Sob o caixão, bandeiras da Ordem dos Advogados do Brasil e do Rio de Janeiro, instituições pelas quais o promotor de Justiça Sebastião Fador Sampaio lutou em toda carreira. Na tarde de ontem, quando seu corpo foi sepultado, parentes, colegas de trabalho e amigos seguiram da capela em direção ao Cemitério Santa Izabel cantando um hino religioso e não faltaram elogios ao caráter e à trajetória do advogado.
– Quando ele veio para cá, foi a segunda promotoria dele. Veio para Cabo Frio recém-formado, mas era um advogado criminal de primeira. Ficou mais de vinte anos aqui. Antes, ele tinha um cliente em Rio Bonito. Quando assumiu a Promotoria, ele prendeu o delegado e o ex-cliente – lembra o amigo e também advogado Paulo Badhu, fazendo alusão ao caráter implacável de Fador, que não resistiu a um câncer, aos 73.
Fador Sampaio era um dos profissionais de Direito mais conceituados na cidade. Sua fama no município era de um promotor linha-dura que desmantelava casas de prostituição e jogo do bicho.
Mas, sem sombra de dúvidas, o caso de mais relevância da carreira do promotor foi o Doca Street. O processo, que correu no fim dos anos 70, resultou na prisão de Raul Fernando do Amaral Street, que matou a tiros a atriz Ângela Diniz na Praia dos Ossos, em Búzios, então distrito de Cabo Frio. O assassinato aconteceu em 30 de dezembro de 1976.
– Esse caso teve repercussão no mundo inteiro. A imprensa internacional veio para Cabo Frio: jornalistas da Inglaterra, da Alemanha estavam aqui para cobrir os dois julgamentos. Fomos adversários nesse caso, mas também fomos amigos desde que ele chegou aqui. Nos conhecíamos como bons advogados que éramos – rememora Paulo Badhu.
O subtenente da Polícia Militar Mauro Bernardo trabalhou como segurança dos filhos do promotor. O policial ressalta a coragem de Fador.
– Conheci Fador quando eu era soldado. Ele combatia muito o jogo de bicho, casa de prostituição, carteado, esses negócios. Ameaçavam muito ele e a família. Eu também combatia muito essas coisas. O Fador viu meu serviço e começamos nossa amizade. Ele pediu para que fizesse a segurança dos filhos dele, que hoje estão com 40 anos. Quando ele descobria um ponto de bicho, uma casa de prostituição, me chamava e íamos nós. Prendíamos todo mundo, fechávamos as casas. Ele era conhecido como o promotor operacional, porque era o único que saía para prender. Era corajoso e incorruptível – relembra Bernardo.
A lembrança do advogado Carlos Magno de Carvalho é a de um homem que recusou benefícios em prol do seu trabalho.
– Era uma pessoa correta e que, como Promotor de Justiça, contribuiu muito para o município. Gostava tanto da cidade que abriu mão de promoções para aqui continuar exercendo seu serviço.