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Quando a história de vida conta a memória de uma época

Testemunha viva da época de ouro do sal, José Gonçalves lança livro que é retrato de um período

07 maio 2019 - 09h15
Quando a história de vida conta a memória de uma época

TOMÁS BAGGIO

A história da indústria salineira em Cabo Frio é tema do livro ‘O Sal - Nossa Riqueza, Sua História, Minha Vida’, de José Antunes Gonçalves, lançado na semana passada no Clube Tamoyo. Trata-se de um relato de quem viveu o período. José Gonçalves nasceu em 1930 e desde criança conviveu de perto com o mundo do sal. Ao narrar o dia a dia de sua vida, faz, como poucos poderiam, verdadeiro retrato de uma época.

José Gonçalves conta em detalhes a infância na região de Massambaba, atualmente Arraial do Cabo, na época parte de Cabo Frio, e o convívio com salineiros, muitos deles portugueses. Relata o funcionamento da comunidade e cita, por exemplo, passagens como a chegada da energia elétrica. Já na fase adulta em Cabo Frio, mostra como embarcações faziam o transporte do sal produzido nas salinas no entorno da Lagoa de Araruama para os galpões que armazenavam o material na Passagem, antes da distribuição.

– A maior parte do livro foi feita com a minha memória. Me lembro de tudo, trabalhei nas salinas, em escritórios de exportação do sal. Conheço todos os navios e a quem eles pertenciam, os armazéns de sal e seus proprietários. Era uma história de riqueza. Em uma terra que tem uma paisagem tão bonita, uma natureza de tanta exuberância, as salinas pareciam emoldurar essa paisagem – lembra o escritor, do alto de seus 88 anos.

Ele lamenta a decadência da indústria salineira e explica como as salinas foram perdendo o protagonismo ao longo dos anos. 

– A partir do momento em que os portugueses que fizeram essas salinas morreram, os filhos não quiseram dar continuidade. Começaram a dizer que a produção não era consistente, que era um produto muito barato. Acabaram com essa nova visão transformando as salinas em loteamentos – afirma.

Também vale destaque no livro a descrição sobre os galpões de sal da Passagem. O tema é fruto de debate por conta do pedido de demolição de partes de um imóvel na Avenida Almirante Barroso que, segundo historiadores, serviu para o armazenamento de sal. O pedido de demolição feito pelo proprietário argumenta que o local nunca abrigou um dos galpões do sal, e que, por isso, não seria de interesse histórico e cultural. Críticos da possibilidade de demolição argumentam que o imóvel que pode ser colocado abaixo faz parte da história da cidade, e pedem que a demolição não seja autorizada.

Para José Gonçalves, a discussão nem deveria existir. Ele conta ter visto com os próprios olhos a quantidade de sal que chegava por ali.

– Ali aportavam os navios que vinham da lagoa e adentravam o Canal (Itajuru). Existiam diversas salinas no entorno da lagoa e os navios traziam por ali, passavam debaixo da ponte (Feliciano Sodré) e deixavam o sal nos armazéns. Com certeza (este imóvel era um dos pontos), estive lá e convivi na minha juventude – conta.

A publicação do livro já é considerada uma importante contribuição para a difusão da ainda tão carente memória local. Para o professor de História José Francisco de Moura, o livro é “espetacular” e “muito bem escrito”.

– O livro é espetacular. Cheio de detalhes, muito bem escrito. Fornece um mar de informações fantásticas para os historiadores, sobre as famílias da época, a riqueza da lagoa naquele período, a vida na região da Massambaba, como ouviam noticias e muitas outras coisas. É riquíssimo em detalhes. Um dos melhores livros de não historiadores já escritos sobre a historia de Cabo Frio, com certeza – sentencia Chicão.

Para quem ficou curioso, é preciso torcer para esbarrar com o escritor por aí ou aguardar uma segunda edição, ainda não planejada. Isso porque o livro não está em nenhum ponto de venda, e nem mesmo sendo vendido em mãos. José Gonçalves está distribuindo um a um. E com a crítica positiva, os exemplares já estão acabando.

 

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