O prédio que abriga a Câmara Municipal de Cabo Frio, na Avenida Nossa Senhora Assunção, é um endereço conhecido da população, atualmente impedida de frequentar a 'Casa do Povo' por causa da pandemia de Covid-19. Palco de discursos e decisões que impactaram diretamente na história do município, o imóvel hoje tem a segurança sanitária questionada para abrigar as sessões legislativas, mas guarda em suas paredes as memórias de uma parcela considerável da vida pública da cidade.
A história legislativa de Cabo Frio data de 1615 quando as sessões da Câmara eram realizadas na casa de seus integrantes. O primeiro prédio da Câmara Municipal de Cabo Frio foi erguido entre 1660 e 1662, na antiga Rua Direita, atual Érico Coelho, uma casa de dois pavimentos. O atual prédio, na Avenida Assunção, só entra na história, a partir de 1873, quando o imóvel foi comprado.
O professor e historiador José Francisco de Moura atestou a importância do prédio para a trajetória de Cabo Frio. Segundo ele, o local não recebeu apenas as atividades legislativas.
– Aquele prédio foi fundamental para a história da cidade porque ele também abrigou a Prefeitura. Num determinado momento, ele foi a Prefeitura, a Câmara Municipal e atrás dele, a cadeia pública. Num setor de pátio, ficavam os animais apreendidos na cidade, que ficavam soltos. Esse prédio se tornou da Câmara e da Prefeitura, no início do século 20. Tenho uma foto de uma reunião, na década de 1910, em que tinha atrás a foto do Quintino Bocayuva, que era o governador. E uma foto de quando o avô de Hilton Massa [Francisco Ribeiro Massa] foi prefeito, em 1928 – afirma o professor Chicão, um dos autores do livro ‘História de Cabo Frio – dos sambaquieiros aos cabo-frienses (c. 3.720 a. C. – 2020)’, da Sophia Editora.
Antes do desenvolvimento urbano de Cabo Frio, não havia o arruamento da cidade e, em algumas imagens, segundo o historiador, é possível ver a atual Avenida Nilo Peçanha, ainda em terra batida, com tráfego apenas de pessoas e cavalos.
No detalhe, matéria da Folha sobre a Câmara, de março de 1991
Histórias de assombrações habitam imaginário popular
Essa é do fundo do baú. Em 14 de março de 1991, a Folha publicou reportagem sobre fantasmas na Câmara de Cabo Frio. Calma. Antes que alguém se engane, não foi uma denúncia sobre ‘gasparzinhos’ que recebiam sem bater ponto. O texto assinado pela jornalista Lourdes Mano narrou os causos de assombração no prédio, que, inclusive, já serviu de cadeia. As histórias assustavam e tomavam o imaginário de servidores e visitantes. Tinha até funcionário que, após o expediente, saía correndo de medo pra não ter de ficar sozinho no local de trabalho. É mole? E aí que, num piscar de olhos, trinta anos se passaram.
De lá para cá, apesar de um possível calafrio ou outro, o trabalho do Legislativo cabo-friense prossegue sem notícias de relevantes episódios sobrenaturais. Mistério dos grandes continua sendo o seguinte: por que, a cada legislatura, a Câmara renova seu nada nobre título de Casa do Silêncio? É que, quando se fala em transparência, sempre tem vereador tremendo todo e até se banhando com água benta.
– Questão de ordem!