Na porta do verão, estação em que os casos de dengue se multiplicam, os moradores do bairro Manoel Corrêa reclamam dos pneus espalhados à beira da estrada que liga Cabo Frio a Arraial do Cabo. Eles sentem medo dos prováveis focos do mosquito Aedes aegypti em períodos de chuva. Um pouco mais à frente, um campo de futebol, também na beira da estrada, tem as marcações delimitadas por pneus. Quase todos tinham água no interior.
O porteiro de uma pousada próxima aos pneus, Jorge de Jesus, 66, tem medo de contrair uma doença.
– É arriscado. Nós fazemos tratamento aqui na pousada. A Prefeitura vem sempre. Mas pode ser criado um foco de mosquito da dengue lá e chegar até aqui. Não adianta nada o nosso cuidado – desabafa.
As chuvas são a maior preocupação da autônoma Zenilda de Oliveira, 67, que mora no Manoel Corrêa. Ela pediu socorro ao repórter para que os pneus fossem retirados.
– Você não pode fazer um apelo às autoridades? Isso é um absurdo. Estou muito preocupada com essas chuvas de janeiro. Tenho que pedir a Deus para não ficar doente – clama.
A autônoma Dilma Rosa, 67, teme pela saúde das crianças e dos idosos na comunidade. – A gente tem criança pequena em casa e fica com medo. Ouvi na rádio que Cabo Frio está sem médico. Sou idosa. Não posso pegar uma doença dessas. Mas a minha primeira preocupação é com as crianças – afirma.
A assessoria da Secretaria de Saúde informou que uma equipe de vigilância sanitária fará o tratamento com larvicida, mas não recolherá os pneus.
Da dengue à horta
Se a ameaça de larvas do mosquito deixa moradores assustados, um professor de judô resolveu transformar potenciais criadouros do Aedes aegypti em uma horta comunitária. Robson Ferraz, 72, recolhe os pneus espalhados, pinta e coloca terra para a colheita. O resultado, além da prevenção, são alimentos e plantas nativas da região.
O dono da horta aproveita para fazer um alerta para os moradores do Manoel Corrêa.
– Faço minha parte. Mostro a diferença de quem faz coisa boa para quem faz coisa ruim. É um foco de uma doença que pode afetar uma população imensa, que se estende do Braga ao Manoel Corrêa. Todos vão ficar contaminados nesse verão. A Saúde está precária ainda por cima – prevê.
Robson faz questão de ajudar quem precisa de alimentos e até doar mudas para a vizinhança.
– Criei a horta há oito anos. Quando comecei, não tinha nem pneu. Comprei sementes e fiz uma horta para beneficiar a comunidade. Não vendo. O morador, às vezes, quer comer um peixe e não tem um coentro para temperar – conta ele, que colhe tomates, pimentões, pimentas e outros alimentos na horta.