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DIÁLOGOS

"Região tem potencial enorme para crescer, mas gestores precisam atuar", diz vice-presidente eleito da Firjan

Luiz Césio Caetano prega ação firme e articulada para municípios retomarem desenvolvimento

28 agosto 2020 - 21h35Por Rodrigo Branco

A Região dos Lagos vai continuar no centro das decisões da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) pelos próximos quatro anos. A chapa liderada pelo empresário Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira venceu as eleições da entidade e a nova  diretoria terá na composição o empresário Luiz Césio Caetano. 

Atualmente, Caetano é presidente do Sindicato das Indústrias de Refinação e Moagem de Sal do Estado do Rio de Janeiro, presidente da representação regional Leste Fluminense da Firjan, presidente do Conselho Empresarial de Responsabilidade Social da Firjan, membro do Conselho Deliberativo do Sebrae-RJ e membro do Conselho Municipal do Plano Diretor de Cabo Frio. 

Em entrevista à Folha, Caetano fala das expectativas para o novo mandato; as ações da Firjan durante a pandemia de Covid-19 e as oportunidades para a retomada.

– Onde você encontra uma área livre de dois milhões de metros quadrados entre uma aeroporto e um porto? Temos em Cabo Frio – afirmou.

Folha dos Lagos – Como a presença do senhor na vice-presidência da Firjan pode ser benéfica para a Região dos Lagos?

Luiz Césio Caetano  –  Eu já fazia parte da diretoria da Firjan há muitos anos. A minha posição atualmente é diretor-tesoureiro. O mandato vai acabar em outubro e toma posse a diretoria eleita. Aí, assumo a posição de vice-presidente. Além disso, sou o presidente do Conselho Regional do Firjan no Leste Fluminense. São 16 municípios, de Niterói, que é a sede, até Rio das Ostras, pegando todos os municípios da costa, Casimiro de Abreu, Silva Jardim, Rio Bonito e etc. Então, a minha atuação na região já é bastante intensa. Além dessa minha atuação, temos o Ricardo Guadagnin, que é de Cabo Frio, empresário do setor moveleiro. Temos também no Conselho o Sérgio Yamagata, que é um empresário da Região dos Lagos. Então eu diria que o Leste Fluminense e a Região dos Lagos têm uma presença bastante importante na Firjan. Acho que essa nova diretoria, que tem a mim e o Yamagata, reforça esse compromisso da Firjan com o Leste Fluminense e com a Região dos Lagos.

Folha – E como tem sido essa atuação na região?

Caetano – Temos atuado bastante em diversos problemas e dificuldades dos empresários. Temos a questão do Porto do Forno, que é importante. Temos a questão da participação na revisão do Plano Diretor de Cabo Frio. Participamos no Comitê da Bacia do Lagos São João. Temos um projeto que atrasou, mas está pronto para começar, que é um espaço avançado para qualificação de mão de obra. Nós conseguimos com a Secretaria Estadual de Educação a cessão não onerosa de um espaço no Colégio Miguel Couto, em Cabo Frio. Nós preparamos o local para receber as unidades móveis do Senai, atendendo a demanda  do segmento de confecção; de alimentação, na área de panificação, por exemplo; de construção civil. A ideia é que uma parte das vagas seja preferência dos alunos do Miguel Couto, para que a gente possa iniciar uma atividade mais presente na região.

Folha – E tem alguma previsão de quando tudo vai ficar pronto?

Caetano – Era para ter começado no primeiro semestre, em março ou abril. Com essa pandemia, mudou tudo e não sei quando. Na realidade, é uma sala de aula. Você tem uma unidade móvel, em que há uma sala de aula acoplada ao laboratório. E as aulas estão suspensas. Infelizmente, não há uma previsão, mas o espaço está pronto e adequado. Faltam condições de iniciar, em função do momento que vivemos.

Folha – Como a Firjan tem atuado durante a pandemia?

Caetano –  De março pra cá, fizemos um Programa de Resiliência Produtiva. Dentro desse programa, demos apoio à indústria para superar essa dificuldade. Então são diversos pleitos junto ao governo municipal, estadual, federal, passando pela área tributária, área de acesso ao crédito, e de saúde também de apoio a essas empresas. O Sesi preparou todas as cartilhas de instrução, segmentando por atividades, apontando quais as ações para tomar na prevenção da contaminação. Além disso, nós tínhamos aqui um programa de testagens do Covid, através do PCR, gratuito para pequenas e médias empresas. Na região, teve um pool de empresas que participou  e o pessoal da parte operacional do Sesi esteve na região fazendo a testagem. Então foi um serviço que prestamos para a comunidade industrial, mas para a própria Saúde pública. Então, atuamos bastante durante a pandemia e estamos bastante preocupados com  a retomada.

Folha – E como a Firjan atua nesse momento de retomada?

Caetano – A Firjan atua em todo o estado do Rio de Janeiro e tem os seus recortes regionais. Há pesquisas que baseiam todo o nosso trabalho. Temos o Mapa de Desenvolvimento do Rio de Janeiro 2016-2025. Esse mapa está estruturado em cinco eixos, que são sistema tributário, mercado de trabalho, infraestrutura, gestão e políticas públicas e gestão empresarial. É um trabalho da Firjan que foi feito com a contribuição de empresários e instituições. Cerca de mil empresários participaram da elaboração desse mapa. E em função desse mapa, a gente desenvolve todo o trabalho. Temos também uma quantidade enorme de estudos e pesquisas para prospecção de oportunidades. Temos dois estudos, que são o índice Firjan de Desenvolvimento Municipal e o Índice Firjan de Gestão Fiscal, baseados em informações públicas como emprego e renda, educação, saúde, que estão disponíveis nos respectivos órgãos de governo. E essas são ferramentas de uso do Poder Executivo porque mostram os problemas de emprego e renda, de educação e de saúde, de gasto de pessoal, de investimento, de liquidez do município. Está tudo ali. Esse é o trabalho que a gente desenvolve regularmente, mas quando  chegou essa pandemia, a partir d e março, tudo mudou, e a questão era de sobrevivência das empresas, de como dar suporte a elas. O que nós fizemos foi um programa de retomada do crescimento com o intuito de apontar caminhos para a retomada e aí nós passamos esse trabalho, que foi montado e apresentado a Alerj. Nós abordamos a parte de infraestrutura; de mobilidade urbana; de segurança pública; de acesso ao crédito, competitividade regulatória e tributária. Esses foram os pontos que nós entendemos como importantes para o trabalho do estado e da Alerj, sem que comprometesse toda a situação do estado. O estado tem uma situação bastante complicada, então era preciso que não houvesse impacto negativo nas finanças. Esse trabalho que apresentamos na Alerj tem quatro eixos mais importantes que a gente identificou, que são as PPP’s (parcerias público-privadas), que identificamos um potencial de R$ 55 bilhões de investimento. Mapeamos 142 oportunidades de PPPs. Outro eixo foi saneamento, onde com o Marco Regulatório, mapeamos um potencial de investimento de R$ 23 bilhões. O outro foi Óleo e Gás, considerando a Lei do Gás, que estamos trabalhando junto com outras federações e a CNI (Confederação Nacional da Indústria), para conseguir aprovar isso rápido lá na Câmara. Identificamos na área de óleo e Gás, investimentos na ordem de R$ 45 bilhões. E o quarto eixo é um ‘cluster ‘ tecnológico naval, que é o desenvolvimento da economia do mar. Não vamos falar só da parte naval, mas da economia naval, que é uma perspectiva muito grande de desenvolvimento. Nessa linha, é o que nós vamos trabalhar nos próximos anos. Atuar de forma propositiva, e apontando esses caminhos como possíveis de desenvolvimento do estado e de atração de investimentos. 

Folha – No caso específico da Região dos Lagos, quais as oportunidades que podem ser aproveitadas?

Caetano – Eu vejo um potencial enorme. Cada um desses eixos de investimento tem uma cadeia de valor enorme. Vou citar, por exemplo, a área de concessões de PPPs. Tem construção civil, construção pesada, energia elétrica, moveleiro, cerâmica, tintas, vidros, a parte de tecnologia da informação. Se pegar o saneamento, tem o setor de plástico, de metalurgia, cimento, química, metal mecânico, cerâmica. A cadeia disso é muito grande, com esses valores fantásticos de investimentos. Quando focamos na Região dos Lagos, acho que há um potencial da região absorver parte muito grande dessa cadeia. Você observa que temos atividades na área de logística, moda praia, construção civil, setor salineiro; setor de pescado, oléo e gás. Temos a oportunidade de trabalhar no Porto do Forno e na parte de lazer. Quando considera Macaé a Niterói, Cabo Frio é o polo de lazer. Tem Turismo, serviços. Então você vê a quantidade de atividades que a região é rica e pode abocanhar parte desse volume de investimentos. Mas é preciso que as gestões municipais atuem. Não cai do céu. Temos uma oficina de melhores práticas na estruturação de PPPs. PPPs tem uma oportunidade de investimento de R$ 55 bilhões e não é procurado. Acho que os gestores públicos tinham que colocar turmas e turmas para fazer essa oficina para  trabalhar nas PPPs. De iluminação, de cemitérios, de saneamento, de rodovia. As oportunidades são muito grandes e eu vejo que elas não são aproveitadas da melhor maneira. Volto a dizer que a nossa região tem uma capacidade de absorção dessa retomada de desenvolvimento, mas é preciso uma atuação firme e bem articulada do poder público. Uma questão que eu vejo extremamente importante na região é a logística. Hoje temos rodovias boas, um aeroporto, e um porto. Temos dois polos para desenvolver, o de Cabo Frio e o Lagos, de São Pedro da Aldeia, à beira da rodovia RJ-106. Então a região tem uma capacidade enorme de se desenvolver em logística. Onde você encontra uma área livre de quase dois milhões de metros quadrados entre um aeroporto e um porto? Temos em Cabo Frio. Temos a indústria salineira, temos a marca líder de mercado no Brasil para consumo humano; temos a construção civil, um segmento forte na região; temos o pescado, que perdeu muito na região e que acaba indo para o porto do Rio ou do Sul; o turismo. Eu vejo com grande potencial de desenvolvimento para a retomada, mas com uma atuação mais articulada do poder público. 

Folha – Os municípios falam em dependência dos royalties e de outras transferências estaduais e federais. Como superar isso?

Caetano – Acho que só vai acabar com essa dependência quando desenvolver esse segmento de óleo e gás e daí tirar os recursos e a tecnologia para outros negócios. É um setor de produto de alto valor agregado e que movimenta uma cadeia de valor muito grande. Por que não se beneficiar disso para desenvolver outros setores? Acabar com  a dependência é relativo. Sim, vamos acabar com a dependência, mas no longo prazo; no curto prazo, vamos nos beneficiar dessa dependência. Os leilões ( de pré-sal) estão acontecendo, o setor vai se desenvolver. Tem os royalties, como eles estão sendo aplicados? No custeio é perder oportunidades. Temos na região Leste Fluminense, dois bons exemplos, Niterói e Maricá, que fizeram um fundo. Por que Niterói pode passar melhor que a maioria nessa pandemia? Oferecer linhas de credito às empresas da cidade? Porque tinha um fundo de R$ 300 milhões, que foi feito com recursos dos royalties. Maricá é a mesma coisa. Você tem que criar um plano estratégico para usar esses recursos que estão aí de imediato para implementar projetos de longo prazo. É uma ideia boa, mas ao invés de ser um programa de estado, passa ser programa de governo. Vem outro governo e muda. O município tem que querer isso. Os munícipes têm que querer isso. 

Folha – Em que estágio estão as conversas pelo Polo de Desenvolvimento de Cabo Frio com a Firjan?

Caetano – O município parou antes da pandemia. Tínhamos uma reunião entre os dia 13 ou 15 de março, não me lembro agora o dia, que foi cancelada. Conversamos com o Matheus (Mônica, secretário de Desenvolvimento Econômico à época, que voltou ao cargo), tivemos uma reunião, íamos ter a segunda e a terceira reunião no início de março, e foi cancelada, quando começou todo o isolamento social. Vamos aguardar para voltar a sentar e desenvolver porque a área está lá designada, mas isso tem que ser planejado e a Firjan está aberta a dar esse suporte.