmático.

–  A História é implacável. Revela o ardiloso, cobra a fatura da insensatez. Nomeia responsáveis, atribui culpas inescapáveis e explica que a diferença entre a tragédia e a redenção é uma questão de escolha. Carrego a vergonha de um tempo de trevas, de decepção e perplexidade.

Há muitas ressalvas entre os integrantes do Gabinete em relação à reabertura parcial do comércio. Alguns temem colocar todo o trabalho de quarentena feito até agora por água abaixo. O secretário de Saúde, Iranildo Campos, por exemplo, afirmou nesta sexta (27) à Folha que é contra a assinatura de um decreto mais brando. Além disso, os assessores do prefeito Clóvis Barbosa e Antônio Carlos Vieira, o Cati, ambos com muita proximidade a Adriano Moreno, também são contrários à ideia.

Procurado pela Folha nesta sexta-feira, Felipe Araújo disse que "não existe mal-estar". Ele confirmou que fez a ponte entre o prefeito e os empresários, mas afirmou que não houve atritos.

– Não tem diferenças, mal-estar com ninguém. Ele [Cotias] deve ter os motivos pessoais. Só fizemos uma ponte, apenas uma ponte, para ligar os anseios da sociedade com o Poder Executivo. Não tem mal-estar, não tem passar por cima de ninguém. A situação é grave. É um lençol curto para cobrir um gigante. O pé é a crise na Saúde e a cabeça é a crise econômica. A gente sabe que são duas bombas atômicas que estão para explodir. Precisamos de habilidade muito grande para conseguir que não explodam ao mesmo tempo. 

Durante a reunião, Felipe fez um discurso emocionado e chegou a chorar.

–  Meu discurso foi baseado na minha história. Sou filho de trabalhador proletário. Meu pai era industrial, trabalhava na Álcalis. Minha mãe, funcionária bancária. Com muito custo, estive com trabalhadores da construção civil, no dia a dia, numa relação quase que familiar. Agora, estou vendo que as pessoas estão sem comida, sem possibilidade de perspectiva futura. Isso gera um problema social e econômico ao mesmo tempo. Não tem como não se comover. São seres humanos. Quando você entra na prefeitura com propósito de criar alternativas positivas para impulsionar e organizar o ramo da construção civil e se vê num dia tendo que fechar o ramo que está ali para defender num crescimento sustentável, acaba tendo uma guerra interior. Não consegui lidar com as emoções naquele momento. Até peço desculpas. É muita gente que me ajudou a chegar aonde cheguei, e estou vendo essas pessoas em sofrimento.

Para o secretário, as medidas anteriores não vão ser desvalorizadas num possível acordo entre o Executivo e o empresariado.

– O melhor caminho é valorizar todas as medidas que foram feitas. Organizar  o planejamento e mitigar os problemas possíveis – afirmou Felipe  Araújo, que afirmou ser favorável ao cumprimento de quarentena de 15 dias.

"Se o comércio abrir, vai todo mundo para rua", diz Iranildo Campos

O secretário de Saúde, Iranildo Campos, afirmou que entende o anseio de empresários que pedem a volta das atividades, mas alegou que o protocolo para diminuir a intensidade de propagação do vírus é prioridade neste momento. Ele disse que não foi convidado para a reunião com os empresários. De qualquer forma, ele afirma que não poderia ir, por conta de compromissos na secretaria.

– Infelizmente, tem pessoas que querem ver o lucro e não pensam na comunidade, em quem tem que se expor. Se abrir o comércio hoje, vai aumentar muito a quantidade de pessoas nas ruas. A gente diz pras pessoas ficarem em casa. Se abrir o comércio, vai todo mundo pra rua. Os serviços essenciais já estão funcionando. Não sou contra empresário. Não sou contra a economia da cidade, os empregadores. Mas eu tenho que falar sobre a parte da saúde. Minha opinião é que não conceda essa abertura do comércio agora, senão teremos um aumento muito grande (de atendimentos) nas emergências.

Prefeito de Milão admite erro em campanha "Milão não para"

O prefeito de Milão, Giuseppe Sala, admitiu que errou ao apoiar a campanha "Milão não para". A campanha foi incentivo aos moradores a continuar em suas atividades, mesmo diante da pandemia do coronavírus. Naquele momento, a região da Lombardia, onde Milão fica localizada, tinha 250 pessoas infectadas pelo vírus, com 12 mortes. Nesta sexta, os casos confirmados na região chegam a 37.398, com 5.402 mortes.