Servidoras municipais fizeram ato-baile na Praça Porto Rocha na semana passada
Ultimamente, não é só com a falta de salários que sofrem os servidores de Cabo Frio. O governo, em muitas vezes, não tem repassado a pensão que é descontada no contracheque dos funcionários. Sem os depósitos, as mães têm enormes dificuldades para pagar gastos dos filhos.
A professora Ileide Ana Figueiredo, 39, está sem as pensões de setembro, outubro e novembro porque a Prefeitura desconta do ex-marido, que é guarda municipal, mas não repassa. Ela só conseguiu receber a de agosto através da Justiça.
– O pai da minha filha não recebeu os salários de setembro e outubro por causa do atraso do pagamento. A prefeitura desconta do meu ex-marido e não repassa. Com isso, há atrasos em várias contas dela. Estamos tendo que negociar tudo. Sinto-me impotente, porque não é um problema do pai dela – desabafa.
Já a autônoma Maria Gomes, 27, não teve a mesma sorte e ainda não recebeu a pensão de agosto. Ela tem dificuldades de Pessoalmatricular o filho de nove anos em outra escola.
– Amanhã (hoje) vou na delegacia para prestar boletim de ocorrência e abrir um processo. Tem meses em que o pai dele recebe e não repassa a aposentadoria. Quando repassa, vem com desconto. A escola particular está atrasada. E preciso quitar a escola para poder pegar o histórico dele e matriculá-lo em outra. Estou até com vergonha.
A vendedora de quentinha Ana Paula Mendes Carvalho, 45, também se afunda em dívidas pela falta do repasse.
– São dois meses atrasados de pensão. Antes, descontava automaticamente e só repassava entre 20 e 25 dias depois. Falei que iria denunciar meu ex-marido, mas ele me mostrou o contracheque descontado automaticamente. Com isso, minhas contas estão atrasadas. Estou toda endividada porque pego dinheiro emprestado para pagar. Isso está causando um transtorno imenso na minha vida. O colégio do meu filho de 12 anos está atrasado – reclama.
O estado é tão degradante que a professora Denize Alvarenga organizou uma ‘vaquinha’ pela internet para arrecadar R$ 5 mil. O objetivo é distribuir o dinheiro arrecadado para os servidores necessitados. O site, criado no último dia primeiro, estará no ar até o próximo dia 20. Já foram arrecadados R$ 1.100 até a tarde de ontem. O link é https://www.vakinha.com.br/vaquinha/ajuda-urgente-aos-servidores-de-cabo-frio.
– A vaquinha foi pela necessidade de dinheiro para pagar aluguel, luz... Servidores vinham falar comigo chorando, todos tensos. É humilhante, degradante. Sinto-me consternada. Tenho outras fontes de renda. Sou servidora do Estado e ainda tenho como não passar fome – disse.
A auxiliar de serviços gerais, Tania Felício da Silva, 52, está com os aluguéis de outubro e novembro pendentes.
– Tenho dois aluguéis atrasados e contas para pagar. Se estivesse em Cabo Frio, estaria passando fome como outros servidores. O dono da casa em que moro está precisando de dinheiro e eu sempre tenho que dar uma desculpa. Não sei mais o que fazer para acabar com isso. Estou na casa do meu marido, no Rio. Sábado conversarei com o proprietário para saber como vão ficar os próximos meses, porque o prefeito cortou ponto de quem é grevista. Tenho chorado o tempo todo, estou depressiva. Sou funcionária há 16 anos e nunca fiquei desse jeito – lamenta a funcionária, aos prantos no telefone.
A Folha dos Lagos entrou em contato com a Prefeitura de Cabo Frio, mas não obteve as respostas até o fechamento desta edição.