Caminhar pela orla da Praia do Forte, considerada um dos principais cartões-postais de Cabo Frio, é como desfilar em meio ao que a cidade tem de melhor e de pior hoje em dia. O período de férias aumenta o movimento à beira-mar e expõe ainda mais o contraste entre as belezas naturais e o estado de abandono daquilo que foi projetado pelo homem. O fato é acentuado pela alegada crise financeira do município.
Para os turistas nada passa batido. Se o mar azul e as areias brancas seduzem o olhar, os problemas também não são ignorados. A família de Deubert Pimentel, 46, de Vitória (ES), repete em Cabo Frio o passeio feito há alguns anos. A diferença saltou aos olhos dos capixabas. Antes novo em folha, o complexo calçadão-Praça das Águas apresenta as marcas do tempo e da falta de conservação.
– A praça tá meio abandonada, mas a cidade é muito bonita – resume o contador, com a aprovação da mulher, a cabelereira Andréia Matos, 47.
A distração com os encantos cabofrienses pode resultar em acidentes se o visitante não tomar cuidado com, por exemplo, um dos desníveis nas tábuas que compõem o deque de madeira do calçadão. Completam o cenário caixas com fiação elétrica exposta e lixeiras completamente enferrujadas, como visto na milionária Praça das Águas, inaugurada em 2013 a um custo de R$ 13 milhões.
– Quando foi inaugurada era a mais linda praça de Cabo Frio, mas não teve manutenção – lamenta o montador de móveis desempregado Wagner Conceição, 22.
A mulher dele, a também desempregada Natasha Porto, 36, não perdoou a deterioração do local. Dizendo estar de partida para o Rio atrás de trabalho, ela, no entanto, mostrou certa esperança em melhorias.
– É um patrimônio turístico que está jogado às traças, abandonado. Foi feito apenas para superfaturamento. Mas quando eu voltar, espero que esteja tudo lindo – disse, no melhor estilo ‘morde e assopra’.
Alheios aos problemas, a trinca de turistas dedicava-se às selfies e às fotos de paisagens. Apesar das ressalvas ao ‘pouco de lixo’ encontrado nas Dunas, a estudante catarinense Manoela Mendes, 17, não demonstrou decepção com o que viu.
– É exatamente como eu pesquisei na internet – disse a jovem.
Praça das Águas vira Praça Seca
Não se trata do bairro carioca da Zona Oeste, mas a Praça das Águas, que logo após a inauguração, em 2013, tornou-se um importante atrativo turístico, hoje não passa de uma ‘Praça Seca’. Desativada desde março por causa de rachaduras que geravam gastos de R$ 92 mil mensais com as contas de água, a antes chamativa fonte luminosa hoje mais parece uma pista improvisada de skate. Quando muito, serve de atalho para algumas pessoas que saem da praia em direção ao Centro. Enquanto esteve no local, a reportagem da Folha flagrou diversas pessoas fazendo o local de passagem ainda que haja uma ponte para fazer o percurso.
Em vez dos peixes que faziam a alegria da criançada, o que há são muitos copos plásticos e lixo acumulado em montes. O cenário decepcionou o garoto Thiago Carbone, 13, filho do casal Edvan Souza, 34, e Elizangela Carbone, 29.
– Isso aqui quando foi inaugurado era muito bonito, mas está largado. O povo rouba mais do que faz – dispara a cabelereira.
Em nota, a Prefeitura informou que, “por conta da necessidade de pagar salários atrasados pela gestão anterior, ainda não está em condições de realizar grandes obras na cidade, o que inclui a Praça das Águas, onde, no início deste ano, foram encontradas rachaduras que estavam provocando o vazamento da água ali depositada. Por conta destes vazamentos, foi detectado que a média do gasto mensal com contas de água apenas na Praça das Águas foi de R$ 92 mil por mês nos últimos cinco meses de 2016”.
Segundo a gestão municipal, o valor foi considerado ‘excessivamente alto’, o que determinou o fechamento da passagem de água até que providências definitivas possam ser tomadas. O texto diz também que “essas contas de água, que não foram pagas pela gestão anterior, fizeram parte da dívida deixada com a Prolagos de R$ 15 milhões, que foi renegociada pelo atual governo. A renegociação está com os pagamentos em dia. A Prefeitura reitera ainda que prioriza neste momento o pagamento dos salários dos servidores, dos salários deixados pela gestão anterior e a manutenção dos serviços essenciais”.
Sobre os demais problemas citados na reportagem acima, a prefeitura afirma que equipes irão ao local nos próximos dias para efetuar os reparos necessários.
(*) Leia a matéria completa na edição da Folha dos Lagos desta quinta-feira.