Para quem tem WhatsApp, é difícil que a proposta ainda não tenha chegado em forma de corrente. A princípio, ela é sedutora, pois permite, com alguma lábia, conseguir lucro de até oito vezes com um ‘investimento inicial’ relativamente modesto. Nada mal para tempos de crise. Por outro lado, sem qualquer garantia, a mais nova modalidade de pirâmide financeira que circula por grupos de internet na região pode lesar o bolso de quem não consegue atingir as metas estipuladas.
Apelidada de ‘mandala’, a prática tem quatro níveis, sendo oito no primeiro; quatro no segundo, dois no terceiro e uma no ‘centro’. Funciona assim: a pessoa cooptada precisa depositar R$ 125 na conta da quem hoje está no ‘centro’. A roda começa a girar quando as outras sete pessoas do primeiro nível depositam a quantia. A partir daí, o grupo se desmembra e, com a adesão de outras pessoas, os ‘investidores’ vão subindo de nível até chegar ao ‘centro’ e receber R$ 1 mil. Ao chegar no objetivo final, é possível reiniciar o ciclo e aumentar a rede.
No entanto, nada garante que a conta feche. Há risco de calote quando a base, ou seja, o primeiro nível não é fechado e a pirâmide acaba por ruir. Nem sempre o dinheiro aplicado na estrutura mal sucedida é devolvido. Isso depende do grau de confiança entre os participantes, uma vez que não há contratos ou quaisquer outro tipo de documentos.
Embora não tenha se envolvido exatamente na ‘mandala’, a contadora Karoline Andrade, 22, participou recentemente de uma das formas de pirâmide. No caso, ela recebeu uma espécie de comissão de R$ 10 a cada indicação bem-sucedida para que a pessoa convidada baixasse um aplicativo de celular. Apesar de dizer que não ficou receosa ao ceder o número da conta bancária para o administrador, Karoline admite que saiu do grupo assim que recebeu R$ 100 de comissão. Pelo seu raciocínio, caso algo desse errado, o prejuízo seria menor.
– Sempre me mandavam, mas não fazia por ter medo do cadastro. Você coloca o número do CPF e a conta. Até que uma prima minha fez e disse que dava certo. Fiz todo o procedimento e, como teste, baixei para o celular do meu marido. Realmente, entraram os R$ 10 na minha conta. Aí eu falei: o dinheiro entra mesmo, se depois não sai eu não sei. Então falei com meu marido que faria só até ganhar R$ 100, porque se perdesse depois, seria menos complicado do que perder R$ 1 mil, por exemplo – comenta a jovem.
A Polícia Civil realiza uma investigação sob sigilo da nova modalidade da pirâmide. Mas o delegado-titular da 126ª DP (Cabo Frio), Renato Mariano dos Santos, pede que as pessoas que se sentirem lesadas ou que conheçam pessoas que acabaram prejudicadas, que façam um boletim de ocorrência para denunciar a possível fraude ou, ao menos, deem informações que ajudem a desarticular o esquema. O delegado salienta que a prática da pirâmide é um crime contra a economia popular (Lei Nº 1.521, de 26 de dezembro de 1951).
– Toda operação financeira que não seja por instituição regulada pelo Banco Central soa como irregular. E nessa irregularidade pode vir a ser constatado um crime – afirma o delegado.
Para garantir, as autoridades recomendam que o participante arquive documentos como depósitos bancários, e-mails, mensagens de WhatsApp e gravação de conversas.