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Rayzza

"Quantas Rayzzas estão aí?": Mulheres vão às ruas e prometem não esquecer o caso

"Quantas Rayzzas estão aí?": Mulheres vão às ruas e prometem não esquecer o caso

31 maio 2016 - 09h49Por Gabriel Tinoco
"Quantas Rayzzas estão aí?": Mulheres vão às ruas e prometem não esquecer o caso

Com microfone em punho, Vania Souza pontuou energicamente quatro palavras: “quantas Rayzzas estão aqui?”. A mãe da jovem brutalmente assassinada na semana passada dirigia-se a um mar de rostos que, para ela, não tinham nomes. Ou melhor, tinham: em resposta à pergunta, eram todas Rayzzas. Mulheres que, coletivamente machucadas, reuniram-se na tarde de ontem, na Praça Porto Rocha, para gritar um basta ao feminicídio – o triste crime que levou Rayzza para longe do alcance da voz da mãe.

O protesto organizado pelo Movimento de Mulheres da Região dos Lagos concentrou-se por volta das 14h no centro de Cabo Frio. Diversas mulheres, de diferentes idades e profissões, revezaram-se ao microfone para depoimentos e discursos. E num dos momentos mais emocionantes do dia, a mãe da vítima pediu a palavra e, bastante emocionada, discursou.

– Então quer dizer que estamos no Século 21? Aí chega um homem, que mais parece um animal, e faz uma atrocidade dessa. Nós podemos dizer não! Cadê o direito de ir e vir? Olha onde chegamos com a luta. Por isso estou aqui. Levantei (aos prantos), sequei as lágrimas e vim ao protesto. Estamos sozinhas no mundo machista que tem o homem como predador. Quantas Rayzzas estão aqui? Precisamos de homens e mulheres que respeitem essas mulheres – desabafou, sem segurar as lágrimas.

A manifestação também deu espaço para estudantes, professoras e homens solidários à causa. A rapper Taz Mureb pegou o microfone e deu uma palinha da música ‘Essa aí mereceu ser estuprada’, em que comenta não só a morte de Rayzza, como também o caso dos 33 homens acusados de violentar uma menina de 16 anos na capital do Rio de Janeiro. “Pra tocar no corpo de qualquer mulher; Tem que ter consentimento; Só se ela permitir; Não importa se ela é preta, branca, índia ou Geni”, dizia um dos versos da canção.

Após os discursos, elas foram em direção à Avenida Júlia Kubitschek, passando pelo Canal do Itajuru, em marcha com gritos de “Não desrespeita a nossa vida; eu quero preso o assassino da Rayzza”.

Medo – As mortes de Rayzza Ribeiro e de Daiana Borges – esfaqueada pelo ex-noivo na última semana – mudaram a rotina de algumas mulheres da região. O medo cresceu. A estudante Beatriz Rosa, 19, por exemplo, confessa que procura chegar o mais cedo possível em casa.

– Tenho medo e as mulheres da região devem estar todas assim. Não podemos mais nem andar na rua, porque podem acontecer coisas como o que aconteceu com a Rayzza. Para falar a verdade, às 19h já estou em casa – disse.

A também estudante Carolina Santos, 16, afirma que tem muita dificuldade em sair de casa.

– Depois do que houve com a Rayzza, é muito difícil sair de casa tranquila. É complicado ter que conviver com o medo. E o pior é que em poucos lugares a mulher está segura.

A estudante Rafaela Corrêa, 18, sempre se sentiu insegura. Para ela, esses casos só evidenciam ainda mais o que as mulheres passam cotidianamente.

– Está mais complicado. Mas essas mortes evidenciaram o que já acontecia. Estudava no IFF, onde tinham vários casos de abuso até dentro da escola. Imagina fora? Os pontos de ônibus eram vazios e escuros.

Retratos do machismo nosso de cada dia:

"Nós, do Movimento das Mulheres da Região dos Lagos, encontramos casos de abusos em todas as reuniões. E isso inclui pai, avô, tio, namorado... Infelizmente, quando nosso corpo se forma, somos vistas como um pedaço de carne pronto para ser consumido. Hoje, estamos não só pela Rayzza, mas por nós e pelas mulheres que não puderam estar aqui.”
Milena de Sá, 17

“Em 2015, estava no ônibus lotado. Sentei e tinha um homem na minha frente. Foi nessa hora que ele começou a ‘sarrar’ em mim. Saltei dois pontos depois por puro medo. Fiquei antes do ponto mais perto da minha casa. Estava muito chateada por causa disso.”
Nicole Soares, 18

“Na sala de aula, um professor costuma dizer que não tenho capacidade de compreender coisas porque sou mulher. Diz que a mulher demora para pegar o raciocínio. Além de, na rua, assoviarem, mexerem e nos degradarem por nossa existência.”
Maria Fernanda Martins, 16

"“Tenho muitos casos para falar, é até difícil escolher um. Quando tinha 13 anos, namorei um cara que já era maior de idade. Ele me manipulava e fazia eu me achar dependente dele. Certo dia, ele me agrediu. Tenho certeza que não mudou nada e que sequer reconhece que é agressor. Atualmente, chego a mudar de calçada quando ele passa.”
X, 17