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Na árvore, uma casa nada aconchegante

Morador de rua improvisa abrigo no Largo Santo Antônio e sonha com emprego e um lar

23 agosto 2019 - 19h20Por Moacir Cabral I Foto: Moacir Cabral
Na árvore, uma casa nada aconchegante

Thiago Antonacci Oliveira, de 29 anos, neto de italianos, evangélico – mas afastado temporariamente da igreja – perdeu a família e amigos, menos a fé e a esperança. Assim como um outro homem que montou improvisado abrigo entre os galhos de uma árvore na orla da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro, conforme noticiou o jornal O Globo, Thiago fez dos galhos de um algodão-da-praia, uma árvore típica de Cabo Frio, o seu lar nada macio e nem aconchegante.

Thiago Antonacci diz sonhar apenas com emprego, casa e família. Ele conta que é fruto de um desajuste familiar. Com a mãe, uma pensionista que mora em Itaguaí, disse não se dar bem, mas não explicou as razões. O pai é chefe de obras em Rio das Ostras, com quem também tem dificuldades de relacionamento. 

Por conta disso, há sete meses está nas ruas, sendo que os últimos seis meses em Cabo Frio, com domicílio no abrigo de uma árvore no Largo Santo Antônio, bem em frente ao prédio dos Correios. Ali, divide o o tempo com Florença, uma cadela de estimação e seus seis filhotes. 

Para sobreviver, vende jujubas e bombons pela cidade. Antonacci contou que, em Rio das Ostras, teve emprego de repositor em um supermercado, mas que, depois disso, “tudo ficou muito difícil”. 

– Meu sonho é ter uma vida como das outras pessoas, com direito a casa, emprego, comida, enfim, uma família – repetiu ele e, ao mesmo tempo, perguntando:

– Será que depois que sair no jornal alguém vai me socorrer?

Thiago Antonacci conta que o lar improvisado foi erguido com madeiras, plásticos, cordas e fios. 

– Dá pra passar legal aqui, apesar do frio e do vento de algumas madrugadas – lembrou ele. 

Mas engana-se quem pensa que Antonacci não tenha bom gosto. Ele dorme abraçado a um edredom e, toda noite, bem ao seu lado, acende um incenso para lhe dar paz e perfumar o ambiente.

Medo – O medo de passar por covardias é a maior preocupação. 

– E já passei quando dormia numa esquina do Itajuru. Um homem alto, enquanto quase dormia, começou a mexer nas minhas coisas procurando por dinheiro.

Contou, ainda, que já testemunhou outras covardias, como um morador de rua sendo agredido por estranhos:
– Bateram nele. Deram um soco na boca. Uma covardia.

Questionada pela reportagem da Folha, a Prefeitura de Cabo Frio disse, por nota, que “desconhece a denúncia e repudia qualquer tipo de violência contra cidadãos, independente da classe social”. Disse ainda que “a superintendência de Proteção Social Especial, ligada à Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, Direitos Humanos e da Mulher faz abordagens sociais permanentes e o município também disponibiliza a Casa de Passagem para acolhimento provisório”.

Por ser evangélico, Thiago Antonacci não se desespera e diz possuir a virtude da coragem para mudar o rumo de vida: 

– Como conhecedor da palavra, me vejo, agora, morando na rua, uma pessoa com necessidade. Preciso de um emprego – suplicou ele, completando:

– Quero ter a oportunidade de ter um lar, o meu grande sonho.