O desassoreamento do Canal do Itajuru mudou a realidade da pesca na Lagoa de Araruama. Pelo menos é o que afirmam os pescadores de Iguaba Grande. Segundo eles, a pesca vive “dias de glória” com a medida, que começou a ser tomada há um ano. O projeto de desassoreamento e recuperação ambiental da lagoa de Araruama é uma parceria da Prefeitura de Iguaba Grande com a Agência Nacional das Águas (ANA) e conta com a anuência do Instituto Estadual do Ambiente (INEA) e do Consórcio Intermunicipal Lagos São João. O objetivo foi melhorar a renovação das águas da lagoa, auxiliando na despoluição das praias de Iguaba Grande.
Diariamente, cerca de uma tonelada de peixe é pescada na Lagoa – fato até então desconhecido por eles. A Colônia de Pescadores Z29 mantém uma atividade pesqueira que gera emprego e renda para mais de 120 pescadores cadastrados na Secretaria Municipal de Agricultura e Pesca.
Os pescadores afirmam estar vivendo uma das melhores épocas da lagoa. Segundo eles, essa era uma realidade muito diferente antes da dragagem do canal do Itajurú, iniciada em março de 2016. De acordo com Cícero Vanderley Neto, presidente da colônia de pescadores, antes da dragagem a média diária pescada na lagoa era de 200 quilos de peixe.
– Além da baixa quantidade, os peixes eram pequenos, não dava para o pescador se sustentar, o que levou muitos abandonarem a pesca e procurar outros trabalhos – relatou o presidente.
Além da dragagem do Itajuru, a prefeitura de Iguaba Grande instituiu, no período do defeso, um auxílio no valor de um salário mínimo para todos os pescadores cadastrados. Esse período, de 1 de agosto a 31 de outubro, é estabelecido de acordo com a época em que os peixes se reproduzem. Segundo Cícero, fornecer gelo aos pescadores foi outra iniciativa da prefeitura de importância para a atividade.
– Os pescadores tinham que comprar gelo para levarem nos barcos. Isso encarecia o pescado. E, se um barco sai sem gelo para armazenar os peixes, eles chegam aqui com uma qualidade inferior ou, dependendo do calor, até estragados – disse.
Jaldir Batista de Araújo, que pesca na lagoa desde 1989, estava orgulhoso do resultado da pescaria.
– Trabalho aqui há 28 anos. Nunca havia pescado uma tainha de três quilos aqui na lagoa – confessou o pescador, mostrando o peixe que costuma pesar entre 1 e 2 quilos.
Além da tainha e do carapeba, tradicionalmente pescados na lagoa, após a dragagem do canal e da proibição da pesca no período de defeso, os pescadores passaram a encontrar saúba, robalo e corvina.
A atividade pesqueira é a única fonte de renda para a maioria dos pescadores cadastrados. É o caso de Arnilo Gomes do Nascimento, o pescador mais antigo da colônia.
– Estou aqui há 42 anos. Passamos épocas bem difíceis, onde tive que trabalhar em obra, furando poço, ou qualquer serviço que aparecesse. Eu e muitos outros pescadores tivemos que abandonar o barco. Agora, nós podemos voltar a viver de pesca – conta o pescador de 59 anos, também conhecido como “vovô”.
Os peixes da lagoa não abastecem apenas peixarias e supermercados da região: qualquer pessoa pode ir à Casa do Pescador e comprar, em qualquer quantidade. É o caso de Dona Glória Pires, que costuma caminhar pela manhã e aproveitar para comprar o peixe que estará na mesa do almoço.
– Prefiro comprar aqui, o peixe é fresco, a qualidade é boa – afirmou a dona de casa, que prefere preparar a Tainha frita ou ensopada.
Outras atividades
na Colônia
Outras pessoas também vivem do que se pesca na Lagoa de Araruama, mas não necessariamente saem nos barcos para pescar, como José Inácio Pereira, o Zezinho, de 69 anos, que há 30 anos chega diariamente à Colônia de Pescadores por volta de 6h da manhã, e tem como atividade limpar o peixe para quem compra em pouca quantidade.
– Tem muita gente que gosta de comer o peixe, mas não tem paciência de limpar. Eu chego a limpar 50 quilos por dia – contou Zezinho, que cobra R$ 2 por cada quilo de peixe limpado.
A Colônia Z29 fica junto à Casa do Pescador, na Avenida Amaral Peixoto, Km 97, próximo ao BPRV, em Iguaba Grande. Para comprar o peixe direto do pescador, os interessados devem chegar à Colônia entre 6h e 8h. O preço do pescado pode variar entre R$8 e R$ 10 o quilo.