Milhares de peixes da espécie peroá amanheceram mortos ao longo de mais ou menos dois quilômetros nas areias da Praia do Forte. Da Praça dos Quiosques até a altura do Braga, o que se via era um tapete de peixes mortos, urubus e gaivotas. E pessoas indignadas. Foi o caso do jornalista Juliano Medeiros. De férias em Cabo Frio, Juliano ficou impressionado com o que viu.
– Vi turistas se perguntando se não seria um problema na água. Muito triste ver isso na praia que é símbolo de Cabo Frio. Fiquei me perguntando o que teria causado tantos peixes mortos. Seja o que for, é preciso que as autoridades apurem e punam os responsáveis. Cabo Frio, que já sofre com a má administração atual, não merecia essa cena tão triste no seu cartão-postal – declarou o jornalista.
Segundo o secretário do Ambiente da cidade, Jailton Dias Nogueira, a mortandade é consequência de descarte por alguma traineira.
– Eles são uns bandidos, descartam à noite porque sabem que é crime. O Inea e o Ibama são omissos, a área é de responsabilidade deles – acusa Jailton.
O presidente da Colônia de Pescadores Z4, Alexandre Martins, credita o fato ao descarte de traineiras também. Mas para ele, não existe a intenção de pegar esses peixes de tamanho menor e sem valor comercial. As traineiras, que na sua maioria são de lugares como Santos, Itajaí e do próprio Rio e Janeiro, estão em busca das sardinhas, que nesta época aparecem em abundância.
– O descarte é feito sem escolher. Se tivéssemos uma cooperativa, poderíamos beneficiar esse peixe. O que me deixa muito triste é ver essas embarcações de 80 toneladas pescando na nossa costa. Os pescadores artesanais chegam desanimar de ir pro mar e encontrar essas traineiras já equipadas com sonares, é desigual – lamenta.
Alexandre Martins explica que o plano de manejo da Apa Pau Brasil prevê a proibição das traineiras nesta área. Mas a implantação da Apa estaria parada há oito meses. Segundo ele, a desculpa para tanta demora é a falta de recursos.
– Há oito meses não sentamos para conversar. A única parte que falta discutir é a do mergulho. Enquanto isso não for feito, enquanto a Apa não for aprovada, estas traineiras podem pescar ali. A pesca está esquecida por todos os governos: municipal, estadual e federal – concluiu.
A superintendente regional do Inea, Márcia Simões, nega que haja imobilidade. Ela informou que uma equipe foi até a praia para verificar a mortandade. Segundo Márcia, era uma faixa de 500 metros de peixes mortos e são todos provenientes de descarte, que aconteceu de madrugada. Quanto a implantação da Apa Pau Brasil e o plano de manejo, a superintendente informa que diversas etapas foram cumpridas e agora o mesmo está na Diretoria de Biodiversidade do Inea.
– O material colhido, as propostas foram enviadas para esta diretoria que vai dar o parecer técnico. Estamos fazendo um esforço para que resolva o quanto antes, mas o processo é moroso por si só, tem várias fases até chegar à final, que é quando será encaminhado ao para decisão do governador – finalizou Márcia Simões.
Nas redes sociais o fato causou indignação de moradores da cidade. Até o fechamento desta matéria, o assunto já havia sido compartilhado 272 vezes – todos em tom de lamentação.
Defeso da Sardinha – o defeso começa no próximo dia 1° de novembro e segue até 15 de fevereiro.