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"EXPERIÊNCIA DE AJUDAR É INCRÍVEL"

Médico cabo-friense que está na Faixa de Gaza fala da experiência de estar próximo à zona de guerra

Voluntário da ONG Médico sem Fronteiras, ortopedista Diogo Fagundes faz cirurgias de emergência em palestinos com sequelas de tiros

22 maio 2021 - 10h00Por Rodrigo Branco

Ao fazerem o famoso ‘juramento de Hipócrates’, durante a formatura, os futuros médicos se comprometem a atuar de forma ética na missão de preservar vidas. Mas alguns não medem esforços para cumprir esse compromisso onde quer que estejam, ainda que em uma área de tensões constantes. O ortopedista cabo-friense Diogo Fagundes, de 35 anos, está há seis semanas na Faixa de Gaza, território palestino que é alvo histórico da vizinha Israel.  

Por razões de segurança, Diogo não informou à Folha qual a sua localização exata, mas disse que não está em situação de perigo, apesar dos ataques israelenses a Gaza, que se intensificaram desde o último dia 10. Diogo está no Oriente Médio como voluntário da organização não-governamental ‘Médicos sem Fronteiras’, para fazer cirurgias em palestinos com sequelas ortopédicas em função dos ataques na fronteira com Israel.

Ele explica que muitos ficaram com diferença de comprimento nas pernas em função de tiros levados. Até o início do conflito entre o exército israelense e os grupos Hamas e Jihad Islâmica, Diogo cumpria uma rotina de quatro cirurgias diárias de segunda à sexta-feira. Com os constantes bombardeios, ele explica, o projeto foi suspenso e os esforços estão concentrados em salvar vidas.

– A experiência de poder ajudar é incrível, mas como o conflito se intensificou, tememos pela própria vida. A destruição das ruas travou o atendimento. Mas, aos poucos, as estradas vão se recuperando e a ordem no hospital se restabelecendo – comentou o médico.

Participando de sua primeira missão internacional, o médico trata de tranquilizar os familiares que moram em Cabo Frio, com quem mantém contato diário, em função da enxurrada de notícias na imprensa sobre o conflito naquela região. Diogo se formou pela Faculdade de Medicina de Teresópolis e atua em consultório particular, mas fala com entusiasmo missionário da experiência humanitária internacional. 

– O que me fez inscrever no programa foi a vontade de ajudar. Fiz minha especialização em um hospital ‘de guerra’ também, no Rio de Janeiro, o Hospital Miguel Couto. Meu desejo sempre foi transcender a ajuda para humanidade, para além da própria medicina – relata.

O fim da missão de Diogo estava previsto para esta quinta-feira, dia 20, mas não há previsão de volta para o Brasil. Tudo depende que haja um cessar fogo na região.

Diogo é cabo-friense e se formou em Medicina em Teresópolis

Entenda o conflito no Oriente Médio

O território palestino da Faixa de Gaza é uma zona de conflito há muitas décadas, por questões geográficas e religiosas. Apesar de não contar com grandes riquezas naturais, Gaza é considerado estratégico para Israel por se tratar de uma extensa área contígua ao Mar Mediterrâneo.

A gota d’água para o atual conflito entre o Exército israelense e os grupos estremistas Hamas e Jihad Islâmica é por causa das ameaças de despejo de famílias palestinas de Sheikh Jarrah, um bairro fora dos muros da Cidade Velha de Jerusalém.

Desde o começo do mês, os bombardeios e ataques se intensificaram, resultando em centenas de mortos e feridos, a maioria do lado palestino. 

O avanço de Israel sobre outros territórios palestinos, como a Cisjordânia e Jerusalém Oriental ocorre há décadas, gerando tensão e ressentimentos de parte a parte. Para o Conselho de Segurança da ONU, os assentamentos israelenses são violações da legislação internacional. Israel alega que as ocupações são por questão de segurança territorial e não uma afronta à soberania da Palestina.

Outro acontecimento que contribuiu para o atual estado de tensão no Oriente Médio foi a violenta repressão de palestinos por parte da polícia israelense durante o Ramadã, incluindo o uso de gás lacrimogênio e de granadas dentro da mesquita de al-Aqsa, o lugar mais sagrado para os muçulmanos depois de Meca e Medina.

Apesar da intermediação internacional, não há previsão de cessar fogo e os bombardeios seguem intensos até o fechamento desta reportagem. 

Região de Gaza é de tensão permanente (Reprodução)

Médicos sem Fronteiras ganhou o Nobel da Paz em 1999

Fundada em 1971, a ONG Médicos sem Fronteiras é uma organização que oferece ajuda médica e humanitária a populações em situações de emergência, em casos como conflitos armados, catástrofes, epidemias, fome e exclusão social. É a maior organização não governamental de ajuda humanitária do mundo, na área da saúde.

O MSF proporciona também ações de longo prazo, na ajuda a refugiados, em casos de conflitos prolongados, instabilidade crônica ou após a ocorrência de catástrofes naturais ou provocadas pela ação humana. A organização foi criada com a ideia de que todas as pessoas têm direito a tratamento médico, e que essa necessidade é mais importante do que as fronteiras nacionais.

Pelo trabalho, a organização ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 1999.