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garimpeiros do mar

Ressaca leva 'garimpeiros' a tentarem a sorte na Praia do Forte

Há quem use até detector de metais para encontrar objetos de valor perdidos no mar

15 agosto 2017 - 13h55Por Texto e foto: Rodrigo Branco
Ressaca leva 'garimpeiros' a tentarem a sorte na Praia do Forte

À primeira vista, a cena provoca estranhamento em quem a presencia na Praia do Forte, em Cabo Frio. Mais de dez homens de cabeça baixa, para lá e para cá, na beira do mar, como se estivessem procurando algo.

E de fato estão, mais do que procurando, praticamente ‘garimpando’ a faixa de areia sob o mar, em busca de objetos valiosos perdidos ou esquecidos pelos banhistas, como relógios, anéis, pulseiras e cordões.

Em período de ressaca, como o que acontece nos últimos dias, os ‘garimpeiros do mar’ apostam na subida da maré para trazer alguma peça de ouro que possa se transformar em renda extra. 

Extra mesmo, porque a maioria tem ocupação. É o caso do vigia noturno Davi Elias Ferreira, 47. Desde 2009 caçando ‘tesouros’ no Forte e em outras praias, Davi não economiza esforços e recursos para ter sucesso na empreitada. Ele dedica de cinco a seis horas diárias ao ‘ofício’.

Ele se destaca dos demais por usar uma ‘sand scoop’ (espécie de pá coletora) e um detector de metais com uma minicâmera acoplada que, em alguns casos, localiza objetos enterrados a meio metro de profundidade, dependendo da consistência da areia.

Davi usa equipamento para detectar metais sob a areia

O ‘caçador’ disse que já chegou a encontrar uma aliança de ouro de dez gramas (R$ 1.300, na cotação desta segunda). Ontem, em meia hora, Davi conseguiu achar duas alianças que, juntas, valem cerca de R$ 500.

– Se a pessoa vier todos os dias, consegue tirar um salário mínimo (R$ 937). Tem amigo meu que já tirou R$ 3 mil – garante ele, que mora na Ville Blanche.

Pouco antes da descoberta de Davi, o colega Júlio Medina, 56 anos, 40 de ‘garimpo’, desdenhava. 

– Ouro é sorte, não é aparelho – disse ele, que garante só ir ‘no olho’.

Com a experiência de quem já faturou R$ 5 mil em um dia, durante outra ressaca, ocorrida em 2010, Rogério Chaves, 35, sentencia.

– Tem que ter paciência e sorte. Só que mais paciência – crava.

Mas a maré não estava muito boa para Fernando da Silva, 43. Nos últimos 15 anos, o trabalhador da construção civil cavou buracos 'pelos sete mares' atrás de um qualquer. Para cada busca bem-sucedida como o brinco de argola que exibe na orelha esquerda, Fernando coleciona dezenas de histórias para contar. Em casa, na Célula Máter, ele diz ter um mural com as bijuterias e objetos curiosos encontrados. Há moedas antigas, dentaduras e até bala de revólver. Certa vez, ele afirma ter achado uma bicicleta no Canto do Forte. 

Mesmo com tanta gente ocupando o mesmo espaço, o rapaz garante que não tem briga. Ou melhor, ele lembra de uma ocasião em que a coisa quase saiu do controle.

– Em outra ressaca, veio um pessoal do Rio com o ancinho para pegar as coisas. O pessoal não gostou muito, mas depois fizemos amizade e ficou tudo certo – relembra.