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Adriano Moreno

‘Nunca participei de negociata, nem tive benesses’

Adriano Moreno, candidato a prefeito de Cabo Frio, fala à Folha dos Lagos

12 setembro 2016 - 19h38
‘Nunca participei de negociata, nem tive benesses’

Médico e vereador, Adriano Moreno afirma ter se tornado persona non grata no atual governo por não ter votado matérias de interesse da administração Alair Corrêa (PP). Eleito para seu primeiro mandato em 2012 pelo mesmo partido do prefeito com 1.859 votos, ele migrou para a Rede, de Marina Silva, para concorrer à Prefeitura. Adriano nega também ter tido as 108 portarias que Alair, este ano, o acusou de ter negociado junto ao governo: “Nunca participei de negociata, nem tive benesses”, garante.


Folha dos Lagos – Por que quer ser prefeito de Cabo Frio?
Adriano Moreno – Eu não tenho sonho de ser prefeito assim como não tive sonho de ser vereador. Não vejo Prefeitura ou vereança como profissão. Meu sonho eu consegui realizar: o de ser médico. Eu tenho hoje uma missão de quebrar um modelo político nefasto que se mostrou falido para esse município. Um modelo político que foi implantado nos últimos anos. Vou um pouquinho mais além: nos últimos 20 anos.


Um modelo que não trouxe desenvolvimento nenhum, que não capacitou nossos jovens a não ter nenhum tipo de profissão. Um modelo que vem hoje a sucatear a cidade, a levar nossa população a uma dependência do poder público absurda. Um modelo que incentiva o assistencialismo danoso, que não traz independência para as pessoas. Numa reunião passada, eu me reportei ao passado e falei que a gente vive quase uma escravidão. Só que dessa vez os nossos algozes não usam chicote. Eles usam o poder econômico para deixar a população sempre submissa. Uma população que não tem voz ativa pra nada, porque ela é dependente do poder público. Ela, quando se levanta para questionar, cobrar alguma coisa, a primeira ameaça que ela recebe é perder um emprego. Eu tenho uma missão, eu tenho que quebrar isso. Não vou ser omisso nem covarde.


Folha – Você é crítico da administração Alair Corrêa, mas ele chegou a dizer que você teve 108 portarias na Prefeitura. Não é uma contradição criticar o governo do qual participou?
Adriano – Primeiramente, eu posso ser categórico: não participei de nada disso. Isso foi uma tentativa desesperada de me atacar. Mas eu vou esclarecer o que aconteceu. No dia primeiro de janeiro, tomei posse e, a partir dali, começou todo o calvário, todo sofrimento, pois eu comecei a bater de frente com as mensagens que chegavam, que a meu ver eram mensagens que não iam trazer desenvolvimento, nem trazer benefícios para população. E começou aqueles embates. “Isso aqui eu não voto, isso aqui eu não vou votar”. Até que culminou com a votação da reeleição do Marcello [Corrêa, vereador e filho do prefeito]. Para que ele fosse reeleito presidente da Câmara, precisava-se mudar o Regimento da Câmara Municipal, pois o mandato é um biênio. Eu fui o único que votou contra a mudança do regimento e contra a reeleição do Marcello.


Então, voltando à pergunta que você me fez com relação às portarias... Eu nunca tive portarias. Em dezembro de 2012, com o prefeito Alair Corrêa já eleito, eu fui convidado na Secretaria de Saúde pelo doutor Demócrito, que era secretário, e o Demerval, que era secretário-adjunto. Eles me chamaram e disseram que era preciso montar um grupo, porque tinha saído todo mundo. Eu falei que podia ajudar e eles pediram para indicar umas pessoas para trabalhar na Saúde. Indiquei o Carlos Alberto Barrozo, pra ajudar o Demócrito, que tem oitenta e poucos anos. O Carlos Aberto é administrador, tem experiência de administrar o Santa Helena. “Essa enfermeira aqui tem curso em neonatologia, que cuida de criança recém-nascida prematura”. Indiquei alguns enfermeiros, fisioterapeutas. Várias pessoas na área da Saúde. E elas foram contratadas pela Prefeitura. A portaria é um contrato legal, um dispositivo para diminuir o trâmite burocrático e contratar em caráter emergencial. Pois bem, na primeira crise da queda de arrecadação, todos foram mandados embora. Mas quando eu falo todos, nunca nem chegou perto de 100, quanto mais 108 ou 118 como foi falado. Foi em torno de umas 38, 37 pessoas e foram mandadas embora. Aí teve a votação do empréstimo. A partir desse momento, de eu ter votado contra, ter me colocado contra, eu comecei a virar persona non grata. Mas, se em algum momento eles pensaram que eu ia ser submisso, subalterno deles, eles se enganaram enormemente.


Folha – Então, você afirma que as indicações que você fez ao governo não foram de caráter ‘toma lá, dá cá’?
Adriano – Nunca participei de negociata, nem tive benesses na Prefeitura. Eu botei mais de 100 projetos de lei na Câmara, todos eles de relevância para a cidade.


Folha – E o que aconteceu com esses projetos?
Adriano – Foram votados por unanimidade na Câmara. Num deles, eu mudei a legislação desse município para Cabo Frio entrar no programa ‘Minha Casa, Minha Vida’, que hoje está sendo construída devagar lá no começo da Estrada da Integração. E tive que brigar com todo mundo, porque ninguém queria. Porque Cabo Frio tinha de desapropriar ou comprar uma área grande que desse pra construir 1.800 casas. Vocês imaginam as brigas que eu tive com meus nobres colegas edis porque, para desapropriar, envolve o financeiro. Quando fala em financeiro, alvoroça a política. E aí são aprovados e o prefeito não bota em prática. A minha passagem por essa Câmara foi sofrida. Com 53 anos, eu nunca tive um inimigo. Depois que eu entrei na vida pública, eu tenho um monte. Até ameaça eu já sofri. Sacrifiquei a minha família. Na vida pública eu só tive desilusão e aborrecimento. Mas eu vou repetir: vou quebrar esse modelo miserável que está aqui.


Folha – Quase todos os candidatos falam que vão mudar esse modelo. Você acha que eles podem mudar alguma coisa? E como falar em mudança tendo como vice uma ex-secretária do governo, casada com o líder do governo na Câmara?
Adriano – Se eu acreditasse em algum deles eu não viria candidato. Se tivesse algum candidato que parecesse comigo, eu teria largado a minha candidatura e apoiado ele. Com relação à minha vice, sou médico há 20 anos no PAM de Cabo Frio. Acompanhei ao lado dela todo o trabalho feito na Secretaria da Melhor Idade, sem recurso nenhum.


Falo com conhecimento de causa, pois a maioria dos meus pacientes são idosos e precisavam de um acolhimento para fazer tratamento fisioterápico. Quando passavam pela secretaria, isso me seria de termômetro. Os pacientes voltavam com discurso de que se sentiam melhor. Querer vincular a Cristiane a esse modelo miserável que foi implantado em Cabo Frio para me denegrir é uma tentativa muito simplista. A Cristiane é uma pessoa que se mostrou amorosa, caridosa, responsável e competente. Ela ser casada com um vereador não a desabona em nada. As pessoas têm mania de generalizar. Cada ser humano é autônomo, tem sua própria personalidade. Mas querem me jogar alguma mancha. Se é pra isso, vamos pensar no vice dos outros, na história política dos outros candidatos, mas não é pra isso que eu venho. Eu não vim pra atacar, porque tenho certeza que a consciência de cada um fala mais alto. Cada um sabe o que fez de certo ou de errado, mas não sou eu que vou julgar.


Folha – Temos visto nesta eleição dois tipos de candidatos: os carreiristas e os que nunca tiveram mandato, ou tiveram apenas um, como seu caso. O que te difere dos demais?
Adriano – Eu acredito no ser humano. Acho que todo mundo é bom até provar o contrário. As pessoas falam que eu tenho que pensar o contrário. Eu não tenho contato com o Carlão, não o conhecia. Nosso contato foi muito pequeno. Cláudio Leitão eu conheço há muitos anos. Ele era representante de um laboratório e nós ficamos amigos. Quando ele se lançou na vida pública, fiquei muito feliz, pois sempre se mostrou uma pessoa muito determinada e com propostas, embora o PSOL seja um partido que tem uma linha individual. Gostaria de tê-lo ao meu lado, não há nada que o desabone. Sobre a experiência, eu posso dizer que ela é importante em todos os lugares, menos na vida pública.


Posso listar mais de mil políticos experientes e todos estão envolvidos em maracutaia. Todos estão envolvidos nessas operações Lava Jato, Zelotes... Isso mostra que a experiência na política não tem trazido nada de bom, pelo contrário, tem aperfeiçoado o lado mais criminoso do ser humano.

Folha – Você sempre foi um crítico da dependência dos royalties, que caíram brutalmente. Nesse contexto, qual a sua posição sobre o PCCR?


Adriano – O plano de cargos e salários foi uma grande conquista do servidor. Eu sou servidor. Antes do PCCR, eu ganhava menos de R$ 1.000. Hoje ganho quase R$ 4.000. Houve um ganho substancial. Eu votei a favor do plano. A pergunta que não quer calar é como manter esse plano com a queda na arrecadação. Eu não vejo por esses olhos. Acredito que máquina pública foi inchada de modo leviano e, quando caiu a arrecadação chegamos, à atual situação de não conseguir pagar o funcionalismo público.


Folha – O que fazer de imediato para resolver o rombo?
Adriano – Meu governo vai ser técnico. Não cabe mais achismo e amadorismo na Prefeitura. Eu quero e vou ter ao meu lado o Ministério Público. Enquanto a maioria dos governos quer vê-lo longe com uma cruz para espantar, eu o quero ao meu lado, me dando todo o suporte legal para combater o malfeitor. Se você tiver uma parceria limpa e transparente com o MP, vai inibir mais de 80% das pessoas mal intencionadas, que querem apenas se locupletar, pode ter certeza disso.


Folha – Vai enxugar o número de secretarias?
Adriano – No meu plano de governo tenho 16 secretarias e seis coordenadorias. Tenho que enxugar a máquina pública, porque eu preciso botar a máquina para andar e pagar o funcionalismo público. Vou tomar medidas a curto, médio e longo prazo. A curto, vejo nossa vocação natural, o Turismo, como a grande boia de salvação. A médio e longo prazo, trazer empresas e indústrias limpas para gerar empregos e capacitação dos jovens.


Folha – Você vai pagar as dívidas deixadas pelo governo?
Adriano – A gente não sabe a situação real da Prefeitura, mas a princípio vamos fazer auditoria para levantar as dívidas desse governo trágico. Acredito que as pessoas vão ficar sem dois salários, sem 13º, em torno de R$ 250 milhões de déficit. Com relação aos prestadores de serviço, vamos levantar todos e aqueles que exerceram sua função merecem receber. Já os que se locupletaram, fingiram que trabalharam e usurparam o erário público podem ter a certeza absoluta que não vão receber um tostão.


Folha – Passada a eleição, o empréstimo é uma opção em um eventual governo?
Adriano – Em princípio, não. Até porque eu votei contra o empréstimo. Penso que a gente precisa enxugar essa máquina e fomentar o turismo. Tenho cinco prioridades. A primeira é incrementar o turismo de negócios, pois há 20 anos ouço dizer que vão construir o Centro de Convenções. Esse centro de Convenções tem que existir pra ontem. Precisamos investir no turismo histórico, temos a sétima cidade mais antiga do Brasil e vários pontos históricos, como Forte São Mateus e Convento, mas nada disso é explorado de modo inteligente.


Precisamos investir no turismo ecológico, temos a Boca da Barra, o Parque da Preguiça. Temos que incrementar também o turismo náutico. Nós temos uma orla imensa, o canal do Itajuru ligando à Lagoa de Araruama. E, para finalizar, o turismo de esporte, trazendo provas de âmbito nacional pra cá. Vamos investir no Festival do Camarão, no Biker Fest, no Festival do Marisco...


Folha – Falando na periferia, quais suas propostas para ela?
Adriano – Vamos reequipar os hospitais; credenciar os hospitais no SUS, pois talvez as pessoas não saibam, mas temos cinco hospitais públicos, mas só o São José Operário é credenciado e recebe verbas do Ministério da Saúde. Os outros, por falta de vontade dos nossos governantes, não recebem repasse do Governo Federal. São considerados postos de saúde. Para o Grande Jardim, temos projetos para melhorar as escolas, refazer as calçadas, melhorar a acessibilidade e reformar e levar esporte às praças. No Segundo Distrito, vamos fazer urbanização, planejamento, reforma nos hospitais, melhoria nas escolas, pagar o funcionário público e fazer um mercado do peixe às margens do rio São João onde o pescador artesanal vai vender o seu produto direto para o consumidor, tirando o atravessador. Queremos fazer ainda um cais e criar um polo gastronômico.


Folha – Quais os planos para a Educação? Você vai manter o ensino médio municipalizado?
Adriano – No nosso governo, a Educação vai abranger a Ciência e a Tecnologia. Não pode ficar desmembrado gerando mais despesa para o governo. Vamos criar o programa ‘Escola nota 10’, um pacto municipal por uma educação de qualidade visando a estabelecer estudos e debates com a sociedade para formatar uma educação de qualidade. Temos que trazer a sociedade para debater. Vamos trabalhar com o tripé Educação-Cultura-Esporte. Queremos implantar a escola em tempo integral. Vamos fazer um estudo sobre o déficit para contratar mais profissionais.


Queremos criar ainda salas de recursos multifuncionais onde as crianças que tiverem algum déficit possam fazer aulas de reforço. Vamos informatizar e melhor equipar as escolas e incentivar o aumento das escolas. Com relação ao Ensino Médio, sabemos que é de responsabilidade do estado, mas isso não impede que o Governo Municipal arque com ele. Temos aqui verdadeiras ilhas de excelência no Ensino Médio, onde temos formado alunos em condições de disputar vestibular e lugar no mercado de trabalho.


Folha – Como reestruturar o sistema de Saúde de Cabo Frio? Você vai reabrir a UPA do Parque Burle?
Adriano – Nossos hospitais estão sucateados, precisamos reaparelhá-los, dando condições de trabalho aos profissionais. Precisamos pagar esses profissionais, comprar os medicamentos que são de obrigação do poder público. Temos que capacitar mais esses profissionais por meio de cursos, investir nas especialidades. Aqui em Cabo Frio poderiam minimizar a dor de pacientes na área de ortopedia porque não somos credenciados pra cirurgias de alta complexidade. As pessoas esperam anos por uma vaga no Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia, que recebe pacientes do Brasil inteiro. Precisamos investir nos ESFs [Estratégias de Saúde da Família] e na saúde preventiva. Se a gente investir na saúde preventiva, vamos diminuir o número de pacientes lá na ponta, que procuram os hospitais infartando ou com outra crise.


A UPA em Cabo Frio é importante, mas teve a filosofia totalmente deturpada. O programa de instalação da UPA visava tirar o congestionamento do pronto-socorro. Mas o prefeito que trouxe a UPA em parceria com o Governo do Estado fechou o pronto-socorro. A UPA é para atender casos de menor gravidade e complexidade. Politraumatizados, atropelados, baleados e esfaqueados têm que ser atendidos no pronto-socorro, com todas as especialidades de emergência e com um centro cirúrgico à disposição na mesma unidade. Isso faz a diferença entre a vida e a morte. A UPA não tem estrutura física para ser pronto-socorro. Em Tamoios, a UPA está toda sucateada, com gente saindo pelo ladrão. Lá tem um teórico hospital porque não atende, opera e interna ninguém. Temos que reestruturar toda essa gestão de saúde e vamos fazer isso com um governo técnico, sem achismo. Temos que acabar com a política na saúde. As pessoas são colocadas por apadrinhamento. Na Câmara, tentei humanizar a marcação de consultas, tentando descentralizar, fazendo com as pessoas marcassem perto das suas casas e não precisem se deslocar de madrugada e ficar numa fila. Vamos acabar com isso, fazer a marcação online ou pelo telefone. Quero diminuir o sofrimento das pessoas.


Folha – É possível sanear o Ibascaf a curto prazo?
Adriano – Esse problema vem se arrastando há mais de 20 anos por incompetência e falta de gestão administrativa. O Ibascaf é uma das áreas que precisamos com técnicos administrando. Ela faz parte das autarquias que viraram cabide de emprego, administrado de modo político, sem o menor compromisso com os vencimentos e a transparência. Hoje o funcionário é descontado todo mês e não tem nenhuma benesse com isso. Precisamos fazer uma auditoria para saber o tamanho do rombo para ter uma proposta concreta em comum acordo com o funcionalismo. Aqui não cabe uma ação unilateral. A situação é tão grave que precisamos achar uma ação em conjunto.


Folha – Quais são suas ideias para a mobilidade urbana?
Adriano – Dentro do nosso plano de governo, temos a secretaria de Segurança Pública, Mobilidade Urbana e Defesa Civil. Vamos enxugar a máquina pública colocando esses três setores em uma única pasta. Nunca se falou em mobilidade urbana nesse município. Na minha passagem pela Câmara, coloquei um projeto para contratação da Coppe [Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pesquisa de Engenharia, da UFRJ] para fazer um estudo sobre esse assunto.


As ruas são estreitas e antigas.  Precisamos fazer um estudo técnico sore mobilidade urbana. Temos como meta  a implantação de ciclovias para facilitar a locomoção das pessoas e com isso promover a saúde, melhorando a capacidade cardiorrespiratória e o condicionamento físico. Conversei com vereadores de Arraial de Cabo no sentido de sensibilizar o governo do estado para colocar uma ciclovia ligando as duas cidades pela orla, o que seria também um atrativo turístico. Além disso, queremos modernizar a Guarda para que ela participe ativamente desse projeto de mobilidade urbana.