Em visita a Cabo Frio para um encontro regional, o presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro (Crea), Reynaldo Barros, reforçou em entrevista à Folha dos Lagos a necessidade de um projeto executivo e de melhorias nos serviços de engenharia brasileiros.
O presidente chega a Cabo Frio para ações fiscalizatórias do órgão pela Região dos Lagos (Cabo Frio, Arraial e São Pedro). Ele também enfatizou a melhora financeira que a sua terceira gestão (as outras foram entre 2003 e 2008) proporcionou ao órgão.
Após reassumir em 2014, o presidente admitiu que o Crea detectou muitas irregularidades nas empresas da região. Segundo Reynaldo Barros, o órgão fiscaliza o exercício das atividades para garantir um serviço de qualidade para a população.
Folha dos Lagos – Nas incursões pela Região, o que o Crea tem observado?
Reynaldo Barros – Estamos fiscalizando hospitais, aeroporto, hotéis, a Prolagos. Por exemplo, um hotel tem que ter uma empresa habilitada, registrada no conselho, com um profissional habilitado e com anotação de responsabilidade técnica. Se as empresas de serviços de engenharia estão em situação regular com o conselho, há garantia que o contratante passa a ter respaldo do conselho. Vamos fiscalizar InterTV, que tem várias atividades de engenharia. No caso de um hospital, que a manutenção é feita por terceirizadas, uma terceirizada de fundo de quintal pode causar riscos à população. Tentamos através da formalidade garantir que o serviço seja feita de forma adequada, com profissionais habilitados.
Folha – No caso da indústria petrolífera, bem fortes em Macaé, quais as irregularidades?
Reynaldo – Há muito estrangeiro irregular. Qualquer estrangeiro para atuar no Brasil precisa validar seu diploma, precisa de outro profissional junto a ele acompanhando e transferindo conhecimento. Vamos a partir da semana que vem estar firme nas empresas, principalmente essas empresas de capital estrangeiro que tem um pouco mais de dificuldade de compreender a legislação brasileira. Mesmo que o estrangeiro que atua aqui não consiga ainda se habilitar, precisamos saber quem são, onde estão, e o que estão fazendo. Vamos constituir um cadastro geral desses profissionais para que o conselho possa acompanhar e estabelecer formas mais adequadas. O estrangeiro vem, presta um serviço e vai embora. Não se retém tecnologia e nem conhecimento.
Folha – O Crea tem uma posição oficial sobre a questão política?
Reynaldo – Não. O Crea tem posições individuais. Eu mesmo tenho a minha posição, mas procuro não misturar essas coisas porque o Crea é uma autarquia pública e não pode se misturar essas questões. Torço para que isso passe logo e que o Brasil volte para o rumo. O Brasil está parado, o que é uma péssima demonstração a nível internacional. Enquanto isso durar, não penso numa saída de crescimento, de desenvolvimento nas energias e isso é muito ruim. O resultado vai ser de aprendizado para mudança, mas, no primeiro momento, vai ser um impacto muito grande, porque um lado vai sair insatisfeito e o Brasil está dividido.
Folha – Um dos objetivos do encontro é discutir a situação do país. Como o órgão pode contribuir?
Reynaldo – O país que quer se desenvolver, tem que ter uma boa engenharia. Isso significa licitar uma obra com projeto executivo, sabendo exatamente quanto aquela obra vai executar. O projeto equivale no máximo 5% da obra. Sem engenharia construtiva, somos fadados ao acaso, a obras superfaturadas. A reforma do maracanã teve uma licitação de R$ 800 milhões. Saiu por R$ 1,5 bilhões, porque não teve um projeto que definia quantidade de material e os cálculos estruturais. O projeto executivo quantifica, calcula e já vai para a execução com o valor mais próximo do real. Por isso, a lei prevê no máximo 25% de aditivo, margem que permite em função do dimensionamento do projeto.
Folha – Como está o Crea internamente, no que diz respeito à sua saúde financeira?
Reynaldo – Nos meus primeiros mandatos, deixei o Crea com uma saúde financeira, uma quantidade de fiscais suficiente e deixei o órgão com relação à lei de responsabilidade fiscal perfeitamente equilibrado. Quando voltei, encontrei um orçamento completamente deteriorado, praticamente o mesmo que tinha deixado. Tivemos redução no quadro de fiscais, Faço o esforço de recuperar financeiramente o Crea e recuperar o papel dele na sociedade, que é um órgão de fiscalização do exercício profissional, de garantia de serviços de qualidade para a sociedade. Tenho que recuperar toda infra estrutura do conselho.
* Matéria completa na edição deste fim de semana da Folha dos Lagos.