O impasse envolvendo a transferência do Ensino Médio da rede municipal de Cabo Frio para o Estado ainda renderá alguns capítulos, o próximo deles marcado para hoje, às 14h, no auditório da Prefeitura. Caso ela seja inevitável, os alunos que migrarem para as unidades estaduais encontrarão uma realidade que se não chega a ser caótica, como muitas vezes é divulgada, está comprometida pela falta de investimentos e, sobretudo, de manutenção por parte do Governo Estadual.
A reportagem esteve ontem no maior colégio estadual da região, o Miguel Couto, que fica a cerca de 500 metros do Rui Barbosa, símbolo maior da resistência pela manutenção do antigo 2º grau no município. De localização privilegiada, a unidade conta com uma grande estrutura composta por 25 salas, incluindo laboratórios, auditório e até um clube de Ciências, mas nitidamente mostra sinais de que sofre com a ação do tempo e dos vândalos e com a falta de ações do poder público. O mato está alto em alguns pontos e a quadra poliesportiva carece de reparos no piso e nas tabelas. Nos corredores, alguns vidros estão quebrados e em um dos banheiros, falta a cuba da pia. Em algumas salas de aula, janelas foram depredadas. Apesar dos problemas, a reportagem viu auxiliares de serviços gerais atuando e ambiente limpo.
Sem a autorização da Secretaria Estadual de Educação, a diretoria não pode falar oficialmente, mas segundo a Folha apurou, estudam atualmente na unidade 1.420 alunos, a maior parte deles (800) no turno da manhã. Com isso, algumas turmas estão inchadas, com aproximadamente 40 alunos por sala, enquanto admite-se que o ideal seriam, no máximo, 35. A situação é mais amena nos demais horários, mas o problema tende a se agravar com a chegada de novos estudantes e de oriundos de escolas que poderão acabar com o Ensino Médio. Apesar disso, uma funcionária que pediu para não ser identificada afirma que o colégio suportará a demanda.
– A estrutura não é a ideal, mas também não está sucateada. Precisa de manutenção. Se vierem (os novos alunos), claro que vai ter mais gente comendo, demanda mais estrutura, mas a gente espera que o Estado também aumente os repasses – diz.
Enquanto a situação do município não se define nem a verba chega, a nova diretoria que assumiu há cerca de um mês tenta superar transtornos e se mobiliza para realizar eventos culturais e esportivos. Algumas salas estão sendo organizadas para virarem novos laboratórios e oficinas. Enfim, uma verdadeira retomada para recuperar o tempo perdido, depois que a unidade perdeu dez turmas e chegou a ficar meses parada e ocupada por alunos durante a greve do magistério no ano passado. Seja qual for o destino do Miguel, ele está inapelavelmente ligado aos adolescentes que a ele dão vida.
– Os alunos não ajudam. Deveriam ajudar para evoluir. Deveriam conservar para a gente perder o que tem – observa Stephanie Palmer, de 17 anos, aluna do 3ª ano.
Merendeiras terceirizadas ameaçam fazer greve
Apenas a dedicação e o medo de ter o salário descontado fazem as merendeiras do Miguel Couto continuarem a trabalhar, mesmo prestes a ficar com três meses de salários atrasados. Mas o trabalho ‘no amor’ tem data para acabar. Caso a Masan, terceirizada responsável, não cumpra o prometido e pague até o dia 30, haverá paralisação por tempo indeterminado na cozinha do Miguel e escolas da rede estadual.
As merendeiras já fizeram duas paralisações de advertência de 24 horas, a última delas na segunda. Um ato na Porto Rocha chegou a ser realizado para cobrar a dívida. Uma funcionária que pediu anonimato disse que só conseguiram um prazo depois de muita pressão, uma vez que mal recebiam explicações pelo atraso, atribuído à crise do Estado. A própria posição oficial da empresa reforça isso.
Em nota, a empresa disse que “com o agravamento da crise pela qual passa o poder público, onde se concentra a maior parte dos clientes da Masan, a empresa tem envidado todos os esfor- ços no sentido de cumprir com suas obrigações, contudo, depende neste momento, do recebimento dos débitos contratuais a fim de obter os recursos necessários para a regularização do pagamento de seus colaboradores”.