A partir do ano que vem, o professor de História e sindicalista Rafael Peçanha vai sair da condição de estilingue para a incômoda posição de vidraça. Mas, alçado pela primeira vez a umas das 17 cadeiras da Câmara Municipal pelos 1.794 votos recebidos para vereador, o pedetista afirma que não está preocupado com a cobrança dos colegas da Educação e garante que continuará a ser um fiscal das ações do governo municipal.
– Ele (Alair) teve contribuição histórica para a cidade, mas agora é página virada – diz.
Folha dos Lagos – Você esperava uma votação tão expressiva logo na primeira vez?
Rafael Peçanha – A gente tinha a consciência de que a população de Cabo Frio clamava pelo novo e pela mudança, principalmente na Câmara. Nós tentamos corresponder a essa expectativa com uma campanha propositiva, limpa e honesta. Foi fundamentada no voluntariado e na militância. Trabalhamos para ter uma votação expressiva e tivemos a votação que a população de Cabo Frio quis que tivéssemos. Fui o vereador do PDT mais votado em toda a região da Baixada Litorânea. Então, o trabalho foi reconhecido e agora a gente é que precisa dar uma prova de gratidão para a população, honrando esses votos e fazendo um mandato histórico.
Folha – Que tipo de recado a renovação da Câmara passa para os políticos tradicionais?
Peçanha – O recado é que é preciso renovar as lideranças políticas em Cabo Frio. Esse momento velho da política da cidade passou, mas também não é momento de gente nova com práticas velhas. A gente precisa estar atento a isso. Os novos vereadores precisam estar unidos, precisam estar articulados. A gente está trabalhando em cima disso. Precisamos liderar um movimento de renovação, de unidade desses novos vereadores. Já estamos fazendo isso para que possamos mostrar com as nossas ações e nossas atitudes essa renovação. Que não seja somente uma renovação de nomes, mas uma renovação de ideias e de projetos políticos para o futuro da cidade. Algumas lideranças antigas se foram. Não terão mais espaço na política de Cabo Frio. E é hora de novas lideranças surgirem e a gente quer concorrer a essa corrida sempre pensando em melhorar a cidade, nunca no benefício individual.
Folha – Quando você fala em velhas lideranças você se refere ao prefeito Alair Corrêa?
Peçanha – No nosso grupo político não se fala mais em Alair Corrêa. Alair é uma liderança morta na cidade. É uma página que tem que ser virada. Deu a sua contribuição histórica à cidade, tanto boa quanto ruim, mas agora é momento de pensar para frente. Ele não existe mais politicamente assim como Paulo César. Em 2008, ele foi à rádio dizer que estava jogando uma pá de cal no PDT. Hoje a gente que jogou nele. Então, ele está fora do processo político e nós temos que construir novas lideranças para ocupar esse espaço, promover gestões modernas, gestões participativas e populares, que é o que a gente não tem na cidade.
Folha – Como você avalia esse primeiro momento na Câmara Municipal, quando as novas forças políticas ainda vão começar a se aglutinar?
Peçanha – Eu não vou ter muita dificuldade na ambientação porque já trabalhei lá como servidor concursado, então sei como funciona. A minha ideia é começar já marcando posição, sendo incisivo nos posicionamentos. E eu tenho dito para as pessoas que vou continuar sendo tão atuante e corajoso quanto sempre fui e é como servidor, como militante, e como sindicalista. Então a nossa posição é bastante clara: vamos aplaudir o que for bom pra a cidade e criticar, fiscalizar e denunciar o que for nocivo, como sempre fiz.
Folha – Então quem espera de você ‘oposição por oposição’, não é bem isso...
Peçanha – Vamos fazer na Câmara o que a gente já faz: oposição consciente responsável e madura. Mas uma oposição firme e decidida em favor da cidade.
Folha – Você tem comentado a respeito da necessidade de auditoria nas finanças públicas. Vai ser uma prioridade?
Peçanha – Essa é coisa mais urgente na cidade: uma auditoria responsável, técnica, para que a gente possa identificar para onde foi o dinheiro, por que ele não está indo para o lugar correto e o que podemos fazer já a partir de 1° de janeiro para que ele vá. Ao lado disso, temos que trabalhar para melhorar a arrecadação própria do município em relação aos impostos, em relação a, talvez, facilitar o pagamento de impostos para poder lucrar mais. Então a gente precisa de um plano de ação de recuperação financeira de Cabo Frio. Um plano emergencial, nos primeiros dias de governo e, a partir de então, construir projetos de médio e longo prazo para recuperação financeira. E essa recuperação financeira passa decididamente pela estabilização do salário do servidor. Isso é fundamental. É o servidor que movimenta a economia e que movimenta o processo social e político da cidade. Então, pagar o que é devido, pagar em dia, restabelecer os direitos do servidor é uma bandeira de prioridade para a gente recuperar financeiramente a cidade.